A realidade passível de uma ocultação sistemática e impune...?

Passos Coelho está a esconder dados sobre a situação real do País”. link.

A acusação de António Costa não é propriamente uma surpresa.

Existiam todos os indícios que ‘isso’ poderia estar a acontecer.
Quem segue, no abstracto, por exemplo, a evolução em Portugal das taxas de desemprego nos últimos 2 anos e o crescimento do PIB por igual período verifica que os dados publicitados desafiam frontalmente a chamada Lei de Okun que, não sendo um ‘decreto divino’ (infalível), é uma das constatações mais confiáveis da macroeconomia link . Assim, e tendo em consideração o teorizado na referida lei, para fazer descer em 1% na taxa de desemprego precisaríamos de verificar um crescimento do produto acima dos 2% (isto aplica-se tanto a países desenvolvidos como aos periféricos).
Precisamos, portanto, de informação mais detalhada de como se passou da taxa 17,8%, em Maio de 2013, para uma taxa abaixo dos 13,0% em de 2015 link, a par de um crescimento do PIB relativamente anémico, para compreendermos e acreditarmos nos números que nos têm sido debitados, comentados, elogiados e propagandeados.

O que António Costa revelou é grave porque a ocultação da verdade, ao que se supõe prosseguida de modo intencional e continuado, é em muitos países da UE motivo para um governo ser obrigado a cessar funções. Enganar o Parlamento – órgão fiscalizador da actividade governativa – não pode deixar de ser considerado um insuportável enviesamento democrático.

Depois de levantar esta ‘lebre’ não resta outra opção a António Costa do que a explicação cabal, aos portugueses, do que está efectivamente a acontecer.

Os limites entre ‘surpresas desagradáveis’ e a ‘ocultação sistemática da realidade’ não podem ficar pelo mero esgrimir de razões na comunicação social.

É exactamente aqui que a transparência deve, impiedosamente, relevar-se para a defesa do regime democrático.

Comentários

Manuel Galvão disse…
"A lei está baseada em dados da década de 1950 e é válida somente para taxas de desemprego entre o 3 e 7,5%". Lido na Wiki.

Na década de 50 estávamos em pleno bay-boom fator trabalho pesava muito na estrutura de custos de todas as atividades produtivas. Desconfio que essa lei não se aplica no contexto atual. Isso não quer dizer que Costa não tenha razão. Se estiver certo também é lógico que guarde a explicação, essa munição, para quando for mais oportuno utilizá-la...
e-pá! disse…
Na década de 50 o desemprego não era, de facto, tão elevado como hoje se verifica, por exemplo, na UE, ou na Eurozona, ou mais concretamente em Portugal.

Todavia, já em pleno século XXI (2007) o Prof. João Sousa Andrade da FEUC concluiu que " a taxa de crescimento (anualizada) que não cria desemprego é 2,7%”..., embora o autor reconheça que a aplicação da Lei de Okun não é linear, dependendo da conjuntura. http://gemf.fe.uc.pt/workingpapers/pdf/2007/gemf_2007-04.pdf

Ora, é muito difícil caracterizar, no campo macroeconómico, a nebulosa conjuntura da actualidade (que em 2007 estava à beira do abismo) mas todos sabemos que não a podemos considerar como 'amiga do emprego', para usar uma leviana expressão léxico politiqueiro.

Resumindo, a lei de Okun não tem uma aplicação taxativa no actual momento mas parece grosso modo desmentir uma das fábulas recitadas pelos neoliberais de que a austeridade - sempre recessiva - seja criadora de alguma coisa, nomeadamente, de emprego.
Bem, há uma excepção em relação à austeridade no domínio de criatividade: cria, sempre, pobreza.

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