GRÉCIA: Reflexão amarga sobre a votação no parlamento …
Atenas viveu ontem um dia negro da sua longa existência política link. Os acontecimentos recentes alimentam o caos, num clima com muitas características pré-revolucionárias.
O risco de o poder cair na rua nunca foi tão grande. A democracia vale muito mais do que o réquiem orquestrado em Bruxelas durante os últimos 5 meses. A repressão que voltou à praça frontal ao Parlamento grego tem pouco caminho para andar enquanto durar a democracia. Ontem foram os anarquistas que fieis às suas crenças se manifestaram mas ninguém duvida que amanhã serão os apoiantes do Syriza, da Aurora Dourada, etc.
É cada vez mais evidente que a impositiva e alienante estratégia do poder financeiro não se coaduna com uma vivência democrática. A intervenção externa e a humilhação são armas terríveis porque afrontam directamente a dignidade dos povos. E uma vez beliscada a dignidade deixam de existir mecanismos de controlo e de coesão da sociedade.
A Grécia hesita entre estigmas dramáticos: a desilusão, o inconformismo, o repúdio e a submissão. Sob estes pilares nada de positivo, que tenha futuro ou seja duradouro, pode (ou deve) ser construído.
A questão fulcral passou a ser:
- a permanência na zona euro justifica todos estes desmandos?
- a permanência na zona euro justifica todos estes desmandos?
E, ainda, outra:
- no fim desta cavalgada de austeridade o que restará de identidade a este martirizado povo helénico?
- no fim desta cavalgada de austeridade o que restará de identidade a este martirizado povo helénico?
Ontem, soou pela Europa uma versão trágica e suicida dos célebres hinos órficos. Estes falavam do fogo, da prosperidade, da riqueza, da juventude e da beleza. Ontem, segundo a milenar tradição helénica, procedeu-se a uma pungente imolação destes valores, celebrada com o venal erguer dos flutes de champanhe em Berlim, Frankfurt e Nova Iorque.
As insuportáveis odes à pobreza, à miséria, à submissão e à indignidade declamadas (proclamadas) pelos (neo)sacerdotes do capital, sucumbirão – mais rapidamente do que se julga - no altar da Humanidade, antro comum de todos os povos.
Algum Prometeu se (re)encarregará de roubar o fogo aos deuses e entregá-lo aos homens.
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