Faz sentido?

As eleições presidenciais que se aproximam têm assentado num conjunto de equívocos que merecem reflexão e que podem ser reflexo da crise económica, social e até de valores que o país atravessa.

O primeiro equívoco assenta na ideia de que um candidato presidencial, sem prévio exercício do cargo, poderá conseguir mais de 60 % dos votos numa eleição em que, de forma fragmentada ou não mas combativa e mobilizadora, existem candidatos que fidelizam ( ou tentam-no) os eleitorados dos partidos que os apoiam; comparem-se as sondagens com as votações de Eanes, Soares e Sampaio num segundo mandato presidencial, junte-se os apoios partidários que eles tiveram nessa reeleição e perceba-se.

O segundo equívoco prende-se com a ideia (escondida) de que o candidato da direita, Cavaco Silva, dará a essa direita a possibilidade de voltar a curto prazo ao poder, derrubando o actual governo. Acreditam muitos que com a eleição de Cavaco Silva, a divisão do PS ( alimentada pelos media no jogo das sondagens) e a agitação social que se possa provocar será possível derrubar o governo.

Nenhum Presidente da República em primeiro mandato se atreverá porque a sua legitimação depende da sua isenção, do esgotar no acto eleitoral da maioria que o apoia. Mas Cavaco não o fará porque a sua visão da governação é economicista, liberal, concorrencial devendo as preocupações sociais enquadrarem-se naquela visão e não o oposto. A ocorrer tal ambição da direita Socrates entraria em confronto, vitimizando-se, invocando o uso do cargo presidencial com motivações políticas e revanchistas para prejudicar, com a instabilidade, os sacrificios que os portugueses estão a ser obrigados a fazer.

O terceiro equívoco é de se pensar que Soares seria cúmplice do governo, por assumir o apoio do PS e às políticas de Socrates. Apenas Soares terá condições de confrontar o governo sem que este se lhe possa opôr. Primeiro,porque durante a campanha eleitoral sempre afirmou que apoiava as reformas do governo mas sem transigir nos direitos, liberdades e garantias. Segundo, porque o Primeiro-Ministro apoiou a sua canditatura. Terceiro, porque o partido que sustenta o governo lhe pediu que fosse candidato, obrigando-o a um desafio para o qual entendia ser devido por outros. Recordemos como Cavaco Silva chegou à maioria absoluta no governo. Foi Soares quem recusou ao PS a coligação com PRD. Seria possível a um Presidente apoiado pelos partidos da direita fazê-lo sem suspeições?

O quarto equívoco assenta na idade e na capacidade dos candidatos. Soares, com 81 anos corre o País, assume desafios, enfrenta multidões, revela disponibilidade fisica e capacidade intelectual.
Outros candidatos mais novos lamentam meios de transporte, distâncias e deslocações. Mas Soares já não tem idade, dizem alguns.

Soares não tem problemas saúde conhecidos enquanto outros desmaiam em público ou são-lhes conhecidos problemas. Mas Soares está muito frágil, dizem alguns. Recorde-se que Sampaio chegou a ser operado e nunca foi questão, como obviamente nunca teria de ser. Mas em Soares tudo é relevante.

As gafes de Soares são problema de idade. As gafes de Cavaco são isso mesmo...gafes!
Que País é este?!

Não interessa aqui e agora pensar quem poderá ser o Presidente da República que o País necessita no momento actual, nem o perfil dos candidatos. O que aqui importa é pensar se não estamos todos a cair num logro eleitoral.