Macário Correia. Era uma vez...
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Era uma vez um ajudante de ministro, pitoresca expressão de um político medíocre que os acasos da fortuna guindaram a primeiro-ministro de um país em estágio democrático, para designar os secretários de Estado.
Uma vez esse secretário de Estado, em cruzada contra o tabagismo, meritória campanha que havia de atingir laivos de histerismo, afirmou à comunicação social que beijar uma fumadora era o mesmo que lamber um cinzeiro. Tenho a convicção de que a analogia só era possível a quem nunca tivesse beijado uma fumadora ainda que ao narrador falte a experiência do termo de comparação.
Um dia, esse secretário de Estado voltou às origens e iniciou uma carreira autárquica. Foi eleito presidente da Câmara Municipal de Tavira onde, ao que se diz, não fez mais ilicitudes do que é uso, em matéria de licenciamentos. O Supremo Tribunal Administrativo, face às acusações, condenou-o à perda de mandato, quando já presidia à Câmara de Faro. Recorreu da decisão, à semelhança de todos os autarcas, em igualdade de circunstâncias, para o Tribunal Constitucional, que confirmou a perda de mandato.
Nesta altura os netos já estariam a dormir, com a avó ocupada noutras tarefas, ou uma das senhoras dos salões rendida aos encantos do sedutor e a história terminava.
Na vida real as histórias são diversas e variam de Felgueiras para a Nazaré, da Lourinhã para Gondomar, de Oeiras para a Madeira. Há valentins e valentões. Dos últimos é o de Faro, ao anunciar que vai manter-se no cargo depois de o Tribunal Constitucional ter confirmado a sua perda de mandato. E, para mostrar a fibra, avisou que nada o impede de se recandidatar. O povo é quem mais ordena! Isaltinará até que a voz lhe doa.
Para disfarçar, ensaiou uma pirueta, com imaginados efeitos suspensivos, solicitando ao Tribunal Constitucional que aclarasse o acórdão que confirmou a perda de mandato. Era mesmo a sério? Ele vai manter-se no cargo.
E agora? Ninguém prende os Conselheiros que condenaram o Sr. presidente da Câmara?
Já não há Justiça.
Comentários
2. Também me parece que o Macário nunca beijou nenhuma fumadora... É como a fábula da raposa e das uvas: "estão verdes, não prestam".
Por outro lado, parece que, se - por hipótese meramente académica - mulheres fumadoras como Angelina Jolie, Penélope Cruz ou Julia Roberts quisessem beijá-lo, Macário afastar-se-ia, enojado. Hum... ele há cada gosto...