EGIPTO: 10.02.2011 – “o dia da frustração”…
Hosni Mubarak dirigiu-se hoje - pela 2ª. vez desde o início da crise - aos egípcios num clima de crescente crispação política e intranquilidade social.
Nos últimos dias saltou para o exterior a imagem um certo distanciamento do contestado Presidente das tarefas da governação, nomeadamente, daquelas que mais directamente têm a ver com o actual levantamento popular. As negociações com as diferentes forças de oposição foram protagonizadas pelo recém-nomeado vice-presidente e elas seriam fundamentais para delinear a mudança do regime, ou na pior das hipóteses, para a sobrevivência do regime sem Mubarak.
Aparentemente divorciado destes desenvolvimentos políticos nos últimos dias cresceu a expectativa de uma resignação que, face a actual relação de forças, pretendia ser “honrosa”. O Conselho Supremo das Forças armadas reuniu-se hoje, pela 3ª. vez, em 30 anos. Das vezes anteriores as reuniões decorreram por causa do conflito árabe-israelita. Este facto, parecia indicar que se estava a preparar uma transferência de poderes, sob a alta vigilância das forças armadas.
Criou-se, portanto, um extenso leque de probabilidades em que as expectativas de mudança cresceram.
O discurso de Mubarak frustrou todas essas expectativas. Limitou-se a delegar algumas competências no vice-presidente, pretendendo manter a supervisão [mesmo que à distancia] da transição até Setembro. Rejeitou as pressões da comunidade internacional, incluindo os seus aliados de ontem, assumindo-se como um guardião de uma inviolável soberania, facto que não se verificou com essa plenitude e força nos 30 anos de exercício de poder. Todavia, essa rejeição neste momento, serve as intenções do regime. Fez apelos afectivos aos seus contestatários, afirmando “estar a falar com o coração”…
Na verdade, jogam-se na actual situação do Egipto importantes cartadas no equilibrio de poderes nessa conflituosa região que ultrapassam o orgulho e o nacionalismo. Estão em confronto profundas opções estratégicas para o Médio Oriente.
Mas, também, existe um povo em estado de levantamento popular que, por mais malabarismos que o regime teça, não tem sido ouvido.
Mubarak quer, à viva força, fazer parte da solução quando é o grande problema. A multidão que, hoje, o ouviu na Praça Tahrir mostrava evidentes sinais de desespero. A instabilidade política poderá crescer e caminhar do actual levantamento popular para a insurreição. Depois deste discurso, percepciona-se que as Forças Armadas não poderão manter, por muito mais tempo, a posição passiva, aparentemente neutral, que têm publicamente exibido. No momento que forem obrigadas a intervir, vão impor a ordem pública e assumir o poder - com ou sem Mubarak.
Até lá continuaremos com os olhos e os ouvidos na Praça Tahrir… Aí também se podem tomar decisões que venham a tornar-se soberanas. Caso acreditemos que o grande protagonista da História é o Povo.
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