O regresso manso do fascismo

A implosão da URSS foi vista com generalizada alegria, como a queda de um sistema ditatorial à escala mundial, num país onde o atraso crescia face aos Estados Unidos e à Europa, e onde os direitos, liberdade e garantias eram frequentemente postergados.

O capitalismo venceu porque, para além de ter assegurado os direitos individuais e de ter integrado a consciência social, popularizou o consumo e fez sonhar o mundo edílico onde a educação, saúde e assistência rivalizavam com os melhores índices alcançados nos países comunistas.

As liberdades e os níveis de bem-estar fizeram da Europa e dos EUA espaços onde se realizaram os anseios dos povos e se concretizaram os sonhos de numerosas famílias.

Passou despercebido o contributo das matérias-primas obtidas nos países onde existiam regimes autoritários e corruptos, desprezou-se o carácter finito dos combustíveis fósseis, a energia eficiente e barata que permitiu níveis de bem-estar a duas gerações, antes de se repensar o modelo de desenvolvimento, garantir a equidade e assegurar sustentabilidade ao planeta cujos limites físicos são incompatíveis com o consumo, a poluição e a bomba demográfica em contagem decrescente para deflagrar.

Agudizadas as contradições internas do capitalismo, cada vez mais selvagem, com uma crise cíclica que não se sabe se vai ser a última, chegam ao poder, por via democrática, os partidos reacionários e os dirigentes subservientes ao capitalismo mais despóticos e aos interesses mais obscuros. E já não há – como havia – o contrapeso da velha URSS.

Com o ultraliberalismo à solta, instalam-se no poder os velhos e novos fascismos, hoje pela via democrática, amanhã, quando a pressão popular os quiser apear, pela força das armas e pela repressão policial.

Cabe aos democratas não apenas combaterem o fascismo que regressa mas repensar os modelos de economia sustentável, com respeito pelos direitos humanos e a garantia da democracia que aprofunde o seu carácter político, económico e social.

Um boçal edil de Lugo, do PP, declarou que “os condenados à morte por Franco, mereciam-no” - lê-se no El País, ontem. Não basta execrar o violento vómito, urge impedir o regresso manso do fascismo de que a alarve afirmação desse biltre é a lúgubre metáfora.

Comentários

FM disse…
Se o contentamento pela queda da URSS foi geral ou não, não sei. Mas que não foi encarado como um bem por toda a gente. E não falo dos comunistas. Falo de todos os que se interessam pela politica internacional sem dogmas nem obediências castrantes...

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides