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A mostrar mensagens de setembro, 2017

30 de setembro de 2017 – Dia de reflexão

Na política, como na religião, a liturgia impõe-se. Num caso por tradição ou decisão de quem fora ungido para a tomar, no outro, por uma lei que, embora inócua, é obrigação respeitar enquanto se mantiver. Hoje, em termos de propaganda política, é dia de jejum e abstinência. Basta a ausência do ruído dos carros dos partidos, da poluição sonora das arruadas e do frenesim dos comícios, para aplaudir a medida ecológica. Há neste silêncio de 24 horas um módico de serenidade que nos devolve à reflexão, não de uma decisão já tomada, mas do passado que vivemos e do futuro que queremos. É altura para recordarmos que, neste dia, em 1974, o general Costa Gomes assumiu a presidência da República, em Portugal, substituindo António de Spínola, um erro de casting que, mais uma vez, coube aos militares de Abril remediar. E, para elevar o amor-próprio dos portugueses, que foram pioneiros na abolição da pena de morte, é justo recordar que a França só a extinguiu em 1981. Há 36 anos, apenas. Fa

Para memória futura - SNS

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A dois dias do funeral

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Ninguém avisou o morto

Arábia Saudita – Um país aberto ao futuro

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Pasma-se com o passo de gigante previsto, já no próximo ano da era vulgar, no reduto do Islão ortodoxo e guardião dos mais sagrados locais do misericordioso Profeta. As mulheres, que os monoteísmos sempre consideraram inferiores, não se sabe se por razões genéticas ou de género, irão ser autorizadas a conduzir automóveis e, pasme-se, a poderem assistir a jogos de futebol. São duas concessões por atacado. Esta revolução que belisca a sharia, subverte os bons costumes e destrói uma tradição de 14 séculos, muito anterior à descoberta do motor de explosão, isto é, desde sempre, já foi saudada como “grande passo na direção certa” pelo secretário-geral da ONU. O Mundo está estupefacto. Que uma mulher possa assistir a um jogo de futebol, quando devidamente acompanhada pelo marido ou um filho, ainda se tolera, mas poder, a partir de meados do próximo ano, conduzir um automóvel, a confirmar-se a arrojada decisão, é uma espécie de Maio de 68 francês, com a revolução dos costumes

Almoço do 5 de Outubro - COIMBRA

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Coimbra comemora o 107º Aniversário da Revolução Republicana de 1910, dia 5 de Outubro Republicanas/Republicanos: O Núcleo de Coimbra do Movimento Republicano 5 de Outubro, fiel aos seus princípios constituintes, vai comemorar o 107º Aniversário da Implantação da República. O Almoço Evocativo decorrerá em Coimbra, pelas 13h00, no Restaurante Solar do Bacalhau, Rua da Sota, nº 12, 3000-392 Coimbra. Haverá intervenções políticas no decurso do almoço. Para proceder à inscrição, é favor contactar anabela8@hotmail.com até 3ª feira à noite, dia 3 de outubro, indicando claramente o número de pessoas que pretendem inscrever e qual o prato escolhido. O menu é o seguinte: Entradas : moelas; brusquetas carpese; presunto, queijos; couvert Pratos : lombo de bacalhau em crosta de broa de milho com presunto no forno a lenha ou lombinho de porco assado com puré de maçã Sobremesa : tiramisu ou fruta Bebidas : águas, sumos, cerveja, vinho da casa e cafés Custo da refeição:

O serôdio nacionalismo catalão

Divirjo da maioria dos amigos com quem convivo diariamente no que respeita à solidariedade com o golpismo secessionista catalão, porque o Governo autónomo funcionava com órgãos próprios e franca independência, em democracia, e não era a colónia reprimida, a precisar de autodeterminação. O PP pode estar infiltrado, e está, por franquistas que o consulado de Aznar revalorizou, mas não manifestou qualquer intenção ditatorial e, muito menos, uma repressão que explicasse o surto insurrecional. Aliás, a instrumentalização independentista do principal clube de futebol, pelo seu presidente Laporta, bem como a do clero católico e a de caciques regionais, à direita do próprio PP de Rajoy, torna-se suspeita. A proibição do referendo e os meios usados, são, de facto, um tique franquista para um ato nulo de consequências, que revela a tradição autoritária e degrada a convivência nacional, mas a insistência separatista é uma provocação gratuita. A independência que não vingou no séc. XVII, e fac

Qual será a próxima capa?

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Quando se credencia a investigação jornalística de um colaborador partidário, a primeira vítima é o jornal que a publica. Quem confunde o anonimado de um militante com as secretas do Estado, crê que estas enviam para um jornal o relatório destinado ao Governo. Perdido o senso crítico, até se pensa que um relatório técnico pode formular juízos de valor sobre entidades, em vez de apresentar factos, nus e crus, que eventualmente as podem comprometer. Só se ludibria quem, na ânsia de que seja verdade, se agarra a um documento apócrifo como a boatos sobre suicídios, no desespero do náufrago a procurar a boia. Será difícil confundir os eleitores com o próximo boato. Em Belém mora um inquilino honrado, Fernando Lima já se reformou, José Manuel Fernandes só consegue a direção de um jornal virtual e mal frequentado, e a pastelaria da Av. de Roma mudou de dono e de clientela. É neste jogo desesperado que Passos Coelho apressa o seu funeral político, ele que não nasceu para tão altos v

As eleições alemãs e a União Europeia

Quem se habitua a avaliar os partidos mais pela prática do que pelo rótulo, não se pode congratular com a brutal perda de votos do partido da senhora Merkel. A sua derrota é a derrota da democracia que a extrema-direita vai assaltando dentro da legalidade. O partido social-democrata (SPD) e o democrata-cristão (CDU) não se diferenciaram no essencial e, por isso, tiveram uma derrota conjunta. O centro é o lugar vazio das utopias partidárias e a democracia sofre da fragilidade de ter de consentir aos adversários o que estes não permitem quando tomam o poder. A falta de competição abre caminho, como se viu, a forças extremistas. O AfD entra no Parlamento com o fulgor de 13% dos votos e o ruído de 94 deputados que alcançaram o primeiro e estrondoso êxito, entrando no Bundestag, depois da derrota do nazismo e da capitulação alemã em 8 de maio de 1945. E num país onde a economia é pujante! O AfD é um partido assumidamente nazi, sem poder assumir a suástica, aliás proibida, e impedida a

Alemanha – Eleições

A prevista vitória da senhora Merkel, cujo sentido de Estado é inegável, é a notícia que não inquieta quem não vê diferenças entre ela e o líder social-democrata. A desgraça é ter chegada ao Parlamento, como terceiro, um partido abertamente nazi. Este prego no caixão da União Europeia para quem, como eu, a defende, é um assunto que merece profunda reflexão nesta deriva europeia a caminho da extrema-direita. Hei de voltar ao assunto.

Pensando em meu pensamento...

Se vier a confirmar-se o “desmentido categórico” do EMGFA, de que a ‘secreta militar’ (CISMIL) tenha feito qualquer relatório sobre o furto do material de Tancos, é de crer que a informação do Expresso fosse do familiar de Passos Coelho, o mesmo que lhe comunicou os suicídios de Pedrógão, por falta de apoio psicológico do Governo.

Manuel Martins

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Faleceu Manuel Martins que, na hierarquia católica, foi bispo de Setúbal (de 1975 a 1998). Um homem que, em tempos difíceis e em circunstâncias de profunda mutação política e social, teve a coragem e soube denunciar, na sua diocese e ao País, a pobreza encoberta, as miseráveis condições de vida dos trabalhadores, os atrasos no pagamento dos salários, as exclusões e outras inquietantes iniquidades sociais. Colheu com as suas claras e firmes posições o respeito do povo, o que não é coisa de pouca monta. Merece, por isso, que os portugueses se curvem em sua memória. E a memória da sua transparente objetividade força-me a produzir a seguinte afirmação: pena é que os seus episcopais colegas, bispos em outras dioceses, não tenham seguido o seu exemplo. Ou seja, hoje, o nosso País, poderia ser muito melhor.

Passos Coelho: Um primeiro-ministro embuçado...

