Coreia do Norte: A ‘coroação’ de Kim III….
A Coreia do Norte prepara-se para, nestes dias, coroar o actual dirigente político num secreto mas endeusado Congresso do Partido dos Trabalhadores da Coreia.
Kim Jong-un neto do fundador do regime norte-coreano deverá muito brevemente fazer-se coroar como 'Kim III'.
Se existem anormalidades, perversões, equívocos e desmandos na política o actual regime norte-coreano é o expoente máximo dessas situações. Um regime que nasce no pós-guerra, alinhado com a ex-URSS e progressivamente (após o colapso soviético) com a República Popular da China foi tomando, ao longo dos anos, características autocráticas insólitas e repressivas que transformaram o País numa anacrónica ditadura familiar, do tipo ‘dinástico’, onde a ideologia se resume a uma expressão: o culto da personalidade.
A queda de Khrushchev e a morte de Mao atiraram o regime coreano para o isolamento político e internacional que em resposta se fechou e enquistou arrastando milhares de cidadãos para a pobreza, sob violentos processos opressivos.
O actual dirigente, um obcecado com o armamento nuclear, na abertura do congresso, só lhe restou – face ao descalabro económico - exaltar um primeiro teste efectuado com uma bomba de hidrogénio (propaganda que carece de confirmação técnica) link.
Fora do contexto militar, designadamente do vangloriar da produção de armas nucleares, Kim pouco tem que anunciar ao seu povo e não ser que este rumo tem intensificado o isolamento internacional sendo um dos países do Mundo objecto de sanções da ONU. E ao intensificar o isolamento do País tem arrastado os cidadãos para níveis gravosos de pobreza pelo que não se entende a estratégia.
No campo económico pouco se sabe deste fechado e repressivo País. Todavia, existem sérios argumentos que parte substancial do seu orçamento está a ser desviado para o programa militar e nuclear (os valores poderão estar compreendidos entre 30 a 50% do PIB). Segundo outros observadores desta fechada e centralizada economia poderão ter sido dados alguns pequenos passos em sectores económicos não estratégicos, em direcção a aquilo que se designa por ‘economia de mercado’.
O regime poderá ter proporcionado esta ‘abertura’ com carácter limitado e provisório para sanar défices internos de comercialização de produtos básicos e de acessórios que os orientais são viciados consumidores. Todavia, no meio do rebuliço congressista será muito difícil esconder a realidade, isto é, a necessidade de sucessivas ajudas internacionais para combater a fome que têm sido realizadas no âmbito de programas de auxílio humanitário da ONU link.
Todo este 'espalhafato' à volta de um Congresso carregado de uma intensa função ornamental e de rituais propagandísticos baseia-se num conceito: “byungjin” (ou seja uma virtual conciliação entre o faraónico investimento militar no nuclear e na balística e o desenvolvimento económico). Na prática tudo vai continuar a ser 'mais do mesmo' e não se divisa qualquer tipo de transferência do orçamento militar para as áreas económicas e sociais capaz de funcionar como um motor do desenvolvimento.
Pelo meio endeusa-se a figura de Kim Jong-un como ‘querido líder’ com floreados não muito distantes do ‘ancien regime’ que vigorou na Europa e que ficou bem expresso no célebre (hipotético?) pronunciamento de Louis XIV: “L’État c’ est moi”.
Portanto, a Coreia do Norte apesar do empenho nuclear que pretende divulgar como um avanço tecnológico, politicamente está ainda ancorada nos meados do século XVII, quando o absolutismo real prevalecia sobre todas as outras instituições e poderes nos Países de então (de antanho).
Para alimentar este contexto retrógrado e de recuo civilizacional o regime norte-coreano tinha a premente necessidade de entronizar Kim III. É o que está afanosamente a fazer-se nestes últimos dias!
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