Passos Coelho: “espelho meu…”

Ver-se ao espelho e congeminar aquela postura ‘conheces alguém mais virtuoso do que eu?’ é um exercício de narcisismo que muitos praticam pela calada, no recôndito da sua privacidade, mas trata-se de uma atitude que, quando trazida para o domínio público, cai mal.
Foi exactamente esta a mais recente prestação do ex-primeiro-ministro, Passos Coelho, quando se apressou a avaliar 6 meses de Governo (e 3 de vigência do OE 2016!) invocando, interpretando e adulterando os últimos dados do INE sobre a execução orçamental. Mais uma vez tomou a nuvem por Juno e debitou toda a sua bílis sobre a actual governação.
Grave e estapafúrdia foi a tirada demagógica, populista e perversamente fantasiosa de que “o País está a ser levado para o declínio social, económico e político”. link.

Depois de 4 anos e meio de empobrecimento forçado e, diga-se, da subserviência que, sob a liderança desta avantesma, submeteu o País aos caprichos e experimentações de uma troika, completamente ignorante acerca da realidade nacional, como é possível falar assim?

Se fosse politicamente honesto e tivesse em casa um modesto espelho capaz de reflectir a realidade que o cerca veria que o chamado ‘resgate’ e o pretendido ‘ajustamento’ atiraram (fizeram recuar) o País para níveis económicos similares ao dealbar deste século.

Por outro lado, no campo social, toda a acção dos últimos anos de governação teve como efeito a deterioração da coesão social, através de medidas que levaram à ruptura do ‘contrato social’, com espezinhamento dos direitos sociais e laborais, conduzindo ao agravamento de desigualdades e a uma vergonhosa expansão da pobreza.

No terreno da política, poucos se recordam de uma governação mais prepotente do que a do último governo, onde se contam pelos dedos de uma mão os consensos, ditos, nacionais, onde se transformou a governação no permanente ajoelhar perante inominados e seráficos ‘credores’, em busca de ‘credibilidades’  fantasiosas e, finalmente, onde se violou com reiterado ímpeto normas constitucionais e a crispação (política e social) foi uma permanente e indigente ‘normalidade’.

Quando Passos Coelho invoca o declínio político, social e económico do País provavelmente revela o que silenciosamente deseja e está à espera. Anseia é pela deterioração do regime democrático, por uma nova intervenção externa, pelo (re)assumir de funções de ‘capataz dos mercados’, através de um ‘golpe mágico’ que lhe permitisse prosseguir a mesma política dos últimos 4 anos, muito embora não tenha logrado obter a maioria dos votos dos portugueses.

Aliás, a postura evidenciada pelo actual ‘chefe’ da Oposição é a de ‘espera’, emboscada nas suas visões e confusões neoliberais, não sendo capaz de entender que a mudança ciclo político tem (está a ter) necessárias e óbvias consequências.
E dentro das inevitáveis consequências encontra-se o seu inexorável declínio, enquanto político. A tentativa de confusão entre o seu evidente declínio e o do País é uma manifestação patológica de transferência identitária.

Poderíamos sugerir uma terapia: escrever um opusculo sob o tema - “Ascensão e queda de um jotinha”. Aí poderia 'espelhar' todas as suas declinantes angústias metafísicas...

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