A eutanásia e os fantasmas da Igreja
Há temas, ditos fraturantes, que a ICAR gostaria de silenciar. O aborto, a eutanásia e o casamento de homossexuais são os que mais a crispam e apaixonam. E, no entanto, não são ignorados nem adiadas indefinidamente as soluções legais.
A moral não é universal nem legitima a imposição de todas as normas e, muito menos, a punição pela sua transgressão. O divórcio, por exemplo, é um mal, e deve ser legal. Só a intolerância religiosa e a cumplicidade da ditadura o limitou e, na prática, impediu, até ao regresso à democracia. O adultério é decerto ruim e ninguém, de juízo são, se atreve a propor uma punição legal, mas é bom lembrar que foi esse o crime que levou Camilo Castelo Branco ao cárcere.
Os que se opuseram à descriminalização do aborto foram os que, já depois do 25 de Abril, não aceitavam que o risco de vida da mãe, as malformações fetais e a violação fossem motivos legítimos para a interrupção voluntária da gravidez, como se a lei impusesse a obrigação e não consagrasse apenas a permissão.
O mesmo sucederá com a eutanásia, como já ocorreu com os casamentos homossexuais, cujo precedente existe em vários países europeus, apesar do terrorismo ideológico com que os adversários se opõem. Convém repetir que é um direito que se consagra e não a obrigação que se impõe.
O que surpreende nos adversários das alterações legais liberalizadoras, ou da simples discussão, não são as opiniões que perfilham, é o ódio que nutrem pelas ideias que colidem com as suas.
Há pessoas para quem a liberdade religiosa se confunde com o direito ao proselitismo e a exigência de conversão dos réprobos. Não lhes passa pela cabeça que a conversão e a apostasia, a ortodoxia e a heterodoxia, a devoção e o agnosticismo, a beatice e o ateísmo são direitos que se inserem na liberdade religiosa que, até hoje, só a laicidade do Estado conseguiu tornar efetiva.
A moral não é universal nem legitima a imposição de todas as normas e, muito menos, a punição pela sua transgressão. O divórcio, por exemplo, é um mal, e deve ser legal. Só a intolerância religiosa e a cumplicidade da ditadura o limitou e, na prática, impediu, até ao regresso à democracia. O adultério é decerto ruim e ninguém, de juízo são, se atreve a propor uma punição legal, mas é bom lembrar que foi esse o crime que levou Camilo Castelo Branco ao cárcere.
Os que se opuseram à descriminalização do aborto foram os que, já depois do 25 de Abril, não aceitavam que o risco de vida da mãe, as malformações fetais e a violação fossem motivos legítimos para a interrupção voluntária da gravidez, como se a lei impusesse a obrigação e não consagrasse apenas a permissão.
O mesmo sucederá com a eutanásia, como já ocorreu com os casamentos homossexuais, cujo precedente existe em vários países europeus, apesar do terrorismo ideológico com que os adversários se opõem. Convém repetir que é um direito que se consagra e não a obrigação que se impõe.
O que surpreende nos adversários das alterações legais liberalizadoras, ou da simples discussão, não são as opiniões que perfilham, é o ódio que nutrem pelas ideias que colidem com as suas.
Há pessoas para quem a liberdade religiosa se confunde com o direito ao proselitismo e a exigência de conversão dos réprobos. Não lhes passa pela cabeça que a conversão e a apostasia, a ortodoxia e a heterodoxia, a devoção e o agnosticismo, a beatice e o ateísmo são direitos que se inserem na liberdade religiosa que, até hoje, só a laicidade do Estado conseguiu tornar efetiva.
Comentários
Ecoam ainda nas mentes deste povo pacifico e tolerante os anátemas inquisitoriais que foram estão lançados por organizações ligadas (directa ou indirectamente) à ICAR e, ainda, de organismos socioprofissionais (também pouco emancipados da ortodoxia moral de índole religiosa).
Foram, então, bramidos cenários que se aproximavam do apocalipse.
Passados 10 anos, qual a situação?
Segundo dados oficiais (DGS) a incidência de abortos continua a diminuir no nosso País link.
Entre 2008 e 2015 verificou-se uma queda significativa de abortos realizados em Portugal, poucas reincidência e nenhuma mortalidade materna link.
Alguém ouviu qualquer comentário dessas pias e castas organizações, associações, movimentos, etc. que ‘aterrorizaram’ o País em 2007?
A ICAR penitenciou-se dos anátemas que lançou na praça pública?
É este o triste espetáculo da nossa vida social.