A deriva nacionalista e ultraliberal da União Europeia (EU)

Milton Friedman foi provavelmente o economista mais influente da segunda metade do século XX e a influência deletéria, que o brilhante académico e excecional comunicador exerceu, subsiste. A sua teoria é hoje o catecismo capitalista que excluiu os mais fracos e acumulou 50% da riqueza mundial nas mãos de 62 pessoas.

Beneficiário do New Deal, de Franklin D. Roosevelt, que permitiu a sua sobrevivência e a de jovens economistas, tornou-se o principal teólogo de uma nova religião. Líder do grupo ultraliberal, ‘bando de Chicago’, foi consultor do Partido Republicano dos EUA e moldou o capitalismo, convertido à vulgata ultraliberal, cruel e amoral, de que Ronald Reagan, Margaret Thatcher e João Paulo II foram as referências políticas.

A URSS, em fase de implosão, facilitou o uso da democracia política como argumento estimulante, para acelerar a queda do comunismo, e acabou por ser mero pretexto para a imposição de uma ditadura do capital financeiro. O Chile foi o laboratório da primeira experiência, que só resultou graças à repressão violenta e assassínios seletivos.

O ultraliberalismo está para o capitalismo como o Antigo Testamento para as religiões monoteístas, irrevogável e totalitário. Não será uma maldição vitalícia, mas deixará um rasto calamitoso, com o poder económico a comandar a política e o capital financeiro a determinar a ideologia.

A UE, refém do modelo único imposto pelo FMI, BCE, CE, agências de rating, PPE e outros agentes do terrorismo financeiro, vai deslizando para modelos fascizantes de que o último susto foi a eleição presidencial austríaca onde toda a esquerda, aliada a toda a direita de rosto humano, venceu a extrema direita por escassos 0,6% dos votos, precária vitória que prenuncia o triunfo extremista nas próximas eleições legislativas.

Na segunda-feira foi o Partido da Liberdade da Áustria que esteve à beira da vitória, um partido que há década e meia a UE não tolerava. Em breve poderá ser poder, depois das próximas eleições legislativas. A Polónia e a Hungria já se renderam à extrema-direita. Frente Nacional (França), Partido Nacional Democrático (Alemanha), Aurora Dourada (Grécia), Partido dos Finlandeses, Partido do Povo Dinamarquês, Partido da Liberdade (Holanda) e Liga Norte (Itália) são monstros que, como a Hidra de Lerna, matam com o seu hálito.

O Partido Popular Europeu (PPE), hegemónico, cada vez pior frequentado, anda muito preocupado com o eleitorado ibérico, enquanto adapta a pituitária ao hálito que exalam os partidos, atrás referidos, que caminham para o poder.

Conheço da História uma conjuntura semelhante. Nasci durante a guerra que ateou.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
Entretanto, por cá, vamos vivendo requentados episódios do "Free To Choose", ou seja, do emblemático livro de M. Friedman, onde se enaltece e incensa os 'mercados' (supostamente livres, auto-reguladores, concorrenciais e etc.).
Na actual agenda da política de educação sobre a valorização, desenvolvimento e requalificação da Escola Pública têm vindo a lume vários argumentos mas os defensores do direito de escolha nunca falam abertamente de um perverso "mercado educacional". Se o fizessem entravam em conflito direto e primário com o articulado constitucional em vigor. Preferem andar por vias travessas e mobilizar criancinhas e respetivos pais (representando 3% da rede escolar) à volta de espúrios conceitos qualitativos e de abusivas liberdades externas, i. e., sustentadas pelo erário público.
Todavia, a fundamentação última para tentar contrariar a derrogação dos contratos de associação (supérfluos) está no livro acima referido que evitam citar ou mencionar para não se comprometerem...
Se o fizessem lá se ia a sua hipócrita 'neutralidade' ideológica.

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