Em defesa do S.N.S.
O Serviço Nacional de Saúde Português (SNS) é francamente bom, apesar dos atrasos nas consultas, dos interesses que o minam, da ineficiência de gestão, dos apetites que desperta e de outros acidentes de percurso.
Tem profissionais competentes, dedicados e eficazes. Muitos. E, naturalmente, alguns oportunistas, madraços e parasitas, como soe acontecer em qualquer sítio. Mas tem, sobretudo, quem o deprecie por má fé, ignorância ou cupidez.
E, ainda assim, é muito bom.
Criticam muitos e poucos defendem o que a todos beneficia. Mais do que mal amado, o SNS suscita ódios de estimação. Ingratidão de muitos, maldade de alguns.
Considerado pela OMS o 12.º melhor serviço de saúde mundial, o SNS desperta apetites vorazes. Em vez de tentarem aperfeiçoar a gestão, pôr cobro a interesses ilegítimos e erradicar o desperdício, é no desmantelamento que os neoliberais insistem.
E então...
Quando um pai vender a motorizada que comprou ao filho, para pagar o tratamento da pneumonia que o rapaz apanhou, vai lastimar-se; quando tiver de se desfazer do automóvel para pagar a operação à vesícula que apoquentou a mulher nos últimos anos, entra em desespero.
Dar-se-á conta da tragédia que lhe bateu à porta quando souber que a assinatura que fez, debilitado, no papel que a mulher lhe estendeu entre lágrimas, foi para autorizar a hipoteca da casa, para poder pagar os internamentos frequentes da doença prolongada que o vitimou, casa que irá ser leiloada por não poder resgatar a hipoteca.
Arrepender-se-á, então, de não ter defendido o SNS e de ter confiado nos partidos que lhe prometiam liberdade de escolha dos cuidados de saúde. Sabe que não tarda em deixar viúva e filhos sem a casa onde julgou que iriam brincar os netos. Porca de vida.
E que raio de gente por quem se deixou induzir. Nem o atestado de indigente que lhe dará acesso aos últimos paliativos o desaflige.
E então...
Leva consigo o remorso.
Comentários
Nestes tempos de neo-liberelismo sobre o S.N.S. há que esperar uma OPA hostil dos grupos (privados) de saúde - Bancos, seguradoras, etc... aos Hospitais, C Saúde...às EPE's.
Para os utentes a promessa do céu cá na terra...e a certeza de que vão continuar a contribuir com impostos (contribuições)para sustentar os negócios... destes figurões que se autoproclamam "empreendedores"
o que seria deste país se não existisse o SNS. a mortalidade seria muito superior, a esperança de vida muito mais baixa.
o que é revoltante é assistir ao desperdício de recursos e ao desinvestimento no SNS
Seria bom olharem para as estatisticas de saúde de há 35 anos e para as mais recentes.E já agora garanto-vos com conhecimento de causa,porque trabalho na saúde, que nem será necessário deixar correr de novo um quarto de século para ver o retrocesso sobretudo na saúde infantil. Era bem jovem quando foi dado a conhecer o projecto do SNS num pequeno livro de capa cinza escura que guardo ainda hoje pela sua importância simbólica na minha estante.Julgava este SNS indestrutível e um direito adquirido, mas parece sentir um cheiro a queimado...talvez se aguarde o apoio do próximo prresidente e do seu corpo médico de apoio, constituido por alegres fadistas para executar novas medidas e reformas da saúde.
Terão sido proteladas por acaso ou por se saber do apoio do actual presidente ao SNS ?