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A errática postura de Passos Coelho durante o   XX Governo Constitucional sempre soou a estranho, para não dizer, a falso. Mostrando-se incapaz de fazer uma oposição satisfatória (para o seus apaniguados) demitiu-se de estudar os problemas, analisá-los e arquitetar alternativas. Pesa nos seus ombros e  na sua consciência a triste máxima que usou para o seu Governo. Continuará a acreditar que 'não há alternativas'?   Passos Coelho tornou-se, pela notória incapacidade, um fracassado líder da Oposição transformando-se num medíocre comentador da acção governativa e, ainda, um desbocado anunciador de demoníacas desgraças. Esta notória incapacidade que o paralisa e o faz cair no descrédito teria de ter uma razão de fundo. Resolveu, agora, acreditar num 'sebastianismo bacoco' e augura [perante os seus partidários e simpatizantes] um auspicioso dia de nevoeiro que ocorrerá em 2019.    Ontem, soubemos quais as bases de um tão descabido comportamento. Num janta

Notas avulsas sobre fragmentos da história da(s) Catalunha(s) ...

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O ‘separatismo catalão’ que hoje está em perturbante ebulição insere-se numa longa deambulação histórica. Começa em tempos muito recuados - e até se atravessa na nossa história – reportando-se aos remotos tempos do ‘império carolíngio’ (Carlos Magno). O povo catalão (que os integracionistas preferem denominar de ‘comunidade catalã’)  foi, durante toda a Idade Média, um condado (ainda hoje é designada como ‘cidade condal’) que teve dependências e estreitas ligações com o reino de Aragão. No ‘âmbito ibérico’ teve um percurso atribulado até ao surgimento das ideias liberais sendo mais uma região da ‘Grande Espanha’, um pouco da mesma maneira que alguns ‘iberistas’ (integracionistas), defensores de uma conceção unitária, absolutista e até imperial do ‘reino’, também olhavam para o nosso país. A este propósito é curioso recordar um episódio paradigmático. Em 1 de Dezembro de 1640, quando da Restauração nacional, o duque de Bragança (futuro rei) tinha sido nomeado comandante-c

O exótico padre Portocarrero de Almada

E eu que não esperava escrever ao Observador! :( Exmo. Senhor Diretor do jornal Observador leitor@observador.pt Senhor Diretor, No artigo de opinião "Publicidade enganosa", publicado no Observador, em 16/9/2017, o articulista, padre Gonçalo Portocarrero de Almada, escreve o seguinte: «Deverá o burro ostentar, por maliciosa hipótese, a honrosa representação dos ateus, cuja exclusão do presépio seria não só inconstitucional, por discriminatória, (…)?!» Se o exótico sacerdote fosse um cidadão respeitável, a frase seria uma grave ofensa aos ateus, entre os quais me conto, identificando-nos com o burro do presépio, onde a estrela da coreografia é a referência da religião que o padre professa. De qualquer modo, não posso deixar de lamentar a grosseria, lembrando que Camilo Castelo Branco chamou a Frei Gaspar da Encarnação «uma santa besta», epíteto que não uso para o padre Gonçalo por três razões: 1 – O referido padre é decerto um bípede; 2 – Um ateu tem obrigação

Relembrar Cavaco

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Recordo hoje o farol da ética visto por outro igual, mas muito mais inteligente e com um domínio da língua incomparável: «Cavaco - O tempora o mores! 1993, Cavaco em Salzburgo, pago pela Nestlé e criticado por Paulo Portas em O Independente. «Na notícia do Indepente, escrita por Paulo Portas, pode ainda ler-se que “nós pagámos o Falcon e a Nestlé pagou o resto – os bilhetes para o festival, a estadia na suite presidencial do melhor hotel da cidade e um passeio para ver as vistas. Tudo confirmado pela multinacional. (...) Foi assim que pela primeira vez um primeiro-ministro português se deslocou ao estrangeiro a convite de uma empresa privada." "O homem que confunde Thomas Mann com Thomas More está no seu legítimo direito quando faz alguma coisa para se cultivar. (…) Seja qual for a importância da causa, o cidadão Aníbal Cavaco Silva não pode obrigar quem paga impostos a financiar-lhe despesas de elevação espiritual (…)” "O PSD agarra[-se] ao Estado como a lap

