O reino do petróleo e algumas embrulhadas situações …
A queda dos preços do barril de petróleo tem espantado os consumidores pelo simples motivo de que os preços nas bombas de gasolina não reflectem essa descida. Ficamos a saber – pelas informações das empresas que comercializam produtos petrolíferos - que o custo da matéria-prima e as descidas de custo do produto final não estão directamente relacionadas. Para as subidas já não será bem assim.
A colonização dos preços de um produto de importância vital para a economia por custos de transformação, armazenamento e distribuição é um espelho de como um selvático e insaciável parasitismo invadiu e controla a área de comercialização energética.
Existem muitas interpretações para esta rápida queda dos preços do crude. Mas detrás de todas as explicações existem um denominador comum: Arábia saudita.
E as recentes alterações nos lugares de topo da família real saudita ocorridas após a morte de Abdullah estarão, por certo, nas inflexões mais recentes da política do petróleo e externa. Ambas são fundamentais para o futuro da família Saud como dona do reino do deserto.
Todavia, o grande desafio saudita são os equilíbrios geoestratégicos no Médio Oriente. E a disputa pela liderança nesta área do globo entre a Arábia Saudita e o Irão. Riad nunca apoiou a negociações com Teerão e não deseja o levantamento de sanções económicas impostas pelo Ocidente a este país.
Para prevenir uma alteração substancial nos equilíbrios Riad forçou a descida do preço do crude de modo a que os aiatolas não possam usufruir, no imediato, de um desafogo económico e sedimentar a sua posição.
Mas com esta medida além de atingir o Irão provocou outros efeitos colaterais (Rússia, Venezuela, Brasil, Angola, Nigéria, etc.) e, em última análise, ameaça interferir com os interesses dos EUA que julgavam ter adquirido a independência energética com a extracção do petróleo e gás do xisto betuminoso (shale oil).
As mudanças que ocorrem no Médio Oriente são obscuras e imprevisíveis. Para já a Arábia saudita parece ter perdido a partida com o acordo entre o Irão e os EUA sobre a questão nuclear que lançará Teerão no mercado do petróleo.
Mas o grande enigma será o filho do actual rei saudita – Moahmed bin Salman – que exerce, de facto, o poder em Riad. É, simultaneamente, ministro de Estado, ministro da Defesa, presidente da comissão para as reformas económicas, presidente da companhia nacional de petróleo (Aramco), secretário do tribunal real e, finalmente, o designado herdeiro do trono. É difícil desligá-lo da recente intervenção no Iémen e absolvê-lo da recente decapitação do líder xiita na Arábia saudita.
E a pergunta é: até que ponto Washington controla Moahmed bin Salman e até quando suportará a família Saud no poder e a controlar o mercado petrolífero?
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