191 – Memórias de um soldado em Angola (Ed. Verso da História)

Este fim de semana li o livro em epígrafe, amável oferta do autor, Onofre Varela, o ‘soldado condutor autorrodas 191’ [condutor, para quem ignore a qualificação militar] na guerra colonial em Angola, desde dezembro de 1965 a fevereiro de 1968.

Escrito sem azedume por quem lavou latrinas, serviu à mesa, foi agredido pelo sargento Ginja, e começou a tropa com vários dias de prisão e saiu louvado, um misto de ‘O bom soldado Shweik’, sem a negrura do seu humor, e do pacifista Mahatma Gandhi, sem ter libertado a pátria, conta de forma perspicaz o que na literatura de guerra era omisso.

Deve ter voltado no barco em que, logo a seguir, segui a caminho de Moçambique para a mesma guerra inútil, depois de ter percorrido os mesmos quartéis antes do embarque.

Onofre Varela, cartunista, escritor e jornalista, teve a arte de contar o que todos viram e só ele se lembrou de contar. E conta-o como se não tivesse sido vítima, como se o crime de ser português merecesse tão dura pena, com a mesma elegância com que respondia à agressão do sargento Ginja com um desenho e a cada humilhação como novo desenho.

É a excelente narrativa de um homem generoso, capaz de contar como quem conversa e de trazer a público factos que mais parecem de quem foi incumbido de fazer a ata e não de quem os viveu na base de uma irrefutável pirâmide hierárquica na mais negra história da vida da nossa geração.

É um excelente catártico, divertido na pungência das situações vividas, capaz de evitar os suicídios que ainda acontecem a quem viu morrer camaradas do lado errado e matar guerrilheiros do lado certo, certo de que vale a pena viver esta vida única e irrepetível.

Permito-me recomendar 286 páginas de um testemunho pessoal onde cada combatente encontra um retalho da sua odisseia do filme cujo guião foi escrito pelas circunstâncias.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides