Manuela Ferreira Leite
Manuela Ferreira Leite foi a Conselheira de Estado dispensada para presidir ao PSD e reunir a boa moeda que restava fora do mundo dos negócios, do enriquecimento rápido e da mira da Justiça. Tinha à sua espera um partido amortalhado por Barroso e Santana, dilacerado por rivalidades entre caciques, entregue a autarcas à solta e ferido pela gente que Paulo Portas impôs aos Governos de coligação. Por isso fugiram os que prestavam.
Na amálgama de interesses pessoais digladiam-se liberais e conservadores, salazaristas reciclados e fascistas contumazes, sociais-democratas e populistas. O Eixo do Bem não existe. São incompatíveis os que querem privatizar a CGD e os que julgam que a gestão de um banco é semelhante à da feira do Relógio e inconciliáveis os jovens quadros com a velha tralha cavaquista.
Da Marmeleira vem o pensamento e de Belém a estratégia mas o passado e os interesses não se vergam a um módico de coerência e racionalidade enquanto do largo do Caldas saem propostas racistas e xenófobas com a ameaça de venderem cara uma coligação.
Em período de vacas magras cada excluído é um adversário temível. Não está em causa o partido, é o emprego próprio que urge assegurar e compromissos com os amigos que é preciso honrar. Este drama que atravessa todos os partidos assume no PSD a pungência de quem despede líderes à espera de um D. Sebastião que assegure o abono de família.
É neste contexto que vem à tona o passado político medíocre de MFL como ministra da Educação e desastroso nas Finanças. E a aura de seriedade, legítima, aliás, esbarra com o pagamento de favores a António Preto, o homem da mala, certamente impoluto mas capaz de engessar um braço para evitar a maçada de uma prova caligráfica em tribunal ou de assinar um documento pela esposa para não a distrair das obrigações domésticas.
Pobre mulher, capaz de preferir uma gripe ao Chão da Lagoa mas incapaz de privar da bebida e dos vivas a Salazar o eterno presidente da Madeira, um ex-professor do ensino secundário que não prescindiu da reforma completa que no Continente o actual Governo amputou de dois terços, com a excepção das várias reformas do Presidente da República e das que eventualmente possam caber ao presidente da AR.
MFL é uma mulher sem programa, sem ideias, sem discurso, incapaz de galvanizar os indefectíveis, quanto mais os indecisos. Tem a seu lado o PR que lhe dá votos mas lhe tolhe o prestígio, António Preto que pode ajudar financeiramente mas lhe retira votos e credibilidade, Alberto João Jardim que põe a Madeira a votar nela e o Continente contra ele, e, finalmente, Pacheco Pereira que, apesar de ser um intelectual, ou talvez por isso, traz para as eleições o seu próprio voto.
O próximo Governo, sem maioria sólida, nunca resolverá os problemas do país e só terá a oportunidade de os agravar. A gripe A acabará por ampliar as dificuldades. Dentro de dois anos teremos de novo eleições legislativas. Esperemos que surja um presidente da República à altura das circunstâncias.
Comentários
Excelente texto onde se enquadra MFL nas próximas eleições Legislativas.
De facto, as listas de candidatos do PSD às Legislativas - para quem não possui meios, nem competência para "espiar" - mais parecem uma remarquable reprise de obsoletos sobreviventes do velho cavaquismo dos anos 80/90, dos seus descendentes biológicos ou de anódinos filhotes por adopção política, onde tudo o que poderia ser inovação ficou de fora e tudo o que aparenta ser novo estaria embalsamado na tumba dos tabus do patrono...
Não ousando esperar que venha a ser acusado de espionagem, nem possuir provas concludentes sobre as minhas subjectivas impressões, tenho a penosa sensação de que, essas listas, foram congeminadas numa vivenda da Galé, esta sim, permanentemente vigiada pela GNR de Albufeira...
Terá sido assim ou será uma terrivel alienação gerada pelo déjà vu?
Obrigado, abraço
E não é flor que se cheire.