O Islão, a fé e a liberdade
O suspeito de atacar um soldado em Paris é, à semelhança do
que ocorreu em Londres, outro convertido ao islamismo que o ministro do
Interior francês designou «defensor
de um islamismo tradicionalista e radical», como se houvesse um islamismo
diferente.
Esquecem as almas piedosas, habituadas a crer em afirmações
para as quais não exigem provas, que o respeito pelas outras religiões ou pelas
ideias dos não crentes não tem o mais leve acolhimento nos textos sagrados de
qualquer monoteísmo, donde se conclui que o alegado apelo ao ecumenismo não
passa de um golpe de marketing para disfarçar a vocação totalitária do
proselitismo.
Se a Igreja não tivesse sido politicamente reprimida no
Ocidente, não teria sido possível o livre-pensamento. A liberdade religiosa só
foi aceite pela Igreja católica no Concílio Vaticano II, sem evitar o posterior
azedume de Bento XVI e o mais absoluto repúdio da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) cujo antissemitismo demente levou à
cisão com o Vaticano, que a excomungou, para voltar a ser desexcomungada por
Bento XVI.
Os crentes moderados são fundamentalistas sedados ou
detentores de uma fé que os leva a acreditar em dias alternados ou a desconfiar
em intermitência.
O combate às crenças religiosas (não a perseguição aos
crentes) é uma necessidade para evitar a detonação do ódio e dos crimes daí
resultantes, porque há uma ligação evidente entre as crenças e a ação.
Como é que um islamismo moderno e não radical, se o
houvesse, entenderia estas duas passagens do alcorão?
- «Ó Profeta! Combate os descrentes e os hipócritas! Sê
implacável com eles. E a sua morada é o Inferno – e que péssimo destino. (9:73)
- «Ó fiéis, combatei os vossos vizinhos incrédulos para que
sintam severidade em vós; e sabei que Deus está com os tementes. (9:133)
A tolerância generalizada no mundo islâmico para com os
comportamentos terroristas dimana do próprio Islão que, para além do Corão,
conta com a literatura dos hadiths
que o excede. Basta um único exemplo para se apreciar o carácter pacífico do
Islão:
«A jihad é o teu dever sob qualquer governante, seja ele
ímpio ou devoto».
Muitos crentes católicos, que nunca leram o Levítico ou o
Deuteronómio, ou que apenas os ignoram, ficam ressentidos com a persistência na
denúncia dos crimes religiosos mas a obstinação em frases sem sentido, como
«islamismo tradicionalista radical», é suicida.
São expressões politicamente corretas, mas falsas, que
fomentam a condescendência com os crimes religiosos, como se a fanatização de
crianças em nome da fé diferisse da preparação para integrar uma associação de
malfeitores laicos.
A cumplicidade dos Governos laicos com as religiões
dominantes retira argumentos à luta contra a dominação do poder e das
consciências pelas religiões mais implacáveis.
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