Genocídio, expurgo ou depuração?
O presidente da Associação das PME, Joaquim Cunha, denunciou a perda de 150 mil empresários, em Portugal, nos últimos quatro anos.
Classificou este facto como um “genocídio empresarial”.
Joaquim Cunha, não se deu ao trabalho de referir as perdas anuais e se esta circunstância foi acelerada ou intensificada desde 2008, ano em que a recessão atingiu duramente o nosso País.
Não investigou se grande número de insolvências se deve a má gestão, ou pior, ao aproveitamento da ocasião para encerramentos fraudulentos. Não se refere também, para o mesmo período, ao número de novas empresas que entretanto surgiram.
Prefere antes aproveitar a oportunidade para atacar o Governo e não explicitar as possíveis razões porque o crédito bancário caiu 10%.
A actual queda de 10% na atribuição de créditos, dificilmente justifica o desaparecimento de cerca de 37.5% dos empresários. Há aqui uma enorme desconformidade.
Provavelmente, o que se está a verificar, é um maior rigor na atribuição de crédito por parte das instituições bancárias e um mais aprofundado estudo do factores de risco.
Ou, ainda, da inexistência de projectos de investimento com viabilidade económica. Atirar dinheiro para cima de problemas insolúveis não é um critério de investimento válido, com vista à recuperação económica.
Em Coimbra a recente situação do encerramento da Marcopolo, mostra como as empresas não estão receptivas a qualquer reconversão. A administração da Marcopolo não quer negociar com um eventual investidor belga. Quer pura e simplesmente encerrar e considera essa decisão “irrevogável”…
Senhor Joaquim Cunha deveria debruçar sobre o ranking dos empresários portugueses no capítulo da inovação e competitividade, dentro da UE, antes de tirar conclusões apressadas.
Porque, qualquer cidadão, embora lamentando estes encerramentos de empresas, quanto mais não seja pelo desastroso rebate social (contributo para aumentar a taxa de desemprego), continuará a questionar se – em vez de "genocídio" – o tecido empresarial nacional não estará a ser objecto de um expurgo ou de uma implacável depuração, promovida pela lógica capitalista de cariz neo-liberal. Isto é, o mercado livre – que não quer submeter-se a qualquer regulação – a funcionar. Mal, como todos já constatamos...
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