A Sr.ª D. Isabel Herédia e a democracia

O DN de ontem ocupa duas páginas com uma entrevista à senhora que trocou uma vida profissional pela reprodução de «infantes», graças ao enlace com um suíço que Salazar importou com o pai para uma eventual restauração da monarquia.

Nada tenho quanto aos critérios jornalísticos do meu jornal diário mas não posso deixar de tecer algumas considerações sobre uma senhora que casou com o descendente do Sr. D. Miguel, o facínora, filho da promíscua D. Carlota Joaquina que, com apoio do clero mais reacionário, quis restaurar o absolutismo monárquico, ensanguentando o País. Foi derrotado e teve de assinar a renúncia às veleidades reais. E não foi julgado dos crimes!

É-me indiferente que seja conservadora e mulher de fé, que reze o terço com os filhos e se julgue rainha sem trono [que não há] ou considere a verdadeira rainha de Portugal a «Nossa [dela] Senhora», num país republicano, laico e democrático.

Admitir que usufrui títulos nobiliárquicos é ignorar a sua abolição há mais de um século e pensar que as monarquias têm qualquer legitimidade. O poder, ainda que simbólico, é um anacronismo quando se exerce de forma vitalícia e se transmite pela via uterina.

Imaginar que as suas viagens ao estrangeiro são em representação de Portugal é delírio de quem, à semelhança de certos doentes, se julga outra pessoa, mas o que me indignou foi interrogar-se: «se vivemos num país democrático porque é que não deixam o povo escolher»? Onde é que o povo foi privado de votar num partido monárquico e onde é que as monarquias promovem eleições para as reais cabeças coroadas serem submetidas periodicamente ao escrutínio eleitoral?

Diz a senhora que “um rei pensa a 100 anos para a frente” como se a tarefa de um rei fosse pensar ou o marido obrigado a tamanho esforço.

Entrámos na «Silly season». Um jornalista faz o frete para manter vivo o sonho de uma noite de verão a uma família que tropeça em pessoas com alma de vassalos e entra em delírios reais. Só não admito que duvide da liberdade do povo português, liberdade que levou Cavaco Silva a PR e Passos Coelho a PM.

Até para a asneira somos livres.

Comentários

Anónimo disse…
A "madame" Bragança, coitada, não tem culpa! Quem tem são os idiotas que perdem tempo a entrevistar pessoas que vivem num mundo irreal.
Gosto quando os talassas perguntam em que eleições ganhou a República o direito de "se" implantar. Não percebem, coitaditos, que foram umas iguais aquelas em que os Braganças se prantaram no poder durante 270 anos...
Vão mas é trabalhar...
ECD disse…
Esta D. Isabel nao é trineta do suposto mandante do regicidio, o senhor Herédia, visconde da Ribeira Brava?

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