Há meio século…

Está a fazer cinquenta anos que os alunos e alunas do Liceu Nacional da Guarda ficaram retidos durante a tarde de um sábado, sob ameaça de processo disciplinar para os que faltassem, enquanto o general Humberto Delgado não saísse da cidade.

O Dr. Ferreirinha, dirigente da Mocidade Portuguesa, a organização fascista juvenil do salazarismo, procurou servir-se de uma farsa de Gil Vicente, «Quem tem farelos», e da sua linguagem pícara, para distrair os estudantes.

O epíteto com que Ordoño era solicitado a esperar foi devolvido ao professor por um dos alunos, impaciente entre a multidão, ansioso por ir dar vivas a Delgado. Os insultos tornaram-se frequentes e cada vez mais provocatórios. O Dr. Ferreirinha fingiu não ouvir, engolindo o insulto, por subserviência ao reitor e frete à ditadura. Dessa vez não houve participação, nem inquérito, nem suspensões.

Só saímos quando o general abandonou a cidade. A leitura da farsa terminou aí. O liceu, que serviu de cárcere, foi para muitos alunos o lugar de reflexão sobre a liberdade.

Na derrota eleitoral da ditadura, que se seguiu, logo transformada em vitória sua, no clima de medo, desconfiança e terror, no ar sinistro do reitor, na cobardia e conivência dos professores, havia já os sinais premonitórios do assassínio que os esbirros da PIDE haviam de cometer com a cumplicidade do frio e implacável ditador Salazar.

A repressão é muitas vezes o método mais eficaz para ensinar o gosto pela liberdade.

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