Arraial saloio ou um Carnaval eleitoral…

O debate sobre o Estado da Nação foi um arraial de interpretações sui generis que pretendem ‘marcar’ a campanha eleitoral. Foi a antecâmara do que se vai passar na campanha eleitoral arquitectada pela actual maioria.

Tudo gira – na concepção da actual maioria - no pedido de assistência externa solicitado em 2011, continuou com o percurso de resgate para terminar sobre a análise da situação actual. 
Vamos circunscrever-nos ao chamado pedido de ‘resgate’. Em 2011, não fomos empurrados para uma situação difícil unicamente por erros do Governo de Sócrates, embora estes sejam indesmentíveis. 

No ano de 2011 aconteceu a necessidade de solicitar auxílio externo, por diversas razões. Convinha não esquecer que a especulação orquestrada pelos mercados que rapidamente passou da crise financeira inicial dos ‘subprimes’ para a da dívida soberana que nos envolveu pesadamente foi, quando se olha para o volume actual da dívida pública portuguesa, manifestamente artificial. Serviu para interferir na política interna de acordo com um padrão ideológico escondido por detrás de um resgate financeiro.  O pedido de intervenção externa, por outro lado, teve cúmplices internos, com especial relevo para a actual maioria que ‘confessou’ ser do seu agrado governar sob os auspícios da Troika . A cumplicidade da Direita vai ao ponto de se ter apressado a sentar à mesa das negociações e aí ditar as suas dicas sobre o conteúdo de um memorando de entendimento que agora é assacado como sendo da única responsabilidade do Governo PS então em funções. Não o foi e os portugueses conhecem as circunstâncias políticas e financeiras que o ditaram. Se houve alguém que lavou as suas mãos dessa infame desgraça que caíu sobre o nosso País foi certamente a Esquerda mais radical (PCP e BE) que, na altura, se recusaram a participar na negociação do famigerado memorando, sem resultados palpáveis.

Argumentou o chamado ‘arco do poder’ que, dadas as circunstâncias, não havia outra alternativa. Nunca o saberemos porque tudo ‘cozinhado’ para ser apresentado como uma inevitabilidade. 
Mais, o programa imposto por Bruxelas escudado no FMI, claramente tendo por base a concepção ideológica dominante, ultraliberal, representada pelo Partido Popular Europeu (PPE), foi vendido como sendo a única saída credível (para os mercados). Para reforçar as condicionantes sublinhou-se que FMI era uma organização com experiência na intervenção em países com dificuldades. Mentira: Não tinha qualquer tipo de lastro de intervenções em Países com moeda comum (sem capacidade de desenvolver políticas monetárias e cambiais próprias)

Sobre a credibilidade das medidas propostas para o dito “resgate”, ninguém, neste arco do poder, ousou questionar. Os números que agora se classificam de errados (e efectivamente estavam) serviram para justificar a mais severa austeridade. Existia a convicção que o primeiro passo passaria pelo controlo das contas públicas. O que nos foi ‘oferecido’ foi outra coisa. 

Faltou a ousadia de submeter destas questões a um escrutínio ou a um referendo. É óbvio que será legítimo questionar se um País pequeno, com uma economia débil, problemas de solvência financeira, endividado, teria forças para resistir à avalanche neoliberal que varria (e ainda varre) a Europa. 
Com certeza que não. Mas faltou a capacidade de questionar e a dignidade de resistir. Esse foi o grande pecadilho decorrente das eleições de 2011. Seria bom que em 2015 não se repetissem os mesmos erros. A democracia não resiste a tudo. O Carnaval regressa todos os anos.

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