Notas Soltas – janeiro/2017

ONU – Guterres, iniciou funções de secretário-geral, no primeiro dia do ano, exortando os líderes mundiais a alcançarem a paz. Com os conflitos em curso e Trump a chegar à Casa Branca, a paz fica cada vez mais ameaçada. Há demasiados loucos à solta.

Almaraz – Enquanto o Governo português alega que não estão avaliados os impactos transfronteiriços da construção do aterro de resíduos nucleares na obsoleta e perigosa central, e recorre para Bruxelas, o Governo espanhol insiste, ali, no cemitério nuclear.

Birmânia – A crueldade contra as minorias, num país onde a ditadura militar teima em não sair de cena, é um caso dramático de intolerância religiosa de que têm sido vítimas cristãos e, sobretudo, os muçulmanos, numa orgia de terror a lembrar o Estado Islâmico.

Aquecimento Global – A administração Trump contesta evidências, e o Planeta perde a capacidade de adiar a tragédia. Os cientistas garantem que não parou entre 1998 e 2014, com novos e sucessivos máximos em 2015 e 2016, com registos começados em 1880.

Oceano Ártico – O aquecimento supera ali o dobro do resto do mundo. Os 8 milhões de quilómetros quadrados de gelo, em setembro (mês de maior retrocesso), passaram para os atuais 3 a 4 milhões. O desastre agrava-se no Oceano que deixou de ser Glacial.

Mário Soares – Faleceu o maior vulto desta II República. Foi preso 13 vezes pela Pide, deportado por Salazar, exilado por Marcelo Caetano e nunca desistiu. Do antifascista de sempre, fica o exemplo cívico do Homem de rara dimensão cultural e política.

Marrocos – A proibição da burqa é uma decisão corajosa. O exótico adereço é a marca do anacronismo religioso, o símbolo da escravatura da mulher e privação da identidade, com o perigo da ocultação do rosto para a segurança pública.

Espanha – Uma jovem, que não conheceu o primeiro-ministro Carrero Blanco, redigiu uma piada no Twitter, com imagem do atentado que vitimou o general fascista. Gracejar com a morte pode ser mau gosto, mas a hipótese de prisão é ainda herança franquista.

CDS – Nuno Magalhães ao referir o “processo de descolonização apressado”, na morte de Mário Soares, desconhece que Portugal perdeu a guerra e a descolonização durou 13 anos, já sem alternativa. Foi ignorância, rancor ou síndrome de “Pied-Noir” do CDS.

China – Parecia um país apenas preocupado com o seu próprio desenvolvimento, mas a inépcia e irresponsabilidade dos tweets de Trump já conduziram os dirigentes a proferir ameaças que costumam preceder os confrontos.

Rússia – Putin, cuja frieza e aptidão para ser popular no seu país, apesar da crise criada pela baixa do preço do petróleo e agravada com sanções da UE e EUA, pode ser tentado a redefinir as fronteiras perante os ataques de Trump à UE.

União Europeia – Não bastavam o garrote financeiro dos países do Sul, a emergência de partidos populistas na área do poder, o Brexit, a crise dos refugiados e o terrorismo. Surgiu a agenda fascizante de Trump, à escala global.

Reino Unido – Arrisca separar-se da Escócia e Irlanda do Norte, mas ensaia uma saída extremista da UE. Se o habitual alinhamento político com os EUA se frustrar, Theresa May arruína as suas ambições, depois de arruinar o seu país e a UE.

PPE – O Partido Popular Europeu, cada vez mais à direita, com a eleição do presidente do Parlamento Europeu passou a dominar todas as instituições comunitárias. No aspeto simbólico, a UE é um clube conservador e liberal, alheio aos povos que integra.

Papéis do Panamá – Os promissores documentos, que deviam ajudar o combate contra a corrupção, foram entregues ao jornal Expresso e à TVI. Ignora-se se andam perdidos, se falta espaço para a divulgação ou se comprometem quem não deviam.

Turquia –  O parlamento votou uma revisão constitucional que reforça os poderes do Presidente e legitima o referendo para uma reforma que permitirá a Erdogan continuar no poder até 2029. Mais uma ditadura islâmica a cercar a Europa.

PR – Um ano após a eleição não fez de mim um adepto, mas conquistou o meu respeito. Tem sido um referencial de estabilidade, com grande sentido de Estado e patriotismo. A sua cultura, inteligência e isenção resgataram a dignidade do cargo.

Brexit – A Suprema Corte britânica decidiu, por 8 votos contra 3, que o governo terá de consultar o Parlamento para iniciar o processo de saída da União Europeia. Não mudará o resultado, mas foi uma vitória da democracia representativa sobre a referendária.

