Turquia e Erdogan
Os resultados das eleições turcas permitem, desde já, um suspiro de alívio. Embora Erdogan tenha vencido as eleições com maioria absoluta os resultados apurados não de lhe dão a margem suficiente para mudar a constituição.
No futuro, a 'questão turca' continuará a ser um factor de indefinição e de instabilidade na resolução dos problemas que afectam o Médio Oriente, mas a nível orgânico e interno permanecerá alguma tensão residual embora, os resultados obtidos pelo seu partido (AKP) permitam assegurar o controlo da governação.
A estabilidade daí advinda vai continuar a conflituar com uma ‘querela constitucional’ alimentada pelo presidente Erdogan, acerca do regime herdado de Ataturk e que ainda não ficou resolvida. Não será ainda desta vez que Erdogan logrará ver satisfeita a vontade da sua proclamação como um novo sultão. Se esse dia alguma vez chegar a Turquia passará a ser mais um problema para o flanco euro asiático da Europa.
Para já, a maioria absoluta conseguida pelo partido de Erdogan é subsidiária do engrossar das fileiras à custa de uma transferência de votos da extrema-direita que perdeu quase metade dos deputados. Não sabemos o que o governo tutelado, de facto, pelo presidente, irá fazer. Não seria de admirar que utilize esse reforço eleitoral (em relação aos resultados de há 5 meses) contra a minoria curda tentando diminuir a sua influência política e acentuando clivagens que remontam ao século passado.
Enquanto perdurar esta incógnita é previsível que Erdogan aproveite para melhorar a sua imagem externa. Merkel já começou a ajudá-lo. Este um primeiro saldo resultante das eleições de domingo e que passa pelo relacionamento entre a Turquia e a nova crise europeia, resultante das dificuldades e bloqueios no tratamento do problema dos refugiados.
Um outro problema, mais grave, será a atitude dúbia de Ankara em relação ao Daesh. As ligações cada vez mais evidentes entre Erdogan e a Irmandade Muçulmana não permitem antever por que razão existe, agora, tanta pressa para integrar a Turquia na UE.
Já tivemos mais longe da compreensão destas piruetas e malabarismos.
Comentários