As eleições italianas

Não, não porei em causa a decisão dos eleitores, o respeito pelas regras democráticas e a legitimidade dos eleitos. Em Itália ou na Venezuela. Na Madeira ou no Zimbabué.

Nunca pus em causa a legitimidade do sufrágio directo, secreto e universal que pauta as minhas convicções. Todavia, o respeito pelas regras não impede a crítica, a frustração e a revolta por algumas consequências.

A eleição de Sílvio Berlusconi, por margem folgada e com indiscutível legitimidade democrática, não apaga os receios de uma maioria cujo líder conseguiu unir a direita democrática com o que a Itália tem de pior: a máfia, o clero reaccionário e a economia subterrânea, não lhe faltando o apoio separatista e o fascista, com a inefável Alessandra Mussolini, a honrar o apelido e a herança política, numa exuberante cruzada xenófoba.

O próprio Berlusconi, a contas com a justiça, tem um longo passado de fuga ao fisco e obstrução à justiça. É difícil compatibilizar os interesses do italiano mais rico, dono de três televisões, agências de publicidade, seguros e do clube de futebol de Milão, com os interesses do Estado e o respeito pela independência dos Tribunais. Os antecedentes são, aliás, perturbadores.

Berlusconi, ninguém duvida, é um homem rude, malcriado e arrogante, com rudimentar respeito pelas regras e instituições democráticas. É um Alberto João Jardim à dimensão de um grande país, apto a fazer a síntese do pior que a Itália tem. Não é um príncipe da Renascença, é pior do que o Príncipe idealizado pelo culto florentino Maquiavel.

Berlusconi não é apenas um perigo para Itália, é uma ameaça para a Europa onde o populismo e a falta de escrúpulos deixarão de ser um óbice para a conquista do poder.

Talvez seja cínico dizê-lo mas cada país tem a direita que a esquerda merece. Em Itália, parece.

Comentários

Anónimo disse…
Desde o desaparecimento de Aldo Moro e de Enrico Berlinguer, a Itália nunca mais teve políticos à altura das suas responsabilidades. O sistema político degenerou, minado que foi pela corrupção e pelas ligações dos políticos à Mafia. A uma democracia não basta uma Constituição,a existência da separação de poderes e eleições livres. Necessita também de políticos honestos e competentes que mobilizem os cidadãos para as causas nacionais. E esses políicos não existem nos dias de hoje nas democracias ocidentais. Muito menos em Itália, onde o cenário é desolador. E o mais grave, é que a italianização vai propagar-se a outros países europeus.
e-pá! disse…
A HECATOMBE DO COMUNISMO ITALIANO

O Partido Comunista Italiano (PCI) um partido com uma invejável trajectória histórica quer de lutas quer de personalidades, não estará representado no próximo Parlamento italiano.
Um partido fundado por uma grande referência da Esquerda europeia - Antonio Gramsci, já teve um terço dos votos, não conseguiu o mínimo necessário para ter 1 (um) representante nas 2 Câmaras.
É mais um dos partidos comunistas que não resistiu à vaga de dissoluções do início dos anos 90, que não conseguiram, nem libertar-se, nem fixar-se, dos conceitos e princípios ortodoxos.
Viraram num caldo insosso adoptável por idiotas, poliglotas e polemistas. Esvaziaram-se de pessoas - o que é compreensível - mas, também, ideológicamente.

O PCI resolveu “refundar-se”. Nascem o Partido Democrático de Izquierda (PDI), e o Partido de la Refundación Comunista (PRC),
Ambos acabaram por entregar de bandeja o poder a Silvio Berlusconi.

O PDI teve uma evolução centristra e mudou todas as referências políticas e sociais. Tornou-se no “partido yankee”, deitou no caixote do lixo Berlinguer e começou a venerar o “progressismo” (?) e pensou sobreviver à sombra de Kennedy. O mais próximo desta meteórica transmutação, do qual me recordo, foi aquela tentativa da 3ª via de Blair, também denominada de “atlantista”, que acabou naquela tragédia do Iraque.
Neste seu trajecto o PDI renegou todos os símbolos que lembrassem as lutas de trabalhadores e símbolos da esquerda comunista. … Uma lavagem ideológica com direito a caiar o frontispício. …
O PCI resistiu mais tempo.
Manteve a simbologia até há 2 anos.
Apoiou os movimentos sociais antineoliberales, mas isso não chega. Hoje, é uma tarefa mais para ONG's.
Teve o privilégio de poder contar com um líder mobilizador, radical, comunicativo - Fausto Bertinotti. Finalmente, caiu na esparrela de integrar o governo Prodi e perdeu toda a credibilidade.
Quase toda a Esquerda é acusada de ter permitido, de modo directo ou indirecto, o regresso de Berlusconi… e, o pior, com razão!
Um desastre!
Perante tanta inoperacionalidade até os grupos trotskistas aproximaram-se das organizações advindas das dissoluções comunistas.
Perante tal situação Bertinotti declarou que o comunismo ia ser uma “corrente cultural” no interior de una organização plural …
Um grémio literário?
Uma tertúlia?
Anónimo disse…
Claro, claro. Como não ganhou a esquerda vem aí o fim do mundo. Quanta presunção saloia...
Anónimo disse…
A análise de e-pá encontra-se solidamente fundamentada, evidenciando um profundo conhecimento da vida política italiana. Acrescento, no entanto, uma pequena achega. O Partido Comunista Português foi o único a manter a sua matriz ideológica original e a não deixar encantar-se pelos ventos da pretensa modernidade da refundação, sujeitando-se às acusações torpes de continuar a praticar uma orientação ortodoxa retrógrada. Sobreviveu, embora perdesse votos e deputados.
Anónimo disse…
Caro troglodita esp.

Il cavalieri é um exemplo de democracia.
Ganhou eleiçoes, perdeu-as e voltou a ganha-las sempre com todo o respeito pelas regras e vontade do povo italiano. Sem presunçoes intelectuais e sempre apresentando soluçoes para os problemas que a esquerda burrucráta e subserviente aos lobis de bruxelas, ao gay e ao pedofilo, não conseguem apresentar.

NO PARLAMENTO ITALIANO HA TRAVESTIS MAS NAO HA PEDOFILOS.
Anónimo disse…
Porque é que o Berlusconi mais uma vez aparece a fazer o sinal da besta? Das duas uma, ou gosta de Heavy Metal ou alguns conspiradores podem não estar totalmente errados quando falam nisso.
Anónimo disse…
La foto es antigua; sale Piqué......

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