Notas Soltas – setembro/2017
Praça Alta – No
número de agosto substituí as habituais Notas Soltas, que ora voltam, por uma
crónica inédita. Evitei alusões partidárias em período eleitoral, uma exigência
da ética republicana, apesar de não ser candidato.
Venezuela – Quando
um regime envereda por truques para se manter no poder e prende adversários,
perde a legitimidade e abrevia o fim. O autoritarismo e a repressão atraem a
ditadura de sinal contrário, ansiosa pela vingança e privatização dos recursos
naturais.
Brasil – Quando um
Governo subordina os Tribunais, institui a ditadura, mas quando os juízes
capturam o poder político, subvertem a democracia e o Estado de Direito. Sem
mostrarem maior probidade, juízes brasileiros politizados confiscaram o poder político.
ONU – As sanções
à Coreia do Norte, com apoio dos EUA, Rússia e China, para conter as ameaças
nucleares de Kim Jong-un, foram uma vitória que a incontinência verbal de Trump
fragilizou. Restam os interesses geoestratégicos dos três países e dois líderes
imprevisíveis.
Iraque – Em 1950,
a comunidade cristã atingia 4,5 milhões de crentes. Após a invasão de Bush,
Blair, Aznar e Barroso, e a perseguição do Estado Islâmico, restam cerca de 200
mil. Esta tragédia devia ajudar cristãos e muçulmanos a refletirem.
Al-Jazeera – O
canal televisivo árabe, sediado e patrocinado no suspeito Catar, mostrou
isenção e agilidade informativa dos seus jornalistas. Não admira que países tão
diversos, como Bahrein, Egito e Arábia Saudita ou EUA e Israel, o queiram encerrado.
Barcelona – A
cosmopolita avenida “Las Ramblas” ampliou a geografia do terrorismo que apavora
a Europa e destrói os alicerces da civilização que defende o pluralismo e a
laicidade, pilares da democracia que o mais implacável dos monoteísmos detesta.
Chile – A
aprovação da despenalização do aborto (malformações fetais, risco de vida da
mãe e violação), deveu-se à criança de 11 anos, obrigada a dar à luz o filho do
padrasto que a violava desde os 9. Continua inexequível, por arbitrariedade do
tribunal supremo.
Vaticano – A
visita do Papa Francisco à Colômbia, contestada por católicos ressentidos com o
processo de paz negociado com a guerrilha, foi um ato de enorme coragem para
favorecer a reconciliação que os crentes mais conservadores abertamente repudiavam.
Birmânia – No
obscuro país de tradição ditatorial e prática budista, no curto espaço de duas
semanas, 270 mil muçulmanos, cerca de 27%, fugiram do seu país, em desespero,
para evitarem a limpeza étnica em curso, com a cumplicidade de Aung San Suu
Kyi.
Terrorismo – A
Europa abdica das liberdades que definem o seu padrão civilizacional,
condicionada pelo medo. A defesa da herança iluminista não consente um combate
mais frouxo ao terrorismo de origem religiosa do que a qualquer outro.
Michel Temer – O
corrupto beneficiário do golpe de Estado constitucional que afastou Dilma,
extinguiu uma área protegida de reserva ambiental, na Amazónia (46.000 km2),
indiferentes à desflorestação do pulmão do planeta. Recuou, mas a ameaça
persiste.
Coreia do Norte –
O temível ditador sabe que a renúncia ao programa nuclear o torna candidato ao
mesmo destino de Saddam Hussein e Kadafi. Assim, prefere matar o seu povo à
fome, e manter aterrorizada a Humanidade, a ser despedido e assassinado.
Alemanha – A
vitória da Sr.ª Merkel, cujo sentido de Estado é inegável, não inquieta os
europeístas. O que assusta é a entrada no Parlamento de um partido abertamente
nazi, e em terceiro lugar. A baixa votação da CDU é uma preocupação acrescida
para a UE.
Catalunha – A
exigência autoritária do referendo separatista, para criar um país ‘uno e
indivisível’, é um desafio paradoxal à unidade e indivisibilidade de Espanha,
na deriva nacionalista, de consequências imprevisíveis para Espanha e União
Europeia.
Espanha – A
resposta policial musculada ao problema catalão foi um clamoroso erro de um
governo minoritário, atolado em escândalos de corrupção, cujas consequências
serão devastadoras para as futuras relações entre o governo autonómico e o
central.
França – A
proposta do PR, de uma taxa europeia sobre transações financeiras, é uma medida
adequada para obter recursos para a coesão da UE, mas o governo da coligação
alemã, em formação, com divergências entre os previsíveis parceiros, não a
permitirá.
PR – A deslocação
de Marcelo a Luanda, acompanhado do número dois do Governo, o MNE, na posse do
novo PR angolano, foi uma obrigação de Estado e um esforço para melhorar as
relações exigidas pelos laços históricos e o interesse dos dois países.
Arábia Saudita –
A sinistra ditadura teocrática, onde a sharia decide a vida, irá permitir às
mulheres a condução automóvel negada pelos teólogos que interpretam a vontade
do Profeta. É inaceitável que o petróleo compre a complacência de países
democráticos.
União Europeia –
O crescimento dos partidos populistas, a explosão dos nacionalismos e a
instabilidade que a extrema-direita fomenta, são perigos acrescidos aos
problemas migratórios e à insegurança que os ataques terroristas criam.
Corrupção – A
investigação da Visão à corrupção de câmaras, com factos gravíssimos,
envolvendo Marco António, Filipe Meneses, Agostinho Branquinho, Virgílio
Macedo, Hermínio Loureiro e Valentim Loureiro, parece esquecida. É preocupante o
silêncio!
Banco de Portugal
– A independência dos bancos centrais é um requisito que impõe a neutralidade
política do Governador. O atual titular, fragilizado por atuações discutíveis,
permite-se alinhar os discursos com a oposição ao Governo. Surpreendente!
Comentários