21 de Outubro 2017 - o inferno da ruralidade e a reconstrução nacional …
O Conselho de Ministros prepara-se para delinear hoje, 21 de Outubro 2017, um conjunto de medidas para fazer face à sistémica carbonização do País link.
Trata-se de uma atitude reativa aos devastadores fogos que assolaram o Interior feita sob a pressão política do momento – de que o PR é um dos expoentes - e surge debaixo de um clima humanitário pungente, muito próximo do desespero.
Os portugueses estão, face às recentes tragédias, confrontados com circunstâncias de elevada excecionalidade que raiam as fronteiras da rutura. As reformas a desenvolver são, por isso, muito exigentes e não podem – de modo algum – ficar pelos remedeios. É necessário ir à centralidade dos problemas e, não sendo possível resolvê-los por atacado, o melhor será discernir o fundamental do acessório.
Na verdade, o fulcro do problema é a desertificação do interior do País, onde as oportunidades escasseiam e a vida tornou-se uma mera questão de sobrevivência (para a população envelhecida ainda residente).
A floresta desorganizou-se paulatinamente porque foi votada ao abandono e hoje – se excluirmos os investimentos das celuloses, dos aglomerados de madeira e das corticeiras – para pouco mais serve do que um pontual aconchego dos magros orçamentos familiares. Muitos destes beneficiários vivem nas cidades e a floresta é uma miragem exótica, um resquício ancestral, muito distante do sentir e dos olhares.
Medidas para reordenar a floresta, para proceder ao cadastro da propriedade rústica, para promover ‘bancos de terra’, para uma ‘gestão ativa’ do coberto florestal, para salvaguardar os baldios, para rentabilizar a economia rural, transformam-se em atitudes quixotescas se o Interior continuar despovoado.
Claro que é necessário e urgente ressarcir a população local que com abnegação, coragem e sacrifícios tem aguentado este ‘inferno’ e está á beira do esgotamento da capacidade de resistir. Óbvio que terão de ser mudados os procedimentos preventivos e de defesa do espaço rural (e não só da floresta) contra o fogo.
Mas para além desses remendos e ‘ajustamentos’ parciais e a reboque dos acontecimentos o trabalho basilar terá de ser feito por alguém que aí resida e labute não podendo ser telecomandado a partir dos grandes aglomerados urbanos. A reconstrução do devastado meio rural, aquele é denominado como ‘rústico’, só poderá ocorrer com pessoas, pelos chamados ‘vilões’, quando conseguirem libertar-se do circuito da ‘vilanagem’.
Temos exemplos históricos que exemplificam como se pode lidar com problemas desta magnitude. Desde Sancho I, o povoador, à fernandina Lei das Sesmarias, pejada de radicalismos, há variantes para todos os gostos.
Numa época em que o recurso a estímulos para corrigir políticas com resultados recessivos é um instrumento banalizado será difícil justificar a não aplicação da mesma receita ao Mundo Rural que já ultrapassou a fase de depressão (económica e demográfica) para submergir na senda de uma verdadeira destruição.
Existem meios para proceder ‘à alavancagem do Interior’ (para usar os jargões economicistas) que cabe aos estrategas políticos desenvolver.
Será difícil passar ao lado de medidas de discriminação positiva - verdadeiramente expressivas, eficientes e reguladas - no que diz respeito à tributação, à educação, à saúde, à habitação e às atividades culturais, desportivas e de lazer.
Viver no Mundo rural tem de ser compensador. Trata-se de um ambiente desconfortável, agreste e iníquo (em relação às ‘condições urbanas’). Os portugueses que por aí penosamente deambulam, tentando sobreviver, têm de deixar de ser uns labregos ‘matarruanos’ e passarem a ser uns ‘provincianos’ respeitáveis. Peças fundamentais na aquisição da ‘harmonia do desenvolvimento’ (‘sustentável’, dirão os políticos), um desígnio coletivo.
Se não formos capazes de levar isso avante, mais vale fechar a loja para balanço.
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