Notas soltas – maio/2016
Brasil – O Juiz
Baltasar Garzón, que prendeu o ditador chileno Augusto Pinochet e cuja firmeza
democrática é indubitável, acusou de golpe de Estado a destituição de Dilma. A
votação parlamentar foi um deprimente espetáculo de agressão à democracia.
Espanha – A falta
de entendimento entre os partidos de esquerda impôs a repetição das eleições,
quando havia uma boa oportunidade para punir a teia de corrupção que enleou o
PP. Frustrado, o eleitorado vai aumentar a abstenção e deslizar para a direita.
El País –
Referência da imprensa escrita europeia, o melhor diário da Península Ibérica,
celebrou no dia 4 o 40.º aniversário. Nasceu da transição política em Espanha,
vitória da democracia sobre o fascismo, que o 25 de Abril português tornou
inadiável.
EUA – O Partido
Republicano nomeará, para disputar as eleições presidenciais, Donald Trump, após
derrotar Ted Cruz, ainda pior do que ele. Teme-se a derrota de Hillary, um mal
menor no país ameaçado do pior e que enjeita o melhor, Bernie Sanders.
Coreia do Norte –
A última ditadura estalinista assumiu o carácter de uma monarquia exótica onde
Kim Jong-un, Kim III, convocou o primeiro congresso do partido único, em 36
anos, destinado à sua coroação unânime.
Venezuela – O
presidente, incapaz de fazer face aos problemas que a conjuntura agrava e os
inimigos estimulam, responde com despotismo, próprio de ditadores. A sua queda é
inevitável e devia ter percebido o fim do prazo de validade, antes do desastre.
Eutanásia – A
decisão da AR tem de ser bem ponderada, tendo em conta a experiência e legislação
de países que nos precederam. Os direitos individuais não são referendáveis e a
CRP, que perfilha o direito inalienável à vida, não a impõe como condenação.
Ensino privado – Não
se contesta o direito à sua existência, mas, onde existem escolas públicas,
torna-se ilegal e imoral o pagamento pelo Estado, sendo suspeitas e impróprias
as exigências dos colégios e obscena a chantagem com manipulação de crianças.
Filipinas – Rodrigo
Duterte foi eleito Presidente por ampla maioria, num país católico, apesar de acusado
de ter conduzido uma campanha de execuções extrajudiciais durante mais de 20
anos e de chamar filho da p… ao Papa.
A extrema-direita chegou ao poder.
Paulo Portas – A vichyssoise serve-se fria. A
contratação, como comentador, pela TVI, relança a sua carreira política, livre
de figuras menores que a pertença partidária sempre colocou à sua frente. Oportunamente,
acertará contas com os inimigos.
Londres – A
eleição de Sadiq Kan para presidente da maior Câmara do Reino Unido, é a
vitória de um islamita progressista e democrata contra o islão ignorante,
reacionário e intolerante, a vitória do crente ilustrado que expurgou a fé da
violência e obscurantismo.
Central Nuclear de
Almaraz – A 100 km de Portugal, arrefecida por água do rio Tejo, já falhou e mostrou
falhas nos testes de resistência e no mesmo tipo de válvulas que gerou o
acidente em Fukushima. Continua em atividade. Até à catástrofe?
UE – Além do
drama dos refugiados, terrorismo, desemprego e colapso financeiro, há três
países que ameaçam a sua desintegração, o Reino Unido que quer sair, a Turquia
que quer entrar e a Alemanha que quer que a Turquia entre e o Reino Unido não
saia.
Turquia –
Erdogan, alegado muçulmano moderado, reislamizou o país, condiciona as
liberdades, subjuga os Tribunais e reprime a comunicação social. Chantageia,
trafica os refugiados e exibe, perante a UE, a insolência do monstro que a Nato
treinou e armou.
Bancos portugueses
– A incapacidade de solução para os créditos malparados decorre da crise
financeira internacional e não é culpa do anterior governo, mas a displicência
com que o problema foi encarado e escondido, é a herança que deixou.
Refugiados – A UE,
incapaz de encontrar soluções, por ausência de condições políticas e de
recursos, com os europeus a temerem agressões à identidade cultural, abandonou
os princípios e perdeu a oportunidade de uma política concertada.
Áustria – O
ecologista, Alexander Van der Bellen, venceu a segunda volta das eleições presidenciais
com 50,3%, só mais 0,6% do que o candidato da extrema-direita, Norbert Hofer (49,7%).
Tal como na Hungria e Polónia, os velhos demónios despertaram.
Cavaco Silva – A
primeira tentativa de reabilitação ocorreu no ISEG, onde se formou. A Associação
dos Antigos Alunos, Alumni Económicas,
atribuiu-lhe o prémio “Carreira Económica, Política e Social”. Fiel à sua natureza,
destilou ressentimento político.
PR – A simpatia
de Marcelo, que beneficia da comparação com o rancoroso antecessor, corre o risco
de perder eficácia com a excessiva exposição e a precipitação de algumas
declarações. É bom para ele, e do interesse do País, que se resguarde.
Argentina – Começou
o julgamento de facínoras do Plano Condor, de quem perseguiu e matou concertadamente
opositores de 7 ditaduras, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Perú e
Uruguai, nas passadas décadas de 70 e 80. Nunca é tarde.
Tunísia – Apesar
do receio de um partido confessional, que exclui ateus, consumidores de álcool
e de drogas, o Ennahdha, ao adotar a separação entre o proselitismo religioso e
a atividade política, pode difundir a democracia e salvar o islamismo.
Monte Atos – Há
mil anos vieram os primeiros monges russos e criaram um dos locais mais santos
da Igreja ortodoxa grega. Acesso, por mar; mosteiros – 20; monges - 1500. No Estado
Monástico Autónomo da Montanha Sagrada só entram homens e animais do sexo
masculino. A única teocracia monástica é exótica.
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