Ocultar o passado é evitar a vacina contra a reincidência
Quando reaparecem os tiques salazaristas e se faz já a defesa despudorada do fascismo, às escâncaras, urge revelar o que foi em Portugal o período da ditadura, abençoada pela Igreja católica, e que a Pide, a censura, o medo e a ignorância protegeram.
A apreensão de livros, as prisões sem culpa formada, os tribunais Plenários, a tortura, o exílio, a fome, o analfabetismo, enfim, tudo o que era mau e anacrónico, prolongou-se num país tão atrasado que até na descolonização foi o último, quando a tragédia era já inevitável e a guerra injusta e criminosa tinha custado milhares de mortos e estropiados em ambos os lados das frentes da guerra colonial.
Não faltam historiadores que documentem e interpretem esse período sombrio de meio século, mas faltam leitores interessados para os conhecerem e divulgarem. E sobram os que pretendem reescrever a história e criar eufemismos para absolverem a ditadura.
O salazarismo não foi apenas perverso e castrador, formatou gerações em princípios que a propaganda difundia. A perversidade de Hitler, Franco e Mussolini existia em Salazar, apenas a quantidade dos crimes foi menor. O que diferenciou a ditadura portuguesa das congéneres não foi a substância, foi uma mera questão de escala.
É assustador pensar que a minha geração foi incapaz de transmitir o ambiente asfixiante, o horror à instrução, o medo do progresso, a opressão da mulher, a maldade, o ridículo.
A proibição do divórcio para casamentos religiosos, na prática obrigatórios, a gestão de bens do casal, exclusivamente pelo marido (incluindo os da mulher, no casamento com comunhão de bens, que era o habitual), a necessidade de autorização do marido para que a mulher pudesse deslocar-se ao estrangeiro, a impunidade para a violência doméstica e numerosas outras malfeitorias marcaram o ADN de um povo submisso e medroso.
Hoje, deixo aqui a minuta do pedido de autorização de casamento para professoras, que só seria deferido se o nubente provasse que auferia rendimentos iguais ou superiores.
A apreensão de livros, as prisões sem culpa formada, os tribunais Plenários, a tortura, o exílio, a fome, o analfabetismo, enfim, tudo o que era mau e anacrónico, prolongou-se num país tão atrasado que até na descolonização foi o último, quando a tragédia era já inevitável e a guerra injusta e criminosa tinha custado milhares de mortos e estropiados em ambos os lados das frentes da guerra colonial.
Não faltam historiadores que documentem e interpretem esse período sombrio de meio século, mas faltam leitores interessados para os conhecerem e divulgarem. E sobram os que pretendem reescrever a história e criar eufemismos para absolverem a ditadura.
O salazarismo não foi apenas perverso e castrador, formatou gerações em princípios que a propaganda difundia. A perversidade de Hitler, Franco e Mussolini existia em Salazar, apenas a quantidade dos crimes foi menor. O que diferenciou a ditadura portuguesa das congéneres não foi a substância, foi uma mera questão de escala.
É assustador pensar que a minha geração foi incapaz de transmitir o ambiente asfixiante, o horror à instrução, o medo do progresso, a opressão da mulher, a maldade, o ridículo.
A proibição do divórcio para casamentos religiosos, na prática obrigatórios, a gestão de bens do casal, exclusivamente pelo marido (incluindo os da mulher, no casamento com comunhão de bens, que era o habitual), a necessidade de autorização do marido para que a mulher pudesse deslocar-se ao estrangeiro, a impunidade para a violência doméstica e numerosas outras malfeitorias marcaram o ADN de um povo submisso e medroso.
Hoje, deixo aqui a minuta do pedido de autorização de casamento para professoras, que só seria deferido se o nubente provasse que auferia rendimentos iguais ou superiores.
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