Portugal – as dívidas e as dúvidas

Diz o FMI que a dívida grega “se tornou insustentável” e ‘exigiu’ o alívio sob a ameaça de se excluir do pré-acordo com que Tsipras e a UE fingiram resolver a situação. Que a dívida da Grécia é impagável, por mais dilatado que seja o tempo a que amarrem o País, por mais sofrimento que inflijam aos gregos, já todos o sabemos.

Sabemos igualmente que a UE finge que a portuguesa, espanhola, italiana e francesa se pagarão com crescimentos económicos do domínio da fé. É preciso manter os governos de direita e acreditar em milagres, sendo a primeira decisão insofismável e a segunda do domínio esquizofrénico.

Manuela Ferreira Leite, a perigosa esquerdista do PSD que, ao contrário de Cavaco, não esqueceu princípios elementares de macroeconomia e, contrariamente a Passos Coelho, os estudou, disse que a União Europeia tem uma dívida cuja reestruturação é inevitável para poder ser paga.

Este Governo não resolveu qualquer problema e agravou-os todos com a cumplicidade partidária do PR e a abolia desta maioria, mas este governo ou outro não poderão pagar a dívida que resultou, em primeiro lugar, da crise internacional das dívidas soberanas, da economia de casino do sistema bancário, e, em menor medida, de erros dos governos portugueses, incluindo o atual, do aventureirismo ou roubos no BPN, Banif, BCP, BES, e os que ainda aí virão, das administrações autárquicas, com particular destaque para o Governo Regional da Madeira e da voracidade dos próceres do regime que puseram o produto dos roubos a recato de um qualquer offshore.

Depois da redução de salários e pensões, do brutal aumento de impostos, das vendas do património do Estado (Portugal foi campeão europeu de privatizações em 2012, 2013 e 2014, ocupando sempre, nestes anos, o primeiro lugar em volume de vendas a nível europeu), como é possível explicar que a dívida pública de cerca de 90% do PIB, deixada pelo anterior Governo, tenha ultrapassado largamente os 120%?

À venda dos sectores estratégicos PT, EDP, Galp, ANA, REN, Carris, TAP, juntou a CP Carga, Correios, hospitais, quartéis, até o Oceanário e o Pavilhão Atlântico, na vingança contra o 25 de Abril em que contou com a cumplicidade entusiástica do PR.

Com a contrarrevolução feita e o país penhorado restam feridas para lamber na ‘apagada e vil tristeza’ a que os portugueses e os próximos governos ficam condenados. Não restam dúvidas, só dívidas.

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