Mikhail Gorbachev – O ex-presidente da URSS avisa que a situação mundial é "muito perigosa". Trump e Putin, “líderes de duas nações que detêm 90% do arsenal nuclear mundial, têm responsabilidade especial” e devem “arranjar uma solução para o mundo”.

Brasil – Após o golpe de Estado constitucional que levou Michel Temer à presidência, a recessão, agravada pela política económica do atual governo, baixou a cobrança de impostos para o pior nível desde 2010. O crime não compensou.

França – François Hollande, defendeu em Lisboa que a Europa deve mostrar a Trump que “não é protecionista nem fechada”, mas “uma garantia e um espaço de liberdade e de democracia”. Termina a presidência sem glória, mas sai a defender a civilização.


Vaticano – A coragem e firmeza do Papa Francisco contra o racismo e a xenofobia que vêm do outro lado do Atlântico, pode revelar a sua impotência, mas é a marca que fica da grandeza ética e coragem cívica da civilização que moldou o cristianismo. 

Comentários

Manuel Rocha disse…
É com sincera mágoa que leio pessoas que aprendi a considerar pelo seu sentido critico, alinharem em narrativas sem sequer produzirem um pequeno esforço para questionar o que escrevem.


«Aquecimento Global .... Os cientistas garantem que não parou entre 1998 e 2014, com novos e sucessivos máximos em 2015 e 2016, com registos começados em 1880.»

Acha mesmo que os métodos e técnicas de recolha de dados no seculo xix compara directamente com o que se têm vindo a generalizar a partir dos anos 90 do sec XX ?!


Oceano Ártico ..., em setembro (mês de maior retrocesso), passaram para os atuais 3 a 4 milhões....»

Verificou a fonte desta informação ? Em que tipo de observação se baseia ?!
Manuel Rocha,

Obrigado pelo seu comentário.

Fico-lhe grato se fizer o contraditório,
Manuel Rocha disse…
O contraditório à questão do gelo do Artico é fácil, basta ler o report do DMI: http://ocean.dmi.dk/arctic/icecover.uk.php

No restante, qualquer pesquisa sobre problemas de fiabilidade em metrologia climática ou a leitura de estudos de fiabilidade comparativa estações clássicas vs estações automáticas, esclarece o ponto. Se não encontrar nada satisfatório diga que terei todo o gosto em lhe enviar alguns links.

Cumprimentos.

MR
Manuel Rocha,

Agradeço-lhe o link e a informação. Vou, como é minha obrigação, documentar-me.

Engano-me muitas vezes, mas jamais procuro enganar.
Manuel Rocha disse…
Carlos Esperança,

Não sugeri que procurasse enganar. Apenas lamentei a sua "fé" nas narrativas dominantes.
Este tema é complexo. Como o que é mediado nem sempre corresponde ao que é divulgado, e sem contexto, a confusão potencia-se.

Gostava de lhe deixar um link para um artigo da Nature que ilustra certas derivas, mas não consigo.
Deixo a referência: é no nº 486 de Jun 2012, intitulado "Climat models at their limit? "


e-pá! disse…
Sem querer meter a foice em seara alheia, julgo uma das fontes que o C. Esperança recorreu terá sido o IPCC - Fifthy Assessement Report (AR 5) publicado pela WHO (OMS) e UNEP (United Nations Environment Programe).
Digo isto porque a evolução descrita no post é coincidente com a que foi adiantada no referido relatório e foi uma das informações sobre ambiente e clima muito difundida.
Sobre a credibilidade científica deste documento nada posso adiantar já que se trata de um campo onde sou leigo, mero observador, pejado de múltiplas ignorâncias.
Manuel Rocha disse…
e-pá!,

A questão da credibilidade cientifica do IPCC será pertinente mas ela acaba por ser marginal na motivação do meu comentário inicial.

O que me motivou a prosa tem mais a ver com o "acreditar" do que com a "credibilidade".

O V blogue , e bem, nunca se acanhou para atacar de frente os jogos de poder que se escondem por detrás das narrativas das mais diversas religiões. Mas depois trata a produção cientifica como se ela nada tivesse a ver com as agendas dos seus intervenientes, como se correspondesse a uma verdade revelada ou a descoberta do fim da história. Ou seja, lida com ela com uma atitude de "fé". E é a suspensão voluntária do sentido critico nestas matérias que sinceramente me fascina. E então pergunto-me: o que é que pode levar pessoas como o CE a não questionar que interesses serve toda esta telenovela em redor do comportamento de uma dinâmica ( climática ) cuja inconstância está sobejamente documentada ?!




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