Cavaco: Num qualquer dia da semana que até poderia ser quinta-feira…

Não faço intenções de ler o livro de Cavaco Silva “Quinta-feira e outros dias”. O tempo é demasiado precioso para ser gasto em elucubrações.
Entretanto, a imprensa vai debitando algumas ‘deixas’ link.
A petulância de julgar que anda sempre a cavalgar o “superior interesse nacional” – que segundo afirma é o seu móbil para escrevinhar - enfastia-me.
As autobiografias são sempre duvidosas e perigosas quanto à possibilidade de distorções. Surgem tanto mais enviesadas quanto se sabe que muitos dos seus autores podem ter dificuldades em colocar-se acima (ou de fora) da sociedade sobre a qual discorrem, alijando determinismos (ou seja pré-determinados destinos).
A narrativa de vida do próprio para ter interesse pressupõe a acessibilidade pública dos meios de informação e registo que a informam. Não são essas as condições que se verificam. Existirão, no caso de Cavaco Silva, nomeadamente em relação às quintas-feiras, registos individuais e personalizados, não escrutináveis.
Sem querer fazer uma intrusão no género literário em causa é comum surgirem muitas reservas sobre a objetividade e o rigor do discurso autobiográfico, existindo - no caso presente - fundadas dúvidas sobre a capacidade deste livro, oriundo de uma personagem tão atávica, vir a esclarecer os portugueses. Aliás, é suposto que o correto seria ter informado e esclarecido os portugueses a tempo e a horas. 
A transmissão escrita das “suas memórias” (próprias) deixa sempre interrogações sobre a oportunidade, veracidade e adequação da narrativa, já que procedem de alguém que, muito embora reivindique muitas qualidades (muitas nunca confirmadas), muito dificilmente poderá invocar o conhecimento dos métodos ou práticas historiográficas.
Na verdade, e para regressar às origens das autobiografias, nem Cavaco Silva é Rosseau (que escreveu a famosa autobiografia ‘Confissões’), nem o seu 'alvo predilecto', José Sócrates, será Voltaire (objetivo das 'Confissões' de Rosseau).
Receio bem que estejamos a ser confrontados com um exercício literário que seja uma pura excrescência ao sobejamente conhecido.

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