A tímida pegada de uma Europa Mediterrânica (EUMed)
A Reunião de Atenas que juntou os países do Sul da Europa, e terminou a 9 de Setembro, com uma declaração comum, passou ad latere dos meios de comunicação nacionais. Percebe-se bem porquê. Na realidade, a generalidade da imprensa, dominada pela ‘corrente oficiosa’ europeia sediada no Centro e Norte da Europa, não tem interesse (jornalístico e político) em divulgar este tipo de encontros.
Todavia, a ‘cimeira de Atenas’ tem uma enorme importância política para o futuro da Europa já que representa o primeiro questionar da relação de forças europeia que, embora sejam primitivamente assimétricas desde a criação da moeda única (euro), as clivagens aprofundaram-se e desequilibraram-se com o sinuoso desenrolar da crise económica e financeira que se iniciou em 2007-8.
Esta aparente ‘fragmentação’ da Europa não é, contudo, uma situação nova. Já sucedeu algo de semelhante, com os países recentemente admitidos na UE e oriundos do Centro-Leste da Europa, o chamado ‘Grupo de Visegrado’ que associa a Polónia, a Hungria, a República Checa e a Eslováquia que, em recente reunião, articulou posições sobre o Brexit, a crise migratória e a segurança europeia link.
A denominada ‘Declaração de Atenas’ subscrita pelos representantes de França, Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Malta e Chipre link tratou de assuntos que, no presente, mais prementemente afectam a União Europeia.
Os 5 pontos sistematizados percorrem os problemas mais agudos e graves que enquanto europeus – todos - estamos confrontados: 1.) Segurança interna e externa da Europa; 2.) Reforço da cooperação entre os países da bacia mediterrânica (Europa do Sul e África do Norte); 3.) Investimento e o crescimento económico da Europa; 4.) Mobilidade e Emprego dos jovens europeus; 5.) Problemas de resposta e integração da ‘onda migratória’.
Estas movimentações por blocos regionais têm imenso significado no contexto europeu. Mostram a diversidade europeia contexto que as políticas orçamentais e fiscais não têm respeitado e cujos resultados são cada vez mais dramáticos.
Mas não podemos ignorar as lições da História e esquecer que a maior diversidade política, económica e civilizacional que temos memória foi tecida à volta do Mediterrâneo, onde nasceram, cresceram e apodreceram 'Impérios'.
A reunião de Atenas surge num contexto muito especial. Contudo, essas especiosas circunstâncias podem conferir-lhe uma enorme fragilidade.
Os governos da Grécia, Portugal, França, Itália, Malta, não têm – no momento – ligações orgânicas ao hegemónico Partido Popular Europeu que foi o rosto da caminhada austeritária, já percorrida, e não se cansa de anunciar o seu prolongamento. Chipre é uma ilha dividida, politicamente instável, submetida a um duro programa de intervenção por colapso do sistema bancário e Espanha tendo nominalmente em exercício um governo da Direita está paralisada politicamente por impasse governativo.
Mas, mais do que afinidades políticas, sempre lábeis e transitórias, o denominador comum dos interesses dos países do Sul da Europa é a pobreza. E esse vergonhoso padrão de bloqueio ao desenvolvimento não pára de aumentar. Está - na ausência de uma inversão de políticas - para 'lavar e durar'.
Voltando a Portugal. O que se acordou a 9 de Setembro, em Atenas, foi muito genérico e nada contundente ou ameaçador (para a instrumental liderança europeia). A expectativa que resta é se, no próximo Conselho Europeu a realizar em Bratislava, o ‘grupo de Atenas’ poderá funcionar como um bloco. Não é muito fácil passar de uma fase embrionária para uma estrutura adulta, sólida e interveniente.
O que temos de certo é se, por desgraça ou distração dos eleitores, o País ainda estivesse a ser governado pela coligação de Direita, Portugal não estaria representado em Atenas. Nessa altura, a política externa nacional, para a Europa e para o Mundo, era ‘nós não somos a Grécia’. E está tudo dito sobre a pequenez dos ex-governantes.
De qualquer maneira, a cimeira de Atenas já fez os burocratas da Comissão Europeia e outros apoderados no Eurogrupo virem precipitadamente a terreiro.
O capataz do Eurogrupo, Sr. Jeroen Dijlsselbloem, no intervalo da aquisição ad hoc de mais um título académico, veio, em sobreposição com a publicação da Declaração de Atenas, anunciar que o Eurogrupo quer acelerar o processo de congelamento de fundos a Portugal (e à Espanha) link.
Por casualidade do destino, embrulhanço retórico ou mera gaguez política o referido senhor não terá comentado … ‘cá se fazem, cá se pagam’. Todavia, se não defendermos convictamente os nossos interesses e especificidades, não estamos livres de 'comer por essa medida'.
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