Lavrov ‘lavra’ em Munique uma nova ordem mundial…


A ‘nova ordem mundial’ tem sido repetidas vezes aflorada nos últimos tempos. Desde a queda do muro de Berlim até aos recentes acontecimentos políticos e económicos que começam com a emergência de novas potencias (a China e India são exemplos paradigmáticos) e essa ‘preocupação’ (especulativa) acentuou-se com a eleição de Donald Trump para a presidência da (ainda) maior potencia mundial.
Sergei Lavrov (ministro do Negócios Estrangeiros russo) na Conferência de Segurança de Munique, realizada este ano, teceu considerações sobre essa ‘nova ordem mundial’ invocando uma nova fase a que caracterizou como ‘pós-Ocidente’ link.
 
Em poucas palavras, o ministro russo, apelou ao ‘pragmatismo democrático’ (uma conceção obscura), ao soberanismo (como resposta dos Países à internacionalização) e ao desmantelamento da NATO (que considerou uma ‘relíquia’ da Guerra Fria).
 
Este recado levado por Lavrov ao mais importante fórum de Segurança e Defesa mundial que se realiza em Munique desde 1963 (em plena Guerra Fria) deve ser atentamente ponderado já que ele não representa uma excitação momentânea, mas a posição oficial de Moscovo nestes tempos de indefinição.
 
Na realidade, a ‘nova ordem mundial’ sempre foi considerada uma ‘teoria conspiratória’ para impor um ‘governo mundial’ (supostamente dominado pelos interesses americanos). Não é por acaso que esta reunião se realiza na Baviera. Foi aí que tudo começou com os ‘Illuminati’ nos remotos tempos do ‘século das Luzes’ (séc. XVIII) e onde os jesuítas, na época, tiveram um papel determinante.
Mas voltando ao presente e projetando o futuro, a última reunião de Munique ocorre num momento perturbado e de viragem da política mundial. 
 
No passado, diversos acordos regularam direita ou indiretamente o Mundo, desde o pacto de Bretton Woods (nascido no final da II Guerra Mundial), a ‘paz de Yalta’ (1945), a criação da NATO (1949), o Grupo Bilderberg (1954), o Pacto de Varsóvia (1955), o Tratado de Roma (1957), etc., perderam atualidade e influência na condução dos destinos do Mundo, com a ‘nova fase globalizante’, nascida a partir de 1991. Portanto, no final do século XX a ordem mundial regida por múltiplos entendimentos anteriormente exemplificados e ainda pelos resquícios do início do século XX (revolução bolchevique e fim dos impérios europeus) foi abalada por uma sucessão acontecimentos políticos que revogaram equilíbrios e encerram o capítulo de um Mundo bipolar.
Nada disto foi percebido pelos povos ou adotado pelos Governos e muito menos pelas instâncias internacionais (ONU, p. exº) e tentou-se prolongar situações agónicas de que a ‘transformação expansiva’ da NATO, saindo do casulo do ‘Atlântico Norte’ para um contexto global, é um dos exemplos visíveis.
 
Uma tríade de condições – protecionismo, nacionalismo e populismo – são os ingredientes disponíveis, neste momento, para cozinhar uma ‘nova ordem mundial’.
Entre estes ingredientes o populismo aparece como o fator agregador mais forte. O novo capítulo do relacionamento EUA/Rússia é deveras significativo.
 
A onda 'populista' já conquistou no campo político as duas mais importantes potências mundiais (em termos bélicos e de arsenais nucleares) e poderá, muito em breve, contaminar a Europa.
Claro que existem escolhos, como sejam o caso dos países emergentes (China; India, Japão, etc.) mas ficam disponíveis duas estreitas saídas: a integração nos movimentos populistas ou o confronto armado. A escolha é, portanto, entre o mau e o péssimo.

Foi mais ou menos isto que Lavrov foi dizer a Munique. Nada que não pressentíssemos. O problema é que não existe qualquer resposta organizada para evitar o apocalipse. A Esquerda desmembrada, impotente, com permanentes desvios ideológicos, sem qualquer ímpeto ‘internacionalista’ e o liberalismo (latu sensu), que dedicou estes últimos anos a desacreditá-la e a servir o capitalismo 'selvagem', está agonizante, aparentemente, prisioneiro do populismo. Este foi o caminho para o precipício do dito Ocidente.
 
O filme é este: os cidadãos estão em risco de ser entregues ao livre arbítrio dos mercados, dirigidos por um Governo Mundial, sem qualquer escrutínio. Podemos preparar as exéquias dos regimes democráticos, tal como hoje os conhecemos.
Esta a fase ‘pós-ocidental’ que Lavrov descortinou em Munique (com outras palavras…).

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