Os tribunais portugueses e a independência dos juízes_2
Este texto foi também publicado na minha página do
Faceboock onde mereceu vários comentários discordantes, o que vejo sempre com
agrado, e raramente comento.
Desta vez, houve um comentário que, tendo a minha
discordância, não seria motivo para o comentar, se a sua natureza, não exigisse
uma aclaração do que considero um perigoso preconceito.
Do comentário, reproduzo a parte que importa: “se
acreditam, devem estar a sonhar. Por[que] não perguntam a um juiz, que seja do
Opus Dei ou Maçom? Acreditam que eles alguma vez fariam mal a um
"irmão". Desiludam-se amigos e para os menos atentos aconselho-os a
ler os "princípios" nos quais se fundamentam os membros dessas duas
"seitas".
O apriorismo do raciocínio permite pensar que um juiz
católico, muçulmano ou judeu não é capaz de condenar um ‘irmão da fé’ e, por analogia,
só podemos confiar na justiça feita por ateus ou, melhor, por agnósticos. De igual
modo, a pertença clubística seria determinante para o veredicto hostil ou
favorável. É um mero preconceito que não tem acolhimento nos estudos feitos por
Observatórios da Justiça, ou merecido qualquer referência (que eu conheça) do
Observatório Permanente da Justiça Portuguesa (OPJ).
Mas vamos às duas «seitas» referidas e que, da minha
parte, têm apreciação antagónica. O Opus Dei teve no seu fundador um apoiante
do genocida Franco e o silêncio cúmplice perante fuzilamentos sem julgamento e
o garrote como pena ‘cristã’; a maçonaria esteve na revolução de 1820 e no 5 de
Outubro, na independência dos EUA, do Brasil e Timor, isto é, no liberalismo,
iluminismo, Revolução Francesa, República e democracia. Os 4 redatores da
Constituição dos EUA eram maçons, Washington, Franklin, Randolph e John Adams,
e não eram malfeitores. O general George Washington desfilou à frente do
exército com as insígnias maçónicas que o a foto documenta.
E há um erro de raciocínio que, no meu ponto de vista,
parece grave, a confusão entre a crença e os crentes. Alguém pensará que o Dr.
Mota Amaral, conhecido membro do Opus Dei, seria capaz de absolver um criminoso
da sua Ordem se, acaso, fosse juiz? Ou que António Arnaut, pai do SNS,
referência ética, cívica e política dos portugueses, e ex-grão-mestre do GOL,
seria capaz de uma iniquidade?
Deixo estas perguntas para reflexão de quem ignora que
a Justiça portuguesa tem várias instâncias e excelentes magistrados, alguns
injustamente tratados.
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