A UE e a ‘questão catalã’…

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A maneira como a União Europeia está a olhar para a ‘questão catalã’ é deveras sintomática da incapacidade de construir uma estratégia comum e atinge frontalmente todos os devaneios de coesão (política, económica e social). O silêncio impera entrecortado por mal disfarçados e monossilábicos lamentos que mais não são do que a expressão de transitórios incómodos pelo perturbar da ‘tranquilidade burocrática’ que impera nos gabinetes de Bruxelas. A União Europeia afirma que só intervirá na questão se tal for solicitado por Mariano Rajoy link . Este pedido é uma longínqua hipótese já que, numa primeira abordagem, representaria o fracasso do Governo de Madrid. A ausência de uma mediação europeia é uma incontornável realidade e refugia-se na ‘confortável posição’ de que a questão catalã é um assunto interno de Espanha. Quando a situação extravasar as disputas constitucionais e resvalar para a repressão, invadindo as ruas e carreando aspetos de ‘guerra civil’ embrionária, uma que

Quem diria!

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Portugal é o país da União Europeia mais adiantado na execução dos fundos europeus. (dados de 31 ago) Mais um êxito do Governo. Espera-se que o PR felicite o Governo atual e o anterior.

Trump na ONU

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A prestação de Donald Trump na Assembleia Geral das Nações Unidas é, aparentemente, má demais para ser verdade. Parece impossível considerado o staff político yankee – com todas as suas nuances – que não exista alguém capaz de pôr cobro a semelhantes desvarios.   Suspeitava-se que o Presidente - que o sistema eleitoral americano elegeu - não fosse capaz de definir uma estratégia inteligível e coerente de política externa. Mas a situação é pior. Trump, não só se revela altamente incapacitado para definir um roteiro político para o exterior como, paralelamente, exibe uma mistura de uma intolerável arrogância com uma olímpica insensatez, conduzindo a política internacional para os mais baixos caminhos da provocação.   Levantou inquietantes questões:   - Que tipo de política se pretende levar a cabo quando publicamente se ameaça um País com a destruição total? link . - Como se pode ignorar que os países limítrofes – entre eles o aliado Coreia do Sul - seriam também dura

As eleições e o futebol

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A proibição de jogos de futebol, em dias de eleições, seria uma medida injusta e decerto contraproducente. A cidadania não se defende por decreto, nem se impõe, por coação, o cumprimento das obrigações cívicas. Por que motivo, aliás, se impediria uma atividade desportiva e se excluiria a missa, a praia ou qualquer outro espetáculo? Para quem não tem consciência cívica e se alheia da ‘res publica’, não é o futebol que o afasta das urnas, e é duvidoso que o voto obrigatório, diminuindo o nível de abstenções, seja a forma mais adequada à pedagogia da cidadania. Não é levando os eleitores presos pela arreata que se promove a consciência cívica. É evidente que, no dia das próximas eleições autárquicas, a marcação de um jogo entre duas grandes equipas de futebol, das duas maiores cidades, com numerosos adeptos que vibram apaixonadamente pelos seus clubes, não facilita o cumprimento das obrigações cívicas de quem empreende uma longa viagem. Há, para os adeptos de uma das equipas, mui

O cavaquismo, a liberdade de expressão e a cidadania

Quarenta e oito anos de ditadura deixaram marcas que geraram alterações genéticas nos portugueses. A dificuldade em aceitar opiniões alheias é a herança de várias gerações de bufos, rebufos e gente videirinha. O cavaquismo, caracterizado pela indigência intelectual e a nostalgia do salazarismo, foi o pântano onde sucumbiu a liberdade e o gosto pela discussão política. Esta passou a ser vista, de novo, como a lepra que envenena a paz social e condena o país. O oportunismo e o medo fizeram regredir a dinâmica democrática, a reflexão livre e a coragem cívica. Hoje confunde-se a divergência política com a aversão pessoal, a opinião com a ofensa, os adversários com os inimigos. O cavaquismo é um salazarismo em liberdade, tendo a incultura como modelo e o retrocesso democrático como meta. Não conheço na História europeia quem com tamanha mediocridade tivesse chegado tão longe e conseguisse influenciar durante tanto tempo, já não digo o pensamento, por falta dele, mas o seu condicioname

O coveiro

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O coveiro que desejou enterrar os adversários, numa sede de vingança que a sua débil formação democrática exigia, não conseguiu abrir uma cova maior do que a sua própria dimensão.

