Orçamentos, pobrezas atávicas e vilanagens….

Até aqui eram as reuniões do Eurogrupo e do Conselho Europeu onde a Srª. Merkel punha e dispunha das políticas nacionais a seu belo prazer. Neste momento a chanceler anda muito ocupada com os problemas dos refugiados e terá delegado funções.

O esquema é o seguinte: obrigar os governos nacionais a apresentarem à Comissão Europeia um esboço de orçamento o mais rapidamente possível. Uma vez recebido – algumas vezes horas após a sua recepção - começa uma viciosa discussão pública através de conferências de imprensa, sucessivas, onde se martela o ‘carácter irrealista’, o ‘optimismo militante’, o ‘desfasamento da realidade’, a 'necessidade de prosseguir (ad eternum) as reformas estruturais', etc., que serão sistematicamente identificados como erros praticados pelos governos proponentes. 
Esta devassa pública compromete as negociações (os orçamentos são sempre documentos resultantes de estudos e negociações) e lança no ar um incontrolado alarmismo. Tudo isto é mau mas ainda há pior. 
Nesta fase de discussão – estamos perante um esboço orçamental – este perturbador método incendeia as agências de rating que, desde logo, e antes de qualquer documento final, avançam com ameaças de desqualificação link .

Até há pouco tempo estas agências de notificação eram seres mal-amados. Na altura, até se falou da criação de uma agência europeia para obviar às iniquidades e sacanices. Hoje, como se pode observar na vozearia da oposição (CDS/PSD), estas agências tornaram-se ‘credíveis’ instrumentos no combate político link.
Esta vergonhosa colagem tem dois nomes que podemos desde já antecipar: subserviência e antipatriotismo.

O Orçamento é um documento fundamental para a gestão de um País. Tem diversas componentes que podem ser sintetizadas em dois vastos campos: a vertente técnica que passa pelo estudo e análise dos cenários macroeconómicos previsíveis e as opções políticas que cabem aos governos e que são ideologicamente determinadas. Não existem orçamentos pragmáticos 'tout court'.

Claro que existe o chamado ‘Pacto de Estabilidade e Crescimento’. Todavia, para os organismos europeus a estabilidade faz-se à invariavelmente custa de austeridade e sacrifícios e o crescimento é sempre mítico, condicionado e incerto de modo a alimentar a impossibilidade de reduzir o endividamento (que está na génese desta intolerável submissão). 
E o Pacto não é um documento que tenha o mesmo valor para todos. França, Itália e Espanha, por exemplo, aplicam o Pacto como lhes convém e do modo que querem. Isto é, para uns, é uma “regra de ouro” e, para outros, um acabado modelo de ‘flexibilidade’.

No dia em a ‘visitante’ troika ou os comissários europeus aparecerem em público a propor medidas que beneficiem os cidadãos e famílias deveria ser decretado feriado nacional e passarmos 3 dias em carnavalescos festejos.

Para já, quem não tem motivos para festejar é a Oposição que se mostra incapaz de enunciar programas políticos alternativos e resolveu ‘adesivar-se’ às advertências das ‘agências de rating’ que ontem verberava. Esta sim, é a verdadeira e endémica pobreza que nos inunda e que se chama servidão. 
A associação da atávica pobreza com a vileza oportunista não passa de um trágico conluio.

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