MOSSUL - fora dos radares…


Civis iraquianos abandonam zona leste de Mossul

A imprensa ‘ocidental’ tem estado muito discreta e parcimoniosa em relação ao que se passa em Mossul. Em claro contrate com o que foi relatado em relação à dramática situação também vivida em Alepo e que nos enchia os ouvidos e a vista várias vezes durante o dia. Critérios que fazem crer existirem insanas dicotomias, isto é, ‘ofensivas’ boas e más. Um gritante desfasamento entre o habitual ruído dos média e o silêncio dos inocentes.

As escassas notícias que aparecem dão conta que a ‘batalha de Mossul’ continua a decorrer e a progressão das forças sitiantes tem sido complexa e lenta.
A cadeia de informação Al Jazeera continua a dar informações esparsas da progressão das forças militares conjuntas (Iraque, curdos, tribos sunitas e milicianos xiitas e ‘mercenários’) mas é muito sucinta e vaga sobre os dramas humanitários que aí se desenrolam.
Na devastada cidade iraquiana o controlo da parte oriental foi assegurado pelas forças coligadas contra o Estado Islâmico e os habitantes sobreviventes evacuados para campos de refugiados link.
Este deslocamento de populações (resgate humanitário) não decorreu nas melhores condições humanitárias nem de acordo com as convenções internacionais.

O relato das condições de vida na parte ocidental, ainda sob o controlo do Daesh, é como referiu a responsável da ONU, Lise Grande link, deveras complicado e preocupante. Estima-se que vivam nesse sector cerca de 750.000 pessoas em condições críticas quanto a assistência médica, alimentos, água, eletricidade e combustíveis.

Mas as preocupações devem ir para além do estado actual do conflito que se está a desenrolar pela posse de Mossul. A retomada de Mossul não significa o apaziguamento regional, nem o fim do Daesh.

Na realidade, esta região iraquiana (Nineveh) é substancialmente diferente do resto do País já que se trata de um território multiétnico, multirreligioso e com uma profunda diversidade cultural. Aí vivem turcomanos, árabes, curdos, cristãos, muçulmanos, yazidis, xiitas, sunitas, caldeus, etc. e esta pluralidade deve ser preservada.
Salvaguardar esta teia de características diferenciadoras será um trabalho hercúleo quer na conciliação religiosa assente numa ampla liberdade de culto, quer no terreno social e comunitário. A Paz não chegará de modo mecânico e abrupto com a saída de Mossul das mãos do Daesh.
As complicadas circunstâncias que rodeiam a ‘batalha de Mossul’ têm de ser acompanhadas a par e passo, nomeadamente, pelos organismos da ONU, durante largos anos.
Hoje em dia para o Mundo - e particularmente para os portugueses - este é um delicado assunto a seguir com atenção e rigor pela ONU. É, também, mais um berbicacho para Guterres.

Interessaria saber o que pensa a Administração Trump – para além da proibição da entrada de iraquianos nos EUA – sobre esta região do Médio Oriente.

Pensará a nova administração norte-americana endossar a reconciliação e a reconstrução de um País dilacerado, que arbitrariamente invadiu em 2003, aos ditos ‘mexicanos’ (um eufemismo para ‘outros’)?
Ou seja, a tal sigla ultra-nacionalista do “America First” significará que serão os ‘primeiros’ a abandonar o devastado cenário de guerra de que são um dos ‘primeiros’ (passe o pleonasmo) responsáveis?

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