O Comandante não se embebedou
A inefável D. Catalina Pestana disse, em tempos, numa entrevista à televisão, que era muito amiga de Paulo Pedroso. A afirmação seria inócua se, dias antes, não tivesse dito à PJ – como se soube depois – que confiava nos depoimentos que o incriminavam.
Aceita-se que a piedosa senhora, amiga do peito e da missa, de Bagão Félix, nos longos anos de trabalho da Casa Pia nunca tivesse suspeitado de abusos de crianças. Vê-se que as almas pias, sempre com os olhos no Céu, são alheias à maldade do mundo.
Não importa, pois, que Paulo Pedroso, que viu a vida política destruída, não tenha sido sequer acusado e que o juiz que procedeu à prisão preventiva, discreto, com televisões atrás, em pleno Parlamento, tenha sido acusado, por isso, de erros grosseiros.
Em declarações de ontem ao Correio da Manhã, D. Catalina afirmou que «Nenhum juiz disse que Pedroso era inocente», o que é verdade. Também nenhum juiz afirmou que D. Catalina fosse uma mulher honrada.
Esta inocente suspeição que D. Catalina lançou, distraída a rezar alguma salve-rainha, trouxe-me à memória o relatório de bordo de um navio de passageiros em que o abstémio comandante, farto das bebedeiras do imediato, escreveu um dia: «Hoje o oficial (fulano) embebedou-se, afirmação que lhe destruiria a carreira.
No dia seguinte, o alcoólico imediato, na folga do comandante, escreveu no diário: «Hoje o Comandante não se embebedou». O que era verdade todos os dias.
Aceita-se que a piedosa senhora, amiga do peito e da missa, de Bagão Félix, nos longos anos de trabalho da Casa Pia nunca tivesse suspeitado de abusos de crianças. Vê-se que as almas pias, sempre com os olhos no Céu, são alheias à maldade do mundo.
Não importa, pois, que Paulo Pedroso, que viu a vida política destruída, não tenha sido sequer acusado e que o juiz que procedeu à prisão preventiva, discreto, com televisões atrás, em pleno Parlamento, tenha sido acusado, por isso, de erros grosseiros.
Em declarações de ontem ao Correio da Manhã, D. Catalina afirmou que «Nenhum juiz disse que Pedroso era inocente», o que é verdade. Também nenhum juiz afirmou que D. Catalina fosse uma mulher honrada.
Esta inocente suspeição que D. Catalina lançou, distraída a rezar alguma salve-rainha, trouxe-me à memória o relatório de bordo de um navio de passageiros em que o abstémio comandante, farto das bebedeiras do imediato, escreveu um dia: «Hoje o oficial (fulano) embebedou-se, afirmação que lhe destruiria a carreira.
No dia seguinte, o alcoólico imediato, na folga do comandante, escreveu no diário: «Hoje o Comandante não se embebedou». O que era verdade todos os dias.
Comentários
Catalina Pestana prestou imensas horas de depoimentos no processo da Casa Pia.
Grande parte desses depoimentos são indirectos.
Isto é, resultam de conservas havidas com terceiros. O valor destes, é relativo se, posteriormente, não forem confirmados pelos citados.
A sua participação neste processo, foi em grande parte na qualidade de assistente do processo.
Logo, é parte interessada no mesmo. O que lhe confere menor peso em relação aos depoimentos prestados por testemunhas.
De qualquer maneira, o processo Casa Pia conta com demasiadas vítimas de pedofilia entre os alunos desta Instituição, para não chocar o País. Mas, em Portugal, não temos, por hábito, constituir em processos Procuradores Especiais.
Estatuto, aparentemente, almejado por Catalina Pestana.
Em Portugal, a Justiça, bem ou mal (muitas vezes mal), segue o seu curso, não sendo admissíveis excepções, nem pressões.
E, neste longo trânsito deste processo, já houve demasiadas!
O que podemos lamentar é toda a condução deste processo que, desde os primeiros momentos, foi intensamente politizada. Quer por políticos, quer pelos diversos tipos de investigadores intervenientes no longo processo, a começar no rocambolesco juiz de instrução…
De lamentar, também, a demora em haver um desfecho (uma sentença)., por sucessivas dilações dos múltiplos intervenientes, com especial responsabilidade pelos variados causídicos encarregues da defesa dos arguidos.
Quando chegar o dia do veredicto vai parecer que este se refere a algo que se viveu nas calendas gregas...
Entretanto, o caminho percorrido ficou pejado de cadáveres: crianças, educadores, políticos e responsáveis pela Instituição, como foi Catalina Pestana - mesmo antes da denúncia pública dos inqualificáveis factos…
Catalina Pestana prestou os depoimentos que achou necessários para o esclarecimento da verdade. Colaborou com o Tribunal.
Ela, própria, não deve esquecer que teve responsabilidades na direcção de alguns colégios da Casa Pia, antes de rebentar o escândalo.
De certo modo, ou em certa medida, foi negligente.
Quando é que tem a noção de que deve manter-se discreta e silenciosa, como aliás a maioria dos portugueses e fica a aguardar serenamente o trânsito em julgado?
A verborreia fácil e permanente e a sede de protagonismo já chateiam...