Esta Lisboa d’outras eras…

O anúncio da candidatura de Fernando Seara à Câmara Municipal de Lisboa link é aparentemente um ‘acidente’ autárquico que visa importar candidatos para cobrir insuficiências, mas observando melhor representa uma manobra que se enxerta na ofensiva governamental para tentar consolidar-se no poder.
Esta ‘arrancada’ ganhou peso à volta de um mirífico sucesso com a ‘ida aos mercados’…

O apoio ‘conjugado’ a esta candidatura pelo PSD e CDS mostra exactamente isso. Ainda hoje no programa da TSF “Gente que Conta” foi possível ouvir e constatar um escorregadiço resvalar (um ‘lapsus linguae’) para a verdadeira situação que, no fundo, estará em causa. Seara disse que terá sido convencido a concorrer pela insistência, nos últimos dias, do primeiro-ministro e de Paulo Portas. Atenção, não ‘ouviu’ as razões do presidente do PSD, mas sim do ‘primeiro-ministro’!

A instrumentalização do Poder Local para fins políticos nacionais não é uma novidade, muito embora seja sistematicamente desvalorizada pelo Poder Central. Tem existido uma intromissão permanente e continuada (muitas vezes sub-reptícia) na política nacional. É um facto constante no regime saído do 25 de Abril, que acertadamente reavivou o ‘municipalismo’ democrático, e o ponto mais visível dessa 'intromissão' terá sido a demissão de António Guterres da chefia do Governo, na sequência de um desaire eleitoral autárquico (Dezembro de 2001). link.

Um outro exemplo, noutra dimensão, terá sido a ‘alavancagem’ que o ‘aparelho autárquico’ deu à candidatura de Passos Coelho para liderança do PSD, em Maio de 2008, através de Fernando Ruas, um ‘eterno’ presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP), transformado em seu mandatário nacional. link.
Todavia, o acto mais relevante de envolvimento da política autárquica no âmbito nacional terá sido protagonizado por Jorge Sampaio, em 1989, com a apresentação – enquanto líder do PS – da sua candidatura à presidência da Câmara de Lisboa, através de uma coligação (PS/PCP/Verdes/UDP/PSR – 'Por Lisboa') que saiu vencedora link , êxito que repetiria em 1993 . Aí, na luta pela Câmara de Lisboa, enfrentou Marcelo Rebelo de Sousa (que haveria de ser um futuro presidente do PSD) e Paulo Portas (actual presidente do CDS)…
Uma vez chegado aos Paços do Concelho, Sampaio mostrou-se decidido a afrontar e a desafiar o inquilino de S. Bento (Cavaco Silva).

Este 'encadeamento' de acontecimentos não deverá ser considerado fortuito, nem marginal, em relação à situação que começa a esboçar-se à volta das próximas eleições em Lisboa (2013), bem como, em tudo aquilo que possa parecer – ou vir a ser – próximo ou coincidente com a situação política vivida, no final do século XX, na capital. Um 'revisitar' estratégico.
A ‘chave do problema’ poderá estar numa desapaixonada e lúcida análise da História recente da democracia (e dos partidos) na olisiponense cidade. 

Enfim, ou como reza a velha canção: ‘esta Lisboa d'outras eras, dos cinco réis, das esperas…

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