O pluralismo encolhe
Caros amigos (poucos), simpatizantes (alguns) e conhecidos (muitos),
Cumpro o «doloroso dever» de participar – para gáudio de quem detesta as minhas opiniões e não me pode ver nem pintado – que fui esta tarde «removido», por telefone, do programa «Frente-a-Frente» da SIC Notícias, no qual participava desde o ano de 2004.
Digo «removido», porque me parece ser um bom compromisso entre o termo «dispensado» (politicamente correcto) e os termos «despedido» ou «corrido» (politicamente incorrectos).
Justificações da «remoção»: i) necessidade de «renovar» a lista de «paineleiros», naturalmente «remoçando-a» (presumo que um velho rezingão como eu será substituído por um daqueles moçoilos geniais que agora dirigem o PS); ii) deixar de pagar as participações no «Frente-a-Frente» (150 euros cada uma), porque a SIC Notícias está paupérrima e passará a aceitar apenas «voluntários» (claro que tiveram o cuidado de não me perguntar se eu queria ser um deles…).
Terminam assim 17 anos consecutivos de colaboração com órgãos de comunicação social do grupo «Impresa»: oito anos e meio como cronista do EXPRESSO, de que fui removido no auge da invasão do Iraque; outros oito anos e meio como colaborador da SIC Notícias, de que fui removido no auge da «guerra» declarada há poucos dias pelo «megafone» de Vitor Gaspar, Pedro Passos Coelho. Suponho que é uma «guerra» contra a esmagadora maioria dos portugueses, que continuam a empanturrar-se de bifes todos os dias…
Mas é claro que não deixa de ser exaltante imaginar a satisfação que esta notícia irá causar em figuras tão proeminentes como a augusta vice-presidente (da AR) Teresa Caeiro, o austero advogado José Luís Arnaut ou o venerável empresário Ângelo Correia – que se recusavam a enfrentar-me há já alguns meses com o beneplácito dos responsáveis pelo programa.
Não ignoro, todavia, que o gáudio não se confina ao chamado «arco do poder», nos seus três tons habituais: cor de laranja azeda, azul cueca e cor-de-rosa fanada. Também vai entrar de roldão em alguns órgãos de comunicação social do regime, politicamente correctos, onde não faltam opinadores tão chatos ou peneirentos como «intocáveis», e digníssimos «pilares» do statu quo que não apreciam dissidências políticas nem franco-atiradores (a não ser quando haja escândalo que aumente as audiências e/ou os leitores).
A única coisa que se me oferece dizer, sem me rir, neste momento, é a seguinte: quando se perde poder ou a aparência dele, por mais ínfimo que seja; quando não se tem a protecção de um partido, ou de uma «igreja», ou de uma associação «cívica» semi-clandestina, ou de um grupo de pressão, ou de um «sacristão», ou de um «patrão», ou de um «padrinho», etc., etc., etc. – o «lonesome cowboy» escusa de armar ao pingarelho, e não tem outro remédio se não o de meter a viola no saco e ir para a caça aos gambozinos.
Saudações democráticas,
Alfredo Barroso
Ponte Europa - Homenagem ao espírito independente de Alfredo Barroso
Comentários
- Ou está pura e simplesmente a ser 'amordaçado'?
Não sou 'amigo' ou 'conhecido' do Dr. Alfredo Barroso. Nem sequer um seu 'simpatizante'.
Gostava de 'ouvir' (só isso!) as suas argumentações frente a frente aos 'moços de recados' dos partidos coligados para o exercício do Poder, porque traziam à discussão algo de novo, de importante e de esclarecedor.
A sua colaboração na SIC-N foi pautada pelo permanente questionamento de 'verdades absolutas', dos 'diktats' que, na actual conjuntura, cada vez mais, empestam os comentários políticos.
Alfredo Barroso não era - nem poderia ser - um comentador 'orgânico'. Logo, tornou-se 'incómodo', quiçá, inconveniente ou, até, 'desadequado'. Não entrava no jogo de fingir opôr-se,... concordando.
Os actuais tempos são de 'remoção' dos 'escolhos', i. e., dos defensores da liberdade, dos espíritos independentes, dos personagens esclarecidos, portadores de uma cultura política trabalhada e vivida, etc.
Por fim, nos areópagos do comentário político, rigorosamente vigiados, restarão os 'serventuários', os 'carreiristas', os 'beneficiários', os 'colaboradores', os 'cúmplices'...
Neste dramático contexto, neste iníquo processo de 'ajustamento', Alfredo Barroso, estava a mais.
Solidarizo-me com Alfredo Barroso, subscrevendo na íntegra o comentário de e-pá!