Cavaco e os partidos
Desde que lhe correram mal as aplicações financeiras na Sociedade Lusa de Negócios que Cavaco Silva exibe um azedume, que lhe era alheio, e um ar vingativo que não se coaduna com o exercício do cargo nem com o desafogo que várias reformas, juntas ao vencimento de PR, certamente lhe asseguram.
É verdade que ninguém gosta de ver constituir arguidos os amigos. Percebe-se, pois, a solidariedade e o desgosto, mas não se vislumbra razão para as sucessivas intromissões partidárias e o ar arreliado para com os políticos, como se ele próprio fosse um monge budista e não um deles.
Nesta última sexta-feira apareceu na televisão a dizer que não faria declarações políticas pois não deixariam de ser aproveitadas para a luta partidária mas, logo a seguir, afirmou que está atento e não deixará de actuar, se for necessário. Como não se vislumbra que tenha a veleidade ou a coragem de se intrometer na vida dos partidos, com a Assembleia da República de férias, só pode visar o Governo o que o coloca como rival e lhe diminui a dignidade com que devia tentar acabar o mandato.
Para quem não queria falar de política, também pareceu excessiva e inoportuna a queixa sobre a não recondução do Dr. João Lobo Antunes na comissão de ética cuja extinção seria mais benéfica do que a sua manutenção. Pior, tratando-se do mandatário da sua candidatura à presidência da República fica a ideia de que o movem interesses pessoais, o que se presume ser falso, para proteger o amigo cuja nomeação cabe a um órgão com legitimidade igual à sua e sobre o qual não tem o direito de exercer pressão.
Resta-nos a consolação de sabermos que as listas do PSD foram da responsabilidade de Manuela Ferreira Leite e que o PR nunca teria avalizado a integração de candidatos com acusação deduzida em processos onde são arguidos.
De qualquer modo começa a alastrar a impressão de que o Poço de Boliqueime perdeu um bom vendedor de combustíveis e Belém podia ter melhor inquilino.
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abraço