Offshores, ética e impunidade
Ninguém, com um mínimo de sensibilidade social e um módico de decoro, defenderá os paraísos fiscais, infernos onde jazem capitais e ardem impostos dos países pobres.
Ninguém, é força de expressão. No Diário de Notícias, Miguel Ángel Belloso, à falta de leitores na revista espanhola “Actualidad Económica”, de que é diretor, tem uma avença semanal, às sextas-feiras, para defender, em Portugal, o mais implacável neoliberalismo, com a fé dos talibãs e a determinação dos bombistas suicidas.
Proclama aí a bondade dos ‘paraísos fiscais como o do Panamá’ e, em coerência com as suas ideias extremistas, condena a ‘atual estratégia [socialista] de perseguição contra os contribuintes’, considerando a procura de offshores um direito e um dever.
Afirma que “A possibilidade de escapar daqueles que querem apropriar-se da riqueza e do esforço individual foi um instrumento básico para travar, ou pelo menos minorar, a insaciável voracidade do Leviatã estatal. Querem acabar com os paraísos fiscais para nos espremerem à sua vontade e isso é inaceitável em termos morais e negativo em termos económicos.”
Quem julga que o neoliberalismo é capaz de um módico de humanidade, de um mínimo de decência, da mais ténue complacência com a justiça social, vê no parágrafo anterior a mais impudica das crenças, o definitivo desmentido e a exoneração absoluta da ética.
Ingenuidade é pensar que o capitalismo prescinde de esquemas de que o Panamá foi um exemplo recente, que ainda há de levar à prisão os denunciantes e absolver os infratores.
É impossível combater o contrabando de armas, o narcotráfico, o terrorismo ou o tráfico de pessoas e órgãos, sem erradicar antros que abrigam roubos de ditadores e ocultam as fortunas de vigaristas, agiotas e bandidos, à escala mundial.
Haverá maiores paraísos fiscais do que as Ilhas Virgens Britânicas [BVI], Caimão e as Bermudas? Ou a própria City, no coração de Londres?
A desregulação financeira de Thatcher e Reagan, sob o eufemismo de ‘Reformas’, é um convite permanente à evasão de capitais, que não vai abrandar, apesar da fuga acidental de informações ter provocado danos colaterais em algumas carreiras políticas.
Os países poderosos não pretendem o fim de offshores, apenas e só o monopólio. Jersey, Guernsey [no canal da Mancha (fora da UE?)], Luxemburgo, Suíça, Maurícias ou Hong Kong continuarão a guardar saques financeiros de países pobres e a ser refúgio de lucros delituosos que mantêm a prosperidade e o luxo dos recetadores.
Em Portugal, está em curso a minimização dos crimes e a desculpa dos prevaricadores. Ángel Belloso é mais uma testemunha abonatória dos infratores já conhecidos e dos que vierem a ser revelados. Promove-se a apatia e previne-se o escândalo.
Pobre país!
Ninguém, é força de expressão. No Diário de Notícias, Miguel Ángel Belloso, à falta de leitores na revista espanhola “Actualidad Económica”, de que é diretor, tem uma avença semanal, às sextas-feiras, para defender, em Portugal, o mais implacável neoliberalismo, com a fé dos talibãs e a determinação dos bombistas suicidas.
Proclama aí a bondade dos ‘paraísos fiscais como o do Panamá’ e, em coerência com as suas ideias extremistas, condena a ‘atual estratégia [socialista] de perseguição contra os contribuintes’, considerando a procura de offshores um direito e um dever.
Afirma que “A possibilidade de escapar daqueles que querem apropriar-se da riqueza e do esforço individual foi um instrumento básico para travar, ou pelo menos minorar, a insaciável voracidade do Leviatã estatal. Querem acabar com os paraísos fiscais para nos espremerem à sua vontade e isso é inaceitável em termos morais e negativo em termos económicos.”
Quem julga que o neoliberalismo é capaz de um módico de humanidade, de um mínimo de decência, da mais ténue complacência com a justiça social, vê no parágrafo anterior a mais impudica das crenças, o definitivo desmentido e a exoneração absoluta da ética.
Ingenuidade é pensar que o capitalismo prescinde de esquemas de que o Panamá foi um exemplo recente, que ainda há de levar à prisão os denunciantes e absolver os infratores.
É impossível combater o contrabando de armas, o narcotráfico, o terrorismo ou o tráfico de pessoas e órgãos, sem erradicar antros que abrigam roubos de ditadores e ocultam as fortunas de vigaristas, agiotas e bandidos, à escala mundial.
Haverá maiores paraísos fiscais do que as Ilhas Virgens Britânicas [BVI], Caimão e as Bermudas? Ou a própria City, no coração de Londres?
A desregulação financeira de Thatcher e Reagan, sob o eufemismo de ‘Reformas’, é um convite permanente à evasão de capitais, que não vai abrandar, apesar da fuga acidental de informações ter provocado danos colaterais em algumas carreiras políticas.
Os países poderosos não pretendem o fim de offshores, apenas e só o monopólio. Jersey, Guernsey [no canal da Mancha (fora da UE?)], Luxemburgo, Suíça, Maurícias ou Hong Kong continuarão a guardar saques financeiros de países pobres e a ser refúgio de lucros delituosos que mantêm a prosperidade e o luxo dos recetadores.
Em Portugal, está em curso a minimização dos crimes e a desculpa dos prevaricadores. Ángel Belloso é mais uma testemunha abonatória dos infratores já conhecidos e dos que vierem a ser revelados. Promove-se a apatia e previne-se o escândalo.
Pobre país!
Comentários
Quem 'esconde' o dinheiro em off shores foge de alguma coisa, quando não de várias.
Uma delas é, incontestavelmente, ao pagamento de impostos o que perverte todo o sentido de justiça fiscal e atropela o papel redistributivo das contribuições em relação à riqueza gerada.
As justificações aduzidas por economistas, gestores, corretores bolsistas e comentadores podem conter muitos argumentos técnicos, muitas justificações, bastantes insinuações, etc., mas não esclarecem os fins. Dedicam-se a fantasiosos relatos de acidentes paralelos, a sinuosos percursos, ao exotismo de alguns casos. Quanto à transparência e regulação dos sistemas financeiros, zero.
Cabe aos cidadãos julgar (face às obrigações cívicas e deveres sociais) estes delitos já que os diferentes sistemas judiciais não o deverão (ou não o conseguirão) fazer.
Todavia, não deixa de ser insuportável a campanha de 'branqueamento' em curso nos meios de comunicação social e a paralisia dos poderes políticos face às iniquidades que este tipo de situações proporciona.