Passos Coelho e a tarologia do crescimento…

A tirada de Passos Coelho num jantar de campanha eleitoral em Celorico da Beira – “se estivéssemos a governar estaríamos a crescer mais…" link – é digna da taróloga Maya. Uma espécie de adivinhação para incentivar as suas hostes em debandada.
 
Será uma frase que qualquer um de nós poderia dizer assim ao jeito de cartomante entre o baralhar das cartas e o destrunfar.
 
Até aqui o problema foi que com a ‘receita da geringonça’ não haveria crescimento, não seria possível cumprir o défice e até foi anunciada a vinda do diabo. Como estas previsões não se concretizaram surge agora a tentativa de subir a parada.
 
A promessa do céu impõe-se porque cá na Terra já ninguém acredita em baboseiras. Não se pode zurzir no Governo afirmando dia sim-não que o crescimento é ‘insustentável’ porque está baseado na procura interna (derivada da reposição de rendimentos) e julgar que a continuação de um programa de extorsão dos vencimentos e pensões (levado a efeito durante o último Governo) tinha como consequência fazer disparar o crescimento económico.
 
Trata-se, ou de uma ‘fézada’ muito ao estilo dos preconceitos da Direita ou, então, de uma calinada como as que nos foi habituando. Também pode ser tão-somente uma questão de ‘má fé’. Para usar a nova linguagem cavaquista: ‘um pio’.
 
Quando Passos Coelho governava repetia ciclicamente que os pesados sacrifícios que estava a impor aos portugueses seriam recompensados no futuro. Uma espécie de promessa de uma vida extraterrena que o seu partido preconizava para ser materializada (?) em suaves prestações anuais (orçamentais) como estava estampado na sua proposta de programa governativo com que se apresentou às eleições em 2015.
 
O problema é que os portugueses não vão em cantigas e querem que o futuro comece hoje. Para não dizer ontem (no tempo do Governo PSD/CDS).
 
Na realidade, estas declarações traduzem mais uma vertente de uma oculta estratégia neoliberal. Entremos no exercício mitológico que nos propõe o dirigente do PSD.
Se por 'artes mágicas', bambúrrio de sorte, à boleia excecionais condições externas favoráveis e a aquiescência do Sr. Schäuble, estivéssemos a ‘crescer mais’ (para utilizar a ‘ansiedade passista’ ) há uma coisa que temos de tomar como sendo certa. Esse crescimento refletir-se-ia nas contas públicas, nos défices, nos saldos contabilísticos, em eventuais superavits, etc., mas nunca chegaria às pessoas. Seria um pouco a reprise de uma expressão que já ouvimos entre 2011 e 2015: “a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor!link.
 
Pouco importa esta miragem de um crescimento forte se a redistribuição da riqueza gerada for manietada (condicionada) à volta da prossecução de pobreza endémica, entendida - por Passos Coelho - como uma condição prévia e necessária para o desenvolvimento. Na verdade, isso foi nítido no famigerado programa de Governo da defunta coligação ‘Portugal para a Frente’: Uma reposição lenta dos cortes salariais, das pensões, do fim das sobretaxas fiscais, das regalias sociais, etc. versus uma aceleração da transferência da riqueza gerada para os mercados financeiros antecipando, por exemplo, os pagamentos ao FMI.
 
A elucubração de Passos Coelho sobre o crescimento não tem nada a ver com as pessoas. Ela reflecte a ansiedade de satisfazer rapidamente os mercados à custa das pessoas.
 
São mais uma enfática manifestação de diktats neoliberais que pretendem vender submissão como sendo esperança.

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