As cíclicas e imparáveis manobras vindas de Bruxelas...
A pressão das instituições europeias (Comissão Europeia, Ecofin, Conselho Europeu, BCE, Eurostat,…) sobre Portugal e Espanha acerca do défice orçamental, considerado excessivo (como se qualquer défice pudesse de deixar de o ser), faz parte de uma longa série de avaliações em que se misturam as prestações dos burocratas e estratégias políticas.
Terá sido fixado o prazo de 15 de Outubro link para serem introduzidas medidas de correcção orçamental sob pena de 'congelamentos' da utilização dos fundos europeus. Isto é, perante a necessidade de investimento que acelere o crescimento económico agita-se o garrote.
Ambos os países (Portugal e Espanha) estão a ser discriminados face a situações semelhantes existentes noutros países, nomeadamente com a França, o que está bem patente na célebre frase de Junker: “Défice? A França é a França…” link.
Mas, se partimos (Portugal e Espanha) no mesmo barco, não será de estranhar que ao Governo espanhol seja concedido o alargamento do prazo por mais um ou dois anos link .
É fácil perceber a razão. Muito embora a Espanha tenha um PIB a crescer à volta dos 3% e, portanto, seja mais fácil aplicar medidas para reduzir o défice o que interessa a Bruxelas é, na sombra, influenciar os cidadãos espanhóis no complexo processo eleitoral onde estão envolvidos (2 eleições sem resultados concretos quanto a um futuro Governo e à beira de uma 3ª. volta).
Bruxelas sabe se impuser mais austeridade a Rajoy (e este for obrigado a aceitar) promove o haraquíri da Direita espanhola.
Por outro lado, já todos entendemos que estas pressões não surgem por mero acaso, são produto de uma rigidez ideológica que persiste na senda da austeridade, apesar dos desastrosos resultados obtidos por essa via.
Os peões desta estratégia são múltiplos mas neste universo de predadores destacam-se, na vertente burocrática, o Sr. Jeroen Dijsselbloem e, na política, o Sr. Wolfgang Schaüble. Ambas as personagens não são ‘meninos de coro’ e carregam um pouco recomendável trajecto de vida política a que associam uma gritante falta de imaginação que os leva a serem relapsos admoestadores e começam a entediar até os mais ‘crentes’ e liberais pacientes.
É claro que as manobras em curso, por parte de actuais dirigentes das instituições europeias, têm uma notória concertação com repartição de funções entre a vertente política endossada ao Conselho Europeu, a técnica ao Ecofin, BCE, Eurostat e a burocrática à Comissão. A bissectriz destas prestações tem sido altamente perniciosa para alguns países da UE, ou seja, aqueles que apresentam economias mais débeis e estão em má situação financeira (dívida elevada).
Não é por acaso que, em relação a Portugal, foi estipulada a deadline de 15 de Outubro. Essa é a data de apresentação, para discussão parlamentar e conhecimento público, do próximo Orçamento de Estado (2017). Esta é mais uma face das permanentes pressões que vão sendo congeminadas em Bruxelas, Berlim, Frankfurt e que, em última análise, mais do que ajudar, perturbam uma serena e inteligente reversão da situação orçamental deficitária que, em princípio, interessa a todos.
Finalmente, sabemos que as instituições europeias acompanham, nomeadamente através do Eurostat, a execução orçamental, em Portugal. Não são visíveis nem previsíveis deslizes, nesse campo, que sejam preocupantes. Mas uma coisa é certa: se a execução orçamental correr bem (como é desejável) deverá imediatamente surgir uma nova questão: a dívida, o crescimento, etc. .
Bruxelas não pára! Resta acrescentar: de chatear e prejudicar alguns dos Estados membros.
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