Religiões e democracia
Todas as religiões se consideram as únicas verdadeiras, tal como o seu deus. Cada uma considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas e, provavelmente, todas têm razão. Os ateus só consideram falsa mais uma religião e um deus mais. Em certa medida todos somos ateus.
E somo-lo, não apenas na aceção grega, em que um ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, mas também na aceção atual, na descrença num ente superior imaginário, e, ainda, em relação a Zeus, a Shiva, ao Boi Ápis e à multidão que aguarda, nas páginas da mitologia, os deuses atuais.
No soneto «Divina Comédia», de Antero de Quental, os homens perguntam, com voz triste, «deuses, porque é que nos criastes»? E os deuses respondem, com voz ainda mais triste, «homens, porque é que nos criastes»?
A crença, em si, não é apenas legítima, é um direito que cabe ao Estado laico assegurar. O que assusta é o proselitismo dos que não lhes basta a sua crença e a procuram impor a outros, a violência que usam para agradar ao deus que lhes ensinaram desde a infância ou àquele que os seduziu numa qualquer fase da vida.
Infiéis são os fiéis da concorrência e os descrentes de qualquer fé, e que devem gozar de igual proteção, quer pertençam a uma seita ou religião poderosa. A seita é a religião de minorias e a religião é a seita globalizante. Todas têm direitos e deveres e não se aceita que sejam exoneradas do respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O pluralismo é uma exigência democrática a que nenhum deus devia poder esquivar-se. Há para com os crimes praticados em nome das religiões uma condescendência que não existe para outras associações ou ideologias profanas. Porquê?
O nazismo é reprimido mas o totalitarismo religioso é tolerado. A democracia não deve consentir quem a combata, não pode conformar-se com os vírus que a ameaçam. Não se compreende que uma religião que não aceita as outras nos países onde é dominante e escraviza os que aí vivem, possa gozar de igualdade de direitos nos países que ameaça.
Com que legitimidade se permitem mesquitas aos crentes de uma religião que não aceita igrejas, pagodes, sinagogas ou templos às outras religiões? A Europa, onde se recrutam soldados de um deus cruel e vingativo, continuará a aceitar a divulgação de manuais que apelam à guerra santa e a deixar circular os pregadores que destilam ódio nos sermões e aliciam terroristas para a guerra santa?
O pluralismo, conquistado com a sangrenta Guerra dos Trinta Anos, em Vestefália, não pode ser posto em causa por ideologias que pretendem a exclusividade do mercado da fé e a eliminação da concorrência. Basta de cobardia para com as crenças. Urge resguardar os crentes dos fenómenos racistas detonados pelo medo à sua fé. E o medo existe.
A democracia é incompatível com o totalitarismo pio e belicista que anda à solta.
E somo-lo, não apenas na aceção grega, em que um ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, mas também na aceção atual, na descrença num ente superior imaginário, e, ainda, em relação a Zeus, a Shiva, ao Boi Ápis e à multidão que aguarda, nas páginas da mitologia, os deuses atuais.
No soneto «Divina Comédia», de Antero de Quental, os homens perguntam, com voz triste, «deuses, porque é que nos criastes»? E os deuses respondem, com voz ainda mais triste, «homens, porque é que nos criastes»?
A crença, em si, não é apenas legítima, é um direito que cabe ao Estado laico assegurar. O que assusta é o proselitismo dos que não lhes basta a sua crença e a procuram impor a outros, a violência que usam para agradar ao deus que lhes ensinaram desde a infância ou àquele que os seduziu numa qualquer fase da vida.
Infiéis são os fiéis da concorrência e os descrentes de qualquer fé, e que devem gozar de igual proteção, quer pertençam a uma seita ou religião poderosa. A seita é a religião de minorias e a religião é a seita globalizante. Todas têm direitos e deveres e não se aceita que sejam exoneradas do respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O pluralismo é uma exigência democrática a que nenhum deus devia poder esquivar-se. Há para com os crimes praticados em nome das religiões uma condescendência que não existe para outras associações ou ideologias profanas. Porquê?
O nazismo é reprimido mas o totalitarismo religioso é tolerado. A democracia não deve consentir quem a combata, não pode conformar-se com os vírus que a ameaçam. Não se compreende que uma religião que não aceita as outras nos países onde é dominante e escraviza os que aí vivem, possa gozar de igualdade de direitos nos países que ameaça.
Com que legitimidade se permitem mesquitas aos crentes de uma religião que não aceita igrejas, pagodes, sinagogas ou templos às outras religiões? A Europa, onde se recrutam soldados de um deus cruel e vingativo, continuará a aceitar a divulgação de manuais que apelam à guerra santa e a deixar circular os pregadores que destilam ódio nos sermões e aliciam terroristas para a guerra santa?
O pluralismo, conquistado com a sangrenta Guerra dos Trinta Anos, em Vestefália, não pode ser posto em causa por ideologias que pretendem a exclusividade do mercado da fé e a eliminação da concorrência. Basta de cobardia para com as crenças. Urge resguardar os crentes dos fenómenos racistas detonados pelo medo à sua fé. E o medo existe.
A democracia é incompatível com o totalitarismo pio e belicista que anda à solta.
Ponte Europa / Sorumbático
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