Na morte de Eusébio, uma glória desportiva

Por respeito a Eusébio imponho-me 3 dias sem ver canais televisivos portugueses. É a forma de respeitar o ídolo de milhões de portugueses e o modo de evitar que abutres, com o cadáver ainda insepulto, me entrem dentro de casa.

Só precisa de declarar o apreço pelo notável jogador quem duvida de si próprio ou quer aproveitar-se do defunto. O Governo vê esquecidas as patifarias com que contornou o chumbo do OE à convergência de pensões, Cavaco passa pelos pingos da chuva da sua conivência e o País, pesaroso, esquece a morte lenta a que o condenam.

Não está em causa o respeito que me merece Eusébio mas não queiram fazer de mim o imbecil que não tem a noção das proporções. Faço ideia da quantidade de figurantes e figurões que aproveitam a missa para aparecerem na TV, os requebros de voz de alguns ministros que disfarçam a emoção que os desempregados lhes não merecem, os gatos pingados que tiram a naftalina ao fato preto para mostrarem a mágoa que parece bem.

Um país que só se mobiliza na morte acaba por desistir da vida. Eusébio era demasiado grande para quem se serve dele no exagero das cerimónias fúnebres.

Quando um PR emite um simples comunicado na morte do único Nobel da Literatura, a cujo funeral se poupou, e não se coíbe de fazer um longo elogio fúnebre a Eusébio, não é o valor desportivo e humano do atleta que está em causa é a falta de sentido de estado.

Uma única frase do PR merece o meu apoio total: «A melhor forma de homenagear Eusébio é seguir o seu exemplo». Espero que Cavaco se dedique ao futebol.

Eusébio merecia mais respeito.

Comentários

Agostinho disse…
Muito bem.

As televisões são simplesmente indecentes. Os exageros parecem-me sinal de estupidez, assim o povo cada vez é mais pequenino.
Respeitem Eusébio guardando na memória as alegrias que ele nos deu.

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