Um primeiro olhar pelas presidenciais…


As eleições presidenciais de 2016 vieram a confirmar que algo está mal no quadro político nacional. Ou seja, muito embora haja um ‘tempo novo’ a ser vivido no campo governamental esta inovação não contagiou as presidenciais. Logo, o País parece renitente em absorver a mudança. A constatação deste desfasamento não é indiferente e deve estar presente nas opções de futuro.

Desde logo observa-se um quadro assombroso e nada condicente com a realidade sociológica do País. De uma profusão de candidatos (10) observa-se a seguinte originalidade: oito reclamam-se de esquerda, um de direita (melhor à esquerda da direita!) e finalmente um (Jorge Sequeira) diz não ser nem de esquerda nem de direita o que obviamente significa pertencer a uma direita envergonhada. Este ‘arranjo’ conseguido ao longo de um amplo espectro político é verdadeiramente aberrante. Mas não fortuito ou ocasional.
Desde o estio (há 5 meses) que o ardil começou a ser cozinhado. O ‘candidato-comentador’, Marcelo Rebelo de Sousa, desde então que se dedica a inquinar e condicionar qualquer propositura ao cargo com uma artificiosa separação de águas entre as legislativas e presidenciais como se as mesmas ocorressem em Países diferentes. Na verdade, a direita ao vacilar na escolha do ‘seu’ candidato depois da célebre declaração sobre ‘cataventos’ tinha todo o interesse em paralisar o processo eleitoral para a presidência da República. 
Não o conseguiu de todo – Henrique Neto e depois Sampaio da Nóvoa apresentaram as candidaturas - mas condicionou a apresentação de outras nomeadamente à direita do espectro político.

Sampaio da Nóvoa em princípio capaz de obter amplos e diversificados apoios no contexto alargado da esquerda foi sendo empurrado para uma situação de banho-maria até ao desfecho das legislativas. 
Depois, na indefinição instalada à volta das legislativas, foi o vê se te avias. Nasceram candidaturas por todo o lado como cogumelos com as primeiras chuvas. Umas em resultado de estratégias partidárias, oriundas da esquerda que tradicionalmente são colocadas no terreno e que se destinam a marcarem posições políticas e, simultaneamente, ocupar tempos de antena. Esta uma situação que terá necessariamente de ser repensada, nomeadamente por parte do PCP, porque acabou por colocar um eleitorado fidelizado – especialmente os simpatizantes - em conflito latente com opções mais abrangentes e o seu disciplinado corpo de militantes num desnecessário ‘stress eleitoral’.  A situação no BE, embora tenha obtido outros (melhores) resultados, não está isenta de fadiga futura.
 
Outras candidaturas são fruto das miríficas e visionárias potencialidades à volta de mal esclarecidas estratégias individuais, arremedos de excentricidades e alimentadas por veleidades políticas. Uma espécie de regabofe. 

Entretanto, a direita, experiente e calculista, foi defendendo o seu quintal e adiando a aposta. Quer Durão Barroso, Santana Lopes ou mesmo Rui Rio mantiveram-se na sombra à espreita de uma oportunidade ou de um clamoroso chamamento que não surgiu até porque os resultados das eleições de Outubro não o permitiram.

À esquerda foi o que se viu. Depois das encolhas e dos fogachos individualistas, na recta final da campanha para as legislativas, surge a candidatura de Maria de Belém que entalando o PS favoreceu desalmadamente a estratégia da direita. 
Maria de Belém pretendeu ser a candidatura ‘simétrica’ de Marcelo Rebelo de Sousa, isto é, a ‘direita da esquerda’, mas aparece nitidamente encurralada pela inexistência de um centro político e pouco mais conseguiu do que um humilhante estrebuchar nesse espaço rarefeito.  
A votação obtida por Maria de Belém deverá funcionar como um case-study para o aparelho partidário e algum baronato do PS. 
Na digestão de mais esta derrota falta explicar aos portugueses, nomeadamente ao chamado ‘povo de esquerda’, o porquê e as motivações da candidatura de Maria de Belém e, o mais importante, aprender com o sucedido. 

O Mundo não acaba com a anunciada (confirmada) vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, nem deus descerá à terra, mas os mesmos erros não devem (não podem) repetir-se ad eternum.

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