A greve da enfermagem e a agitação miguelista

A necessidade de criar ruído sobre as notícias que chegam no campo económico levam esta direita ao desespero e à insensatez.

Os mesmos partidos que destruíram as carreiras médicas e de enfermagem são hoje os instigadores da contestação dos enfermeiros, atirados para uma greve selvagem, ilegal e imoral, onde acabarão por ser vítimas.

Nem todas as greves são legítimas e nem todas as reivindicações são realistas. A greve dos enfermeiros foi convocada pelas televisões e, pasme-se, assumiu a sua liderança a… bastonária, a enfermeira que declarou conhecer vários casos de eutanásia praticada por médicos e acabou a dar o dito por não dito, e não distingue a Ordem dos sindicatos.

As televisões fizeram o frete à direita, ao serviço de quem se encontram, com a greve de enfermeiros, à semelhança do que fizeram com as manifestações dos colégios, a cheirar a incenso e orientadas das sacristias, exibindo permanentemente as roupinhas amarelas. Precisavam da greve, agora que se lhe acabaram os incêndios.

Esta greve ilegal não cumpriu sequer os serviços mínimos a que legalmente é obrigada, para não falar da ética, dignidade profissional e respeito pela vida humana.

Ontem, um amigo meu, do foro da oncologia, com metástases disseminadas, foi ao CHUC a fazer uma TAC para decisão terapêutica urgente. A ausência de enfermeiros impediu o exame que, segundo julgo, no caso da oncologia, é considerado um serviço mínimo que a lei exige. E não foi assegurado.

A surpresa e indignação com a afirmação de um partido com que simpatizo, ao afirmar que esta greve é «justíssima», colide com a exigência de duplicação dos vencimentos, a realização da greve enquanto o sindicato negociava com o Governo e que, envolvido na onda provocada pelas televisões, acabou a envolver-se no movimento que a bastonária dirige.

Digam-me honestamente se é ser de esquerda, exigir uma duplicação dos vencimentos, num país onde uma sábia e honrada gestão dos recursos tem tirado o País do fosso onde a direita o enterrou.

Esta greve tem um vago cheiro à dos camionistas do Chile, no tempo de Allende, mas são diferentes os tempos e a latitude. Sou contra esta greve laranja, apesar de reconhecer e saber bem quanto mal o governo PSD/CDS fez ao SNS e aos profissionais de saúde.

Muitos enfermeiros não sabem! Não sabem, sequer, que o PSD e o CDS votaram contra a criação do SNS.

Comentários

e-pá! disse…
Sobre as reivindicações dos enfermeiros é certo que existem distorções e enviesamentos na sua carreira no serviço público. Esta deverá ser a primeira constatação acerca deste assunto. Mas é, também, necessário reconhecer que essas anomalias são transversais a todos os profissionais de saúde que trabalham no SNS. O regime de carreiras num serviço público – como é o caso do SNS – deve ser concebido para todos os trabalhadores do SNS (médicos, enfermeiros, gestores, técnicos auxiliares de diagnóstico, assistentes operacionais, etc.), coordenada e concertadamente, definindo um caminho coerente com as necessidades de uma boa resposta do sector público, equilibrando os desempenhos e competências (definindo 'atos técnicos') e, finalmente, que abarque tudo e todos.
Em complementaridade com este ‘regime geral’ (que tem sido sistematicamente contornado) deveria ser especificado um conjunto de especificidades respeitantes a cada grupo profissional, tarefa eminentemente do foro sindical e da negociação coletiva de contratos de trabalho.

A ‘luta dos enfermeiros’ aparece aos olhos do público como sendo uma antecipação que muito dificilmente sacode a imagem de um oportunismo imediatista tecido à volta de uma eventual ‘abertura orçamental’. Os problemas dos recursos humanos no SNS não se resumem, nem se concentram, na carreira de enfermagem por mais empolgações que se façam na comunicação social. Nestes últimos tempos temos assistido a afirmações que chocam com a realidade. Todos sabemos que os enfermeiros não são o pilar fundamental do SNS, ideia que se tentou transmitir assente em pressupostos quantitativos. Existem outros profissionais de saúde e todos - mas mesmo todos - são necessários e fundamentais. E a prossecução de reivindicações ‘corporativas’, feita sectorialmente, venham donde vierem, não pode ser resolvida pela tutela ‘a retalho’ sob pena de criar novas e insanáveis distorções.

Sob a empolgação desta situação há muito por descortinar.
Mas não serão estranhas duas coisas: a discussão do OE e a oportunista colagem da Direita a reivindicações que nunca acolheria se estivesse no poder.

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