Luís, o Amado (de quem?)…

Luís Amado foi convidado para ‘botar faladura’ nas Jornadas Parlamentares do PSD. E o ex-ministro que, para ‘fogo-de-vista’, continua a ser referido como um influente personagem dos 2 Governos socialistas presididos por José Sócrates mantendo, no presente, uma indefinida aura de socialista, assumiu a condição de pensador e sentiu-se impelido a propor uma solução governativa.
 
Agora, defende, como solução política para a resolução dos problemas do País, uma nova invenção/revelação: o ‘centro radicallink.
 
Este súbito radicalismo de matriz liberal, uma reminiscência do jacobinismo, é uma saída perfeitamente compatível para um político que perdeu referências doutrinárias (se é que alguma vez as teve) e se ‘estampou’ no exercício de actividades bancárias (sobre o que evita falar).
 
O modelo que apresentou como ‘salvador da pátria’ é mais uma blague do nosso círculo político (e partidário).
Na realidade, o que tentou revelar como inovador não é novo e o que seria novo não é inovador, isto é, o ‘radicalismo moderado’, tipicamente personalizado para diferentes situações nacionais e que, historicamente, partindo do demo-liberalismo desembocou no campo social-democrata, que dificilmente é identificável com as soluções deste multifacetado conferencista.
 
Um outro radicalismo – o ‘radical’ (passe a redundância) - aquele que tendo contornos disruptivos e de base qualitativa assentou arraiais na Esquerda tendo sido uma das remotas inspirações do marxismo, teve o percurso histórico que hoje é conhecido, muito longe das preposições, intenções e convicções de Luís Amado.
 
Entre estes dois campos Luís Amado pretende fazer a quadratura do círculo. Quer compatibilizar a pujança de mutações radicais com um terreno minado por diktats conservadores. Isto é, chuva no nabal e sol na eira.
A ‘novidade’ radical é uma mera figura de retórica. Radical será a sua oposição à actual solução governativa que pretende disfarçar com malabarismos semânticos. Juntou a sua voz ao coro dos que diabolizam a Esquerda que, em boa hora, vetou politicamente, congregando-se à volta de ‘posições conjuntas’, a permanência da Direita na construção de soluções de futuro para o País procurando, assim, romper com um infernal ciclo de empobrecimento.
 
Mas regressando ao ambiente onde Luís Amado esteve a representar (a farsa ‘social-democrata, sempre!’) e vestindo a pele de um centrismo militante, que se entranhou nas suas opções - mas nunca assumiu – verificamos é que a partir de um passado não tão brilhante quanto isso, tentou deste modo apresentar soluções para disfarçar um (seu) permanente deslizar (para a Direita). Um verdadeiro equilibrista destas andanças.
 
Entende-se que quando Luís Amado se refugia no 'redil radical' – o ambiente onde proferiu a palestra é de certo modo concordante - para agitar reformas, daquelas ditas estruturais, austeritárias, monetaristas, que mais não pretende do que fazer o restyling, ou dar mais enfase a um tenebroso passado recente, i. e., às políticas de ‘resgate’ impostas à volta de interesses reais de outros Países (às  vezes denominados de 'parceiros' ou 'mercados'), nunca cabalmente desmontados.
Uma expressão do tipo de radicalismo deste conferencista está patente no apoio que deu à entrada da Guiné Equatorial na CPLP que considerou uma abertura e um avanço institucional link. Está, estaria, tudo dito, se não fossem os interesses financeiros ocultos (à volta de enviesados ‘investimentos’) de um Banco, onde foi, da reorganização até a falência, presidente do CA.
 
A ‘onda reformista’ é hoje uma constante da dinâmica política transversal a todos os quadrantes políticos e que foi, no presente, intensamente colonizada pela Direita. Mas, como nos ensina a História, não existem reformas assépticas, incolores ou inodoras e muito menos as que pretendem ser estruturantes porque promovem 'cortes cegos'. Cegos para a 'população' mas bem orientados e bem definidos para os 'estrategas' (políticos, económicos e financeiros).
 
Na realidade, reformas concebidas para gerir o modelo capitalista vigente adocicando a sua selvajaria só são radicais de nome.
E, como sabemos, o centro político não passa de um lugar de transição, uma terra de ninguém - às vezes mal frequentada - onde cabem todas as afirmações, convicções e preposições e o seu contrário.
 
Todos sabemos, ab initio, qual o caminho que foi escolhido e que irá ser trilhado pelos que cavalgam soluções reformistas (radicais ou não) mas que afagam o status quo vigente.
As reformas pressupõem transformações políticas, económicas e sociais das sociedades, um operativo mutatis mutandi, mas não encerram si mesmas rotas e objectivos, são meramente instrumentais. O que interessa saber é o sentido dessas reformas e o contexto político-ideológico. Assim, quando Luís Amado defende vagamente um ‘centro radical’ poderia ficar-se pelo ‘centro’. Ou defender abertamente qualquer coisa de que já ouvimos falar, por exemplo, do ‘Portugal para a Frente’.
 
Por ora, este Luís ‘prefere amar do que ser amado’, parafraseando um outro Luís, o Buñuel. Acrescento: poderá amar o ‘centrão político’ sem peias, nem disfarces com ou sem exuberâncias (ou radicalismos). Está no seu direito. O que não pode é passar uma vida a representar Miguel de Vasconcelos.

Comentários

Luís Amado é um reacionário moderado.
O que Luís Amado pretendeu dizer para júbilo da direita é que é preciso ilegalizar os radicais de esquerda PS,PCP e Berloque para a Europa sobreviver a Cyrizas,Podemos,PSOE e cpª . A Europa foi feita para o centrão e não contaram com os marxistas estatais. Mais radical que isto não podia ser. Exclui-se tudo que é esquerda e podemos governar (escravizar) à vontade as classes produtivas e aniquilar todos os meios sociais adquiridos pelos mesmos. Nem Marie de Le Pen diria melhor..........

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