Relações de Estado: púdicas ou vergonhosas? …


O presidente do Irão, o clérigo Assan Rouhani,  está em visita oficial à Itália, depois de 16 anos de gueto link .
Roma recebeu-o afavelmente com o intuito de restabelecer relações e celebrar negócios com um País acabado de sair de um longo bloqueio imposto pelo Ocidente.

Para não ‘escandalizar’ o presidente iraniano Roma mandou tapar as estátuas ‘desnudas‘ que povoam o(s) célebre(s) Museu(s) Capitolino(s) link . Entre elas a Vénus Capitolina que se reproduz na foto (em todo o seu esplendor) e que ‘habita’ (embeleza) o Palácio Novo, no monte do Capitólio, num nicho especial.

Quando um País renega a sua imperial e ancestral cultura, para melhor fazer negócios, poucas dúvidas restam de que o Ocidente está a caminho do declínio.

Esperemos que se um dia o Presidente italiano visitar Teerão as mulheres iranianas povoem as ruas e os edifícios públicos despidas das suas burkas...

Comentários

Jaime Santos disse…
Pessoalmente, duvido que Rouhani se tivesse escandalizado com a Vénus Capitolina. O gesto foi de deferência para com o Presidente Iraniano para lhe evitar críticas pelos duros do regime. De recordar o escândalo que ocorreu no Irão quando o igualmente reformista Kathami foi fotografado num banquete em que se serviu vinho, creio que em Espanha. No dia em que cobrirem as estátuas para não ofenderem os visitantes muçulmanos em dias de expediente normal ou obrigarem as mulheres iranianas residentes em Itália a cobrir-se, aí preocupo-me. Mas fazer isto durante uma visita de Estado não me parece desadequado. E quanto à decadência do Ocidente, ela deve-se sobretudo à transigência em valores essenciais como os direitos humanos para conseguir uns negócios, não porque ajudamos o Presidente de um certo País a fazer de falso pudico durante uma visita de Estado...
e-pá! disse…
Bem.
Melhor atitude tomou a França – sem pretensões de defesa da coerência de François Hollande - quando cancelou um banquete oficial a ser oferecido ao presidente Rouhani, porque o protocolo iraniano tentou impedir que, durante o repasto, fosse servido vinho... link.
Jaime Santos disse…
Pois, precisamente, eu preferiria que Hollande participasse no dito banquete sem vinho e não andasse a esticar o estado de emergência em França, ação que nada tem que ver com valores verdadeiramente republicanos. E não se esqueça que o militarismo va-t'en-guerre que ele anda a cultivar desde Novembro é o principal inimigo das Repúblicas e que já liquidou várias, a começar na Romana sob César e Augusto e a acabar na Americana. Aliás, conhecendo a falta de espinha dorsal de Hollande, suspeito que só cancelou esse banquete para não ser acusado de suposta fraqueza por Marine Le Pen e Sarkozy. Lembro-lhe ainda que o Irão é uma peça fundamental na luta contra o ISIL e que os iranianos não andam a destruir as suas obras de arte, mesmo que não as mostrem a todas. O que por vezes me desagrada no vosso excelente trabalho, sobretudo o seu e do Carlos Esperança, é que de tanto rasgarem as vestes contra o suposto clericalismo que ainda existe por aí, se esquecem que poderão estar a alienar importantes aliados, que sendo pessoas de fé, defendem também o Estado Laico e a República, aparte as diferenças. Até o Papa Francisco, que defende abertamente a separação entre o Estado e a Igreja, porque já percebeu que ela protege a liberdade dos crentes, é um aliado. E, quem sabe, o próprio Rouhani, que deve ter que trazer a Teocracia na lapela a contragosto, noblesse oblige... E, se um reza pelo outro, eu fico contente, não porque acredite que isso adiante alguma coisa, mas porque demonstra boa vontade e respeito mútuo, que são absolutamente necessários para resolvermos esta embrulhada em que estamos metidos...
De cedência em cedência até à sharia.
e-pá! disse…
Na realidade, acabaram os tempos em que a Europa impunha - pela força, pela razão ou ainda pela religião - ao Mundo os seus modelos políticos, económicos, sociais e culturais.
Todavia, não estou disponível para abdicar dos modelos onde fui criado, pelos quais me bati e, cada vez mais debilmente, vigoram.
A outra razão é que (ainda) acredito neles e, se calhar, porque já sou velho. Não estou satisfeito - nunca estive - mas qualquer mudança (que aceito) tem de ter uma matriz democrática. Na verdade, esta é para alguns (os mais 'crescidos') um labiríntica encruzilhada.
Sobre Hassan Rouhani confesso que não sei o que é um clérigo xiita 'reformista' e causa-me impressão atitudes como a que se verificou em Itália, aparentemente 'capitulacionista' (não tem nada a ver com capitolinas - nem museus, nem a Vénus).
Jaime Santos disse…
Nem foi preciso esperar muito, Taubira demitiu-se porque a França se prepara para mudar a sua Constituição e retirar a nacionalidade a indivíduos condenados por crimes de terrorismo e nós andamos a discutir se a sharia nos entra pela porta das traseiras porque aceitámos tapar umas estátuas para não ofender um dignitário de um País Muçulmano de visita. Não sei se a sharia já entrou, agora que o fascismo está a bater na porta da frente, cortesia de um Partido dito Socialista, acossado pela Extrema-Direita, isso é mais do que certo... E, graças ao medo do islamismo, a Dinamarca esquece as suas obrigações para com os refugiados de guerra, vítimas desse mesmo islamismo, e passa uma lei que lhes confisca os poucos bens que conservam, só para lhes dizer que ali não são bem vindos. Os antepassados desta gente, pelo contrário, não se coibiram de ajudar os judeus que viviam na Dinamarca, muitos dos quais não eram dinamarqueses e sim refugiados.

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