A guerra colonial e o branqueamento da ditadura
Quando Portugal iniciou a guerra colonial em Angola, logo alargada à Guiné e, depois, a Moçambique, já a França estava a acabar de perder a sua (1954/62). O colonialismo francês sofreu, na Argélia, a última derrota. Em Portugal, país atrasado, durou ainda 12 anos, e foi na Guiné que primeiro enterrou as últimas bravatas imperialistas.
A Argélia francesa foi o mito cultivado que levou um grupo de oficiais a sublevarem-se na sua defesa, quando a guerra já estava inexoravelmente perdida. Foram condenados à morte. De Gaulle comutou-lhes a pena. Foi inútil o sangue derramado.
Portugal cultivou um mito exclusivo, Portugal, do Minho a Timor, como se a História parasse e a ditadura pudesse perpetuar a guerra injusta, criminosa e votada ao fracasso.
As coisas são o que são e não o que gostaríamos. Confrange ver o malogrado continente africano, vítima da miséria, ignorância, tribalismo, doenças, fome e guerras. Não possui um único país claramente democrático ou próspero. Angola e Moçambique são ainda os países que mais se aproximam de Estados de direito.
A tragédia da descolonização, de qualquer descolonização, trouxe sempre sofrimento e injustiças, próprios das revoluções. A descolonização é uma revolução permanente, e a portuguesa foi tão tardia que impediu minimizar o desastre e acautelar alguns interesses legítimos. Houve na colossal tragédia apenas uma epopeia. Tivemos o único exército do mundo capaz de uma retirada gigantesca sem uma única baixa.
Hão de passar gerações antes de exorcizarmos as atrocidades e de secarem as lágrimas dos inocentes que vieram e das vítimas que lá ficaram, antes de contarmos o que, de um e de outro lado, envergonha e estarrece.
Hoje, por todo o País, à sorrelfa, vão surgindo praças, ruas e monumentos dedicados aos ‘Heróis do Ultramar’. Não homenageiam os milhares de mortos, os estropiados e os que sobrevivem a sangrar por dentro, todos vítimas da ditadura, que inutilmente se bateram durante treze intermináveis anos. Apenas se procura reescrever a História.
Está em curso uma campanha de branqueamento da ditadura, o apelo emocional a quem se esqueceu da injustiça da guerra, da inutilidade do sacrifício e do sofrimento próprio e da família. É um apelo à desmemória, à emoção dos velhos, para esquecerem os algozes e se deixarem seduzir por uma leitura enviesada e branqueadora da guerra colonial.
Como antigo combatente, repudio os truques com que se pretende branquear a ditadura e exaltar o «Império, infelizmente perdido». Não há, nunca houve, «heróis do ultramar», há vítimas da guerra colonial. De ambos os lados.
Como cantávamos no Niassa: «Estou farto deles, estou farto deles…».
A Argélia francesa foi o mito cultivado que levou um grupo de oficiais a sublevarem-se na sua defesa, quando a guerra já estava inexoravelmente perdida. Foram condenados à morte. De Gaulle comutou-lhes a pena. Foi inútil o sangue derramado.
Portugal cultivou um mito exclusivo, Portugal, do Minho a Timor, como se a História parasse e a ditadura pudesse perpetuar a guerra injusta, criminosa e votada ao fracasso.
As coisas são o que são e não o que gostaríamos. Confrange ver o malogrado continente africano, vítima da miséria, ignorância, tribalismo, doenças, fome e guerras. Não possui um único país claramente democrático ou próspero. Angola e Moçambique são ainda os países que mais se aproximam de Estados de direito.
A tragédia da descolonização, de qualquer descolonização, trouxe sempre sofrimento e injustiças, próprios das revoluções. A descolonização é uma revolução permanente, e a portuguesa foi tão tardia que impediu minimizar o desastre e acautelar alguns interesses legítimos. Houve na colossal tragédia apenas uma epopeia. Tivemos o único exército do mundo capaz de uma retirada gigantesca sem uma única baixa.
Hão de passar gerações antes de exorcizarmos as atrocidades e de secarem as lágrimas dos inocentes que vieram e das vítimas que lá ficaram, antes de contarmos o que, de um e de outro lado, envergonha e estarrece.
Hoje, por todo o País, à sorrelfa, vão surgindo praças, ruas e monumentos dedicados aos ‘Heróis do Ultramar’. Não homenageiam os milhares de mortos, os estropiados e os que sobrevivem a sangrar por dentro, todos vítimas da ditadura, que inutilmente se bateram durante treze intermináveis anos. Apenas se procura reescrever a História.
Está em curso uma campanha de branqueamento da ditadura, o apelo emocional a quem se esqueceu da injustiça da guerra, da inutilidade do sacrifício e do sofrimento próprio e da família. É um apelo à desmemória, à emoção dos velhos, para esquecerem os algozes e se deixarem seduzir por uma leitura enviesada e branqueadora da guerra colonial.
Como antigo combatente, repudio os truques com que se pretende branquear a ditadura e exaltar o «Império, infelizmente perdido». Não há, nunca houve, «heróis do ultramar», há vítimas da guerra colonial. De ambos os lados.
Como cantávamos no Niassa: «Estou farto deles, estou farto deles…».
Ponte Europa / Jornal do Fundão / Sorumbático
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