Gula eclesiástica

O curioso caso do testamento da D. Eugénia Benemérita deixou em 1982 a fortuna à Igreja madeirense, com a condição que fosse utilizada para o auxílio a doentes cancerosos. Durante 30 anos o testamenteiro quis saber se a vontade de Eugénia Bettencourt estava ser cumprida. Morreu no final do ano passado, sem resposta. MÁRCIO BERENGUER 15 de setembro de 2017, 8:10

Política – Mitos que urge denunciar

Há mitos que sobrevivem pela ausência de reflexão e de espírito crítico e, no entanto, a sua aceitação é demasiado perigosa para o nosso futuro coletivo. Antes de tratar cada um deles, limito-me a chamar a atenção para as crenças mais comuns e perigosas, a saber: - Que o crescimento do PIB mundial é eternamente sustentável; - Que não haverá novas crises do capitalismo (são cíclicas, e não se sabe qual será a última); - Que se deve trabalhar mais, quando o trabalho é um bem cada vez mais escasso; - Que a repartição do trabalho e, naturalmente, dos recursos gerados, não são uma obrigação ética e condição de paz; - Que o Planeta suporta o contínuo aumento populacional que a miséria e as crenças religiosas fomentam; - Que os recursos alimentares e, em particular a água, escassos para a população que já existe, apesar de se poder e dever moderar o desperdício, são inesgotáveis; - Que o aquecimento global não põe em risco a vida na Terra; - Que a guerra nuclear pode ser reg

A Justiça e a delação premiada

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Quem sabe do que as pessoas são capazes sob o medo, das vilezas que o pânico permite e da pusilanimidade que os estados de necessidade induzem, não precisa de recorrer aos períodos de guerra e das ditaduras para perceber a que níveis de abjeção são capazes de descer alguns seres humanos. A delação é habitualmente premiada, e o bufo é sempre um ser inferiorizado que delata para obter a simpatia que a sua baixa estima exige, o crápula capaz de uma vilania para proveito próprio, o medíocre que espera ser compensado do mérito que lhe mingua pelo favor que espera. A história da pulhice humana é antiga e não se limita aos sistemas que privilegiam a denúncia e a perfídia. São apanágio da Inquisição, do nazismo e de todos os sistemas repressivos, que fomentam o aviltamento do carácter. O que surpreende é a possibilidade de a delação premiada ser acolhida no ordenamento jurídico de um país civilizado, capaz de transformar um magistrado em chantagista e o delinquente em delator, de produzi

A greve da enfermagem e a agitação miguelista

A necessidade de criar ruído sobre as notícias que chegam no campo económico levam esta direita ao desespero e à insensatez. Os mesmos partidos que destruíram as carreiras médicas e de enfermagem são hoje os instigadores da contestação dos enfermeiros, atirados para uma greve selvagem, ilegal e imoral, onde acabarão por ser vítimas. Nem todas as greves são legítimas e nem todas as reivindicações são realistas. A greve dos enfermeiros foi convocada pelas televisões e, pasme-se, assumiu a sua liderança a… bastonária, a enfermeira que declarou conhecer vários casos de eutanásia praticada por médicos e acabou a dar o dito por não dito, e não distingue a Ordem dos sindicatos. As televisões fizeram o frete à direita, ao serviço de quem se encontram, com a greve de enfermeiros, à semelhança do que fizeram com as manifestações dos colégios, a cheirar a incenso e orientadas das sacristias, exibindo permanentemente as roupinhas amarelas. Precisavam da greve, agora que se lhe acabaram os in

Trump: o exorcista de furacões…

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Ontem, na SIC Notícias, durante a transmissão da rubrica semanal Tabu, com a participação de Francisco Louçã, foi exibido mais um 'momento Zen'.   Quase não dá para acreditar!   Na sequência do tufão Harvey, Donald Trump,  rodeado de pastores evangélicos e católicos assina uma ‘recomendação(?)/ declaração(?)’  para um ‘dia nacional de oração’ link .   Organizou para o efeito uma ‘ oração ecuménica ’, na Casa Branca, para manifestar a sua consternação, pesar e solidariedade pelas vítimas e pelos estragos causados pelo furacão Harvey https://www.youtube.com/watch?v=NVv0Z9fTawU , onde um círculo de ‘respeitados e devotos amigos’, pela voz de pastor batista Robert Jeffress (à direita do Presidente na foto) agradece a dádiva da eleição do Presidente ( I thank God that He has given us a president like Donald Trump… ), do vice-Presidente e, no fervor da oratória, estende as bênçãos até à primeira-dama. No fim o Presidente emocionado agradeceu ao oficiante.   Bem,

O terrorismo e o Partido Popular Europeu (PPE)

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O terrorismo é a lepra que corrói a democracia e leva cidadãos a renunciar à liberdade em troca de um pouco mais de segurança, arriscando perder ambas. É saudável que o Parlamento Europeu se debruce sobre o fenómeno e a procure a forma de melhor o combater. Não é uma preocupação exclusiva do PPE, é apreensão de todos os europeus, que veem no fenómeno um perigo para a civilização. Esperava-se, pois, do Parlamento Europeu, o mais representativo dos órgãos da União, a escolha dos mais aptos para ponderarem a resposta ao flagelo. Todos os partidos do PE devem ter escolhido os deputados com perfil mais adequado à relevância da função que lhes é confiada, de modo a obter os melhores resultados. Por enquanto, só conheço a escolha do eurodeputado Nuno Melo para a nova comissão contra o Terrorismo, escolha que revela a preocupação e importância que o maior grupo parlamentar lhe atribui. Nuno Melo há de ter refletido, desde novo, sobre o fenómeno. O virtuoso tio, o cónego Melo, da Sé d

‘Investigação Tecnoforma’: um epílogo esperado? …

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A notícia do arquivamento de mais um processo relativo a eventuais situações de corrupção envolvendo figuras políticas não pode deixar de levantar pertinentes interrogações. A Tecnoforma, empresa que em tempos foi gerida pelo ex-primeiro ministro, acabou ilibada pelo MP de um rol de crimes em investigação: corrupção activa, passiva, abuso de poder, participação económica em negócio, fraude na obtenção de subsídio e desvio de subsídio link . Uma suspeição de crimes relativos a um favorecimento com utilização de dinheiros públicos que, eventualmente, envolveria o então secretário de Estado Miguel Relvas, em favor do seu amigo Passos Coelho, parecem não ter resistido ao crivo da investigação, caíram todos e o processo foi arquivado. Sobre este assunto sabe-se da existência de um relatório da OLAF (Organismo Europeu de Luta Antifraude), enviado à PGR, onde - muito embora o seu conteúdo seja confidencial - veio a público a eventual ‘ detecção de infracções tanto penais como fin

A morte do bispo do Porto e a laicidade

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A morte de bispo do Porto e a laicidade Voltarei ao problema da laicidade que não é entendida, nem mesmo pelos democratas que se bateram contra o conluio entre a Igreja católica e o fascismo. A laicidade não é contra nem a favor de qualquer Igreja, é a neutralidade exigida ao Estado e aos seus organismos, de forma a não privilegiarem qualquer religião face a outras. Se o Iraque continuasse laico, após a criminosa invasão, por Cruzados recentes, existiriam ali quase dois milhões de cristãos, em vez de 200 mil e em vias de extinção. Na laicidade não há ódio. A neutralidade é isso mesmo, sem ódio ou amor, sem tomar partido quanto a convicções particulares de cada cidadão, de modo a que o Estado possa garantir a liberdade de qualquer crença, descrença ou anti crença. Um crente pode beijar a mão de quem entender. O Presidente da República, ao fazê-lo, humilha o cargo que ocupa e envergonha o País que representa. O luto é um sentimento que se manifesta; a declaração de luto é um at

A tragédia mundial - De Bush a Trump

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A loucura do execrável dirigente norte-coreano tem uma lógica implacável. Vai longe o tempo em que os ditadores morriam de morte natural, excelentemente sacramentados, confessados e encomendados com missa de corpo presente, como Franco e, com alguns sobressaltos, Pinochet, ou apenas com sumptuosas cerimónias de Estado, como Mao ou Estaline, a título de exemplo, todos da galeria dos grandes criminosos. A pressão internacional obrigou Saddam, no Iraque, e Kadafi, na Líbia, a abandonarem as armas que aterrorizavam o mundo. Foram assassinados, os seus países destruídos e os vizinhos destabilizadas. As consequências do crime dessas invasões devastadoras não serviram de lição aos autores, que ficaram impunes e nada aprenderam. Kim-Jong-un parece ter sido o único que aprendeu, para desgraça planetária. Sabe que a sua sobrevivência depende do terror que o seu poder infunde, dentro e fora do país, e a China não pode deter quem prefere morrer, matando milhões de pessoas, a ser imolado. O

Cavaco Silva e o seu novo ídolo Emanuel Macron

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Quando o PSD de Passos Coelho, Marco António e Maria Luís exumou Cavaco Silva, para o exibir na Universidade de Verão, um cursilho de propaganda partidária, pensou que o devoto notário, que teve em Belém, podia acrescentar votos ao partido. Mal sabia o regedor de Massamá que um cadáver político não ressuscita e que o docente era apenas o morto mal enterrado, com raiva à flor da pele e ódio a destilar por todos os poros. Um e outro são ativos tóxicos que causam azia ao país que se interroga como foi possível fazer deles o que foram. Cavaco, na homilia que debitou, a piar superficialidades (Saramago chamou-lhe ‘mestre da banalidade’), para lá da acidez contra o país que já fez a catarse do cavaquismo, só inovou no modelo de político que lhe serve de referência e de quem se julgou a versão autóctone, Emmanuel Macron. Vá lá, Salazar era pior e abominava eleições. Exceto o abismo cultural que o separa, Cavaco tem muito em comum com o PR francês. Precedeu-o mesmo em atitudes exóticas

A morte do bispo do Porto

António Francisco dos Santos, há 45 anos no exercício de funções eclesiástica, faleceu. A avaliar pela imprensa da multinacional da fé onde exercia funções, foi o patrão que o chamou à sua divina presença. Celibatário por imposição empresarial e casto por dever profissional, não deixou filhos e era certamente uma pessoa de bem. O que surpreende, num país laico, onde a separação entre o Estado e as Igrejas é uma exigência constitucional, é a declaração de luto pelas Câmaras Municipais como se estas fossem um offshore da legalidade democrática. Os edis do Porto e Gaia decretaram 3 dias de luto, com partidos políticos a suspenderam a campanha eleitoral. A morte merece respeito, mas o comportamento subserviente dos autarcas provoca repulsa. Quem não sabe viver de pé, anda de rastos e há de morrer de joelhos. Numa atitude bizarra, a Câmara de Aveiro decretou também 1 dia de luto. O funcionário de Deus fora ali bispo e só as juntas de freguesia onde foi padre se abstiveram de prestar

Gato escondido com o rabo de fora…

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António Costa evocou a propósito da abertura do novo ano lectivo do ensino superior uma das catilinárias que foram atiradas contra Portugal nos negros dias de intervenção externa link .   In illo tempore alguém disse: ‘ Portugal tem licenciados a mais ’ . Não foi citado o autor de tal barbaridade. Todavia, sabemos quem foi. Tratou-se da Srª. Merkel link que – ao que supomos – necessitaria para o mercado de trabalho germânico técnicos oriundos do ensino profissional (vocacional) e dispensaria licenciados.   Angela Merkel envolta na disputa eleitoral nos seus lands não terá tomado conhecimento do desabafo de António Costa. Mas tem um bom advogado em Portugal assim do estilo 'quem não se sente não é boa gente'.  Chama-se Passos Coelho e abespinhou-se com António Costa  link classificando-o sumariamente como um 'poluidor' do debate político.   É assim: Passos Coelho, hoje, a pedir esclarecimentos e, amanhã, Assunção Cristas a exigir a demissão de um

11 de setembro – os dias em que o fascismo saiu à rua – Trágicas efemérides.

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Passam hoje 16 anos sobre o brutal atentado contra as Torres Gémeas de Nova Iorque. O desvario do fascismo islâmico deixou a marca perversa da sua natureza na morte de pessoas que ali trabalhavam e na destruição de um símbolo da cidade mais tolerante e cosmopolita dos EUA. Dessa monstruosidade, resta um arrepio de horror, a lembrança amarga que nos convoca para a defesa da liberdade e do pluralismo, contra o sectarismo de uma ideologia que a perversidade dos fanáticos torna repulsiva. A civilização é uma conquista que exige a luta quotidiana na sua defesa e a convivência com a diferença é uma exigência desta civilização que nos moldou. Evocar as vítimas desse dia, 11 de setembro de 2001, é apelar à vigilância cívica e à defesa da herança que o Iluminismo nos legou. *** Há 44 anos, no Chile, um golpe de Estado derrubou o presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, e deu início à sangrenta ditadura de Augusto Pinochet. Não mais pararam as execuções sumárias, o desapar

Marcelo e o recado das viragens…

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Marcelo Rebelo de Sousa, na sua recente visita a Andorra, proferiu comentários contundentes e, aparentemente, enigmáticos, sobre a política doméstica, quebrando (mais uma vez) uma tradição (desculpa?) que nunca foi bem explicada e compreendida.  O PR quando está em representação no exterior - e autorizado para tal - conserva intactas todas as suas competências.   Voltando a Andorra, Marcelo disse: “quando viro à direita em Portugal, a direita não nota”… link   . E acrescentou descendo uma ravina do principado em direção a um lugar de culto: “Agora viramos à direita coisa que eu em Portugal já não faço há algum tempo”. Não resistiu a especificar: “De vez em quanto faço, mas a direita não nota. Quando eu viro à direita em Portugal, a direita está distraída a bater na esquerda, não nota. Em vez de aproveitar, não nota”…   Em primeiro lugar, estas declarações têm um determinado contexto e não são uma ‘verborreia frenética’ como se fez crer em Castelo de Vide. Elas surgem na

Os incêndios – ruídos e silêncios

Para lá dos diagnósticos, produzidos há muito, e dos remédios sugeridos, muitos deles inexequíveis, há uma resiliência dos incêndios que se torna suspeita. Reacendem-se os que estavam extintos, deflagram novos, e, por cada aumento de meios e de homens, outros focos aparecem. Há um problema político, certamente, mas há especialmente um caso de polícia que não pode deter-se na intocabilidade de corporações, por maior prestígio de que gozem e por mais melindre que a devassa provoque. O país deixou-se capturar por grupos de interesses inacessíveis à averiguação da justiça, à sindicância governamental e ao escrutínio da opinião pública, que dispensa a dúvida e se refugia na indulgência cúmplice. Há que perguntar se os bombeiros são sempre eficientes, se todas as corporações são um exemplo de solidariedade desinteressada, se os negócios dos incêndios são transparentes e se o Estado tem força suficiente, ou o país lha permite, para averiguar todas as causas e desfazer todas as teias, c

Ontem, na Guarda

Na Guarda, ontem – Prémio Eduardo Lourenço/2017 Regressar à Guarda é um reencontro com a memória de quem saiu da cidade e a trouxe dentro de si. É reviver um tempo de juventude no lugar que nos reprimia, sem conseguir matar a alegria, o gosto da vida e a intensidade dos afetos. Ontem fui à Guarda, por escassos momentos, para dar um abraço a Fernando Paulouro, jornalista de exceção, escritor de mérito e cidadão exemplar, numa sala cheia de amigos, onde se respirava cultura e rendia homenagem ao intelectual e cidadão que recebeu, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (BMEL) o prémio que leva o nome prestigiado do patrono. Compunham a mesa o próprio Eduardo Lourenço, o reitor da Universidade de Coimbra, o vice-reitor da Universidade de Salamanca, o diretor do Instituto Superior da Guarda e o galardoado, além, naturalmente, do presidente do município. Em período eleitoral, o edil foi o primeiro a subir à tribuna e temi o pior quando o longo discurso começou pela referência às au

O candidato do PSD, a pena de morte e a castração

Não faço a ofensa ao PSD, nem ao PSD de Cavaco e Passos Coelho, de considerar que o partido se revê no primata que o representa nas eleições autárquicas de Loures, apesar de ungido pelo atual líder que, com os deuses ensandecidos, foi PM num mandato que o PR de turno prolongou ao máximo e ainda tentou renovar-lho ao arrepio da AR. Passos Coelho só se solidarizou com o racista e xenófobo André Ventura, por teimosia e sem convicção, sendo duvidoso que pudesse ser ele a liderar um partido cujo retrocesso civilizacional dividiria os cúmplices. Para isso, está a tirocinar o próprio Ventura, mais ilustrado e desvairado, que rivalizaria com os líderes da Hungria e da Polónia. Há quem tema, nas eleições autárquicas de Loures, um eventual bom resultado desse tal Ventura. Seria o ensaio para um partido de massas neofascista, o que não é impossível. Os casos recentes de populistas, que ganharam eleições, são assustadores e nem os EUA escaparam, numa vertigem suicida que iniciou o declínio d