O PR, os políticos de cristal e a síndrome de esquerda
Marcelo Rebelo de Sousa vive em lua de mel com os portugueses. Neste momento teria aumentado a percentagem de votos que o dispensou da segunda volta, de acordo com as sondagens, mas não se livra do coro de críticas de alguma esquerda com necessidade de afirmação ou de imitar Cavaco, “eu bem avisei”, como se houvesse mérito na previsão do que se espera do atual inquilino de Belém.
Quem acompanha a política, conhece o passado e o pensamento do PR, sem esperar que o político conservador se confunda com a esquerda que cada um deseja. É por isso que, face ao comportamento exemplar de cooperação que tem mantido com os outros órgãos de soberania, se afigura prematura, imprópria e contraproducente a campanha de quem, também à esquerda, parece não se conformar com a normalidade democrática.
A crítica é prematura porque não ultrapassou as competências institucionais, imprópria porque não respeita o período de nojo a que a derrota do(s) [nosso(s)] candidato(s) deve obrigar e contraproducente porque revela ressentimento e aparenta ausência de espírito democrático de quem critica.
Os que criticam o PR, sem uma pausa, sem benefício da dúvida, sem verem a diferença entre o que saiu e o que veio, sem esperarem por razões mais substantivas para a crítica, parecem políticos de cristal, designando aqui o cristal não no sentido que a química e a mineralogia lhe atribuem, mas referido a vidros cuja elevada transparência e qualidade não impede a sua enorme fragilidade.
É esta fragilidade que temo nos que foram demasiado benevolentes com Cavaco e nos que, por estarem prematuramente contra, perdem credibilidade nas críticas que fizerem quando o atual PR der razões evidentes para ser criticado.
Como derrotado que fui nas eleições presidenciais, não me sinto no direito de o criticar por não me rever no seu pensamento, mas fá-lo-ei quando, e se, trair a lealdade que deve à Constituição, manifestar um projeto de poder pessoal ou reincidir em gestos de duvidoso espírito republicano e laico, como sucedeu no deplorável beija-mão ao Papa.
Até lá, é o meu PR, de um quadrante político de que sou adversário. A síndrome de esquerda acaba por descredibilizar, limitar a pedagogia cívica e beneficiar a direita. Não se afigura séria, útil ou inteligente a antecipação das críticas.
Quem acompanha a política, conhece o passado e o pensamento do PR, sem esperar que o político conservador se confunda com a esquerda que cada um deseja. É por isso que, face ao comportamento exemplar de cooperação que tem mantido com os outros órgãos de soberania, se afigura prematura, imprópria e contraproducente a campanha de quem, também à esquerda, parece não se conformar com a normalidade democrática.
A crítica é prematura porque não ultrapassou as competências institucionais, imprópria porque não respeita o período de nojo a que a derrota do(s) [nosso(s)] candidato(s) deve obrigar e contraproducente porque revela ressentimento e aparenta ausência de espírito democrático de quem critica.
Os que criticam o PR, sem uma pausa, sem benefício da dúvida, sem verem a diferença entre o que saiu e o que veio, sem esperarem por razões mais substantivas para a crítica, parecem políticos de cristal, designando aqui o cristal não no sentido que a química e a mineralogia lhe atribuem, mas referido a vidros cuja elevada transparência e qualidade não impede a sua enorme fragilidade.
É esta fragilidade que temo nos que foram demasiado benevolentes com Cavaco e nos que, por estarem prematuramente contra, perdem credibilidade nas críticas que fizerem quando o atual PR der razões evidentes para ser criticado.
Como derrotado que fui nas eleições presidenciais, não me sinto no direito de o criticar por não me rever no seu pensamento, mas fá-lo-ei quando, e se, trair a lealdade que deve à Constituição, manifestar um projeto de poder pessoal ou reincidir em gestos de duvidoso espírito republicano e laico, como sucedeu no deplorável beija-mão ao Papa.
Até lá, é o meu PR, de um quadrante político de que sou adversário. A síndrome de esquerda acaba por descredibilizar, limitar a pedagogia cívica e beneficiar a direita. Não se afigura séria, útil ou inteligente a antecipação das críticas.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
EXACTISSIMAMENTE...Sabemos quem é o actual PR(de onde vem, mais precisamente), mas temos de saber "pôr em prática" aquilo que apregoamos enquanto esquerda - a democracia é para todos...e o "nosso" actual Presidente tem sabido exercer o seu "carisma" de forma positiva!
Para além da sua hiperatividade (sobejamente conhecida) existirá nas prestações que vem fazendo algo mais a que poderemos chamar um projeto político.
No semipresidencialismo do regime - como está constitucionalmente definido - poderá caber muita coisa e existirão várias tonalidades.
A visita oficial a Moçambique apresentou nuances que devem ser desencriptadas. O papel presidencial na definição da política externa tem de ser balizado.
A estada em Maputo tem alguns pormenores inquietantes. Um deles é o 'ar de improviso' (ou de autossuficiência) que se pode inferir quando se observa uma visita de Estado (do PR) sem um acompanhamento ministerial mínimo.
Uma das questões que não deve ser indefinidamente iludida é a sua consonância com a atual maioria parlamentar.
Será por julgar que esta situação abre o espaço de uma atuação presidencial mais profunda?
Raramente lhe ouvimos salientar (ou até invocar) o carácter parlamentar do regime...