Passos Coelho, as autárquicas e as suas circunstâncias…
Passos Coelho instado a comentar o período de tréguas (pacto de não-agressão) que o Presidente da República solicitou para a presente campanha das eleições autárquicas em relação aos gravíssimos incidentes dos incêndios e com a finalidade de que a campanha eleitoral decorra de modo tranquilo e digno link, o dirigente do PSD resolveu, novamente, 'desconversar'.
Não aceita uma condição de reserva em relação às tragédias decorrentes dos fogos deste último Verão.
PPC quer, à viva força, prosseguir no aproveitamento político da dramática situação ocorrida. Quer explorar as circunstâncias e magoar (ainda mais) todos aqueles que perderam familiares, amigos e os bens.
Trata-se de alimentar uma cavalgada que atropela a necessária serenidade da análise, da compreensão e das resoluções que foram relevadas, à cabeça, quando inventou ‘os suicídios’ e, logo de seguida, apareceu a insinuar uma eventual ‘ocultação dos mortos’. Finalmente, lança a suspeição de que os donativos recolhidos numa extraordinária campanha de solidariedade possam estar a ser mal utilizados ou desviados.
Não sabe, não dispõe de dados concretos, mas insinua em nome da opaca transparência (passe o contraditório) onde se movimenta. O lema é: tudo o que é feito pelo Governo, tudo o que acontece ou pode vir a acontecer é, à partida, suspeito. Ora aí está o exemplo paradigmático da imagem negativa de uma ‘oposição responsável’. A chicana política não para e é para continuar.
Perante a solicitação de um ‘período de nojo’, solicitado pelo Presidente da República, na introdução na campanha eleitoral de factos em investigação e que respeitaria as profundas feridas criadas pelos incêndios ainda em aberto (à espera dos resultados do ‘inquérito independente’), Passos Coelho, resolve - numa ambivalência que lhe é habitual - desvalorizar à priori os resultados eleitorais que se vierem a registar e, ao mesmo tempo, solicitar vigilância sobre um hipotético período de ‘legislação eleitoralista’ link .
É a isto que se chama ‘desconversar’. Manifesta-se ‘preocupado’ com um hipotético aproveitamento político governamental das eleições. Não aponta qualquer caso concreto. Parece possuir uma ideia peregrina do ato eleitoral, para consumo interno, muito desfasada dos tempos do ‘que se lixem as eleições’.
De facto, excetuando casos pontuais como Lisboa, Porto onde se jogam paradas mais altas com significado em termos de leitura política, as eleições que se aproximam são um ritual democrático, rotineiro e instrumental, que só situações excecionais, como é caso de Loures, adquirem relevância.
Mas onde há problemas políticos graves - como o que se verifica em Loures - o dirigente do PSD opta por um esfíngico e comprometedor silêncio.
Passos Coelho quer esconder a fragilidade na sua liderança partidária e transferir as atenções para outros campos, argumentando receios de que o Governo viole o sentido de ‘neutralidade’ e ‘imparcialidade’ no período eleitoral. Só lhe falta pedir a fiscalização por observadores internacionais.
Todavia, não se inibe de introduzir, despudoradamente, nesse mesmo período, os preparativos de uma anunciada disputa partidária.
Na realidade, o penoso deambular de Passos Coelho revela a dimensão (e a confusão) da Oposição no atual momento.
Recentemente, incinerou Miguel Relvas, colou-se ao cadáver político de Cavaco, subscreveu a ‘peixeirada’ de Rangel acerca de um apocalíptico ‘estado salarial’ em contraponto com o social e continua a navegar ao sabor dos ventos e do efémero.
Sobre os problemas políticos relevantes do momento político nacional, como é o caso do Orçamento de Estado de 2018, nada adianta.
Nada, não é bem assim, já se ‘estampou’ na questão fiscal. É contra a (re)introdução de mais escalões no IRS. Defende - fora de todo o contexto atual - o espartilho que Vítor Gaspar introduziu na progressividade dos impostos, esmagando os escalões.
Ou muito me engano ou já está a preparar as exéquias fúnebres da sua liderança… O seu deambular pelo País em apoio as candidaturas do seu partido tem um pungente ar de despedida.
O anunciado ‘diabo’ poderá estar a chegar com 1 ano de atraso. Mas em vez de ‘esmifrar’ a governação como acalentava o dirigente do PSD, o mafarrico entrou-lhe pela porta das traseiras e instalou-se no armário do seu escritório.
No início do mandato Marcelo Rebelo de Sousa definiu as eleições autárquicas como um eventual ponto de viragem política da presente legislatura. Ele aí está. O novo é que, de concreto, existe uma estabilidade política e social na governação e esta inusitada turbulência na Oposição.
A viragem está, portanto, em franco andamento, mas poderá não ser exactamente a prevista, isto é, a reconstrução do ‘Bloco Central